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Lucas Fernandes tem consulta para ficar em Portugal e aguarda posição do SP

Lucas Fernandes (à esquerda), em jogo entre Portimonense e Porto - Miguel Riopa/AFP
Lucas Fernandes (à esquerda), em jogo entre Portimonense e Porto Imagem: Miguel Riopa/AFP

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, de Lisboa (POR)

02/05/2019 04h00

Quando a seleção brasileira enfrentou o Panamá no Porto, em Portugal, no fim de março, o meia Lucas Fernandes aproveitou a parada para a data Fifa e viajou ao lado do colega Paulinho Bóia até o norte do país para reencontrar ex-companheiros de base no São Paulo, como Éder Militão e David Neres. Atualmente emprestado pelo clube tricolor ao Portimonense, a revelação de 21 anos tem aproveitado a sua primeira experiência fora do país.

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O sonho, claro, passa por seguir os passos de Militão, Neres e outros para entrar no radar dos grandes do velho continente.

Para isso, ao deixar a Barra Funda, ele tinha consciência de que era preciso atingir primeiro um objetivo: jogar com regularidade. E não dá para dizer que não tenha conseguido, especialmente, na segunda parte da temporada. Com um toque refinado na bola, passe preciso e esbanjando técnica, virou um dos destaques do Portimonense.

No time que fica na região paradisíaca do Algarve e pertence ao investidor brasileiro Teodoro Fonseca, que cuidou, entre outros, da carreira do atacante Hulk, Lucas Fernandes recuou um pouco mais em campo, atuando como segundo volante. Desta forma, o ex-são-paulino vem agradando.

"Mais ou menos no último dia da janela de transferências de agosto do ano passado, tive uma conversa com (Diego) Aguirre (então técnico do São Paulo), não estava sendo utilizado. Ele foi muito franco, abriu o jogo comigo e disse que, se conseguisse algo legal para mim, poderia ir. O Téo, então abriu, as portas aqui", conta ao UOL Esporte.

"No fim das contas, está sendo muito importante para mim porque tenho jogado, vim em busca disso, pegar mais rodagem e experiência. E tudo isso num clube com diversos brasileiros tanto no elenco como na diretoria", prossegue.

Ao todo, foram 27 partidas disputadas pelo meio-campista até o momento.

Entre outros, ele já teve o seu nome ligado a uma possível transferência no meio do ano para Porto e Sporting. Além disso, recebeu consulta para seguir no Portimonense, que tem crescido cada vez mais, investindo em estrutura e não escondendo o seu papel de vitrine para catapultar talentos no mercado.

Destaque absoluto da equipe, o japonês Shoya Nakajima foi vendido ao Qatar por 35 milhões de euros (R$ 150 milhões) em janeiro e tem o seu futuro ventilado no PSG. A fórmula do clube alvinegro é comprar barato para vender caro. Em suas anotações, Lucas Fernandes carrega potencial para crescer ainda mais.

"É preciso esperar acabar o campeonato, fazer esses três jogos que faltam para manter o Portimonense na primeira divisão e ver o que será resolvido. Ainda não tenho certeza do que acontecerá. Deixo nas mãos das diretorias. O pessoal do Portimonense falou comigo que querem me manter, perguntaram se eu gostaria e agora temos que ver com o São Paulo", afirma.

"Essa é uma decisão complicada, envolve muitos fatores, mas tem dois lados: por um deles, todo garoto de Cotia sonha em atuar no profissional do São Paulo e ganhar títulos importantes, enquanto que, por outro, a oportunidade de jogar na Europa não é para qualquer um", acrescenta.

"Ao longo de todo esse tempo que estou aqui, ninguém do São Paulo me procurou ou conversou comigo. Se me monitoram, deve ser à distância, mesmo", completa.

Morando em hotel

Caso a decisão final leve a uma mudança de ares, o camisa 25 do Portimonense terá de devolver o cartão do quarto de hotel que ocupa desde que desembarcou em Portimão no último semestre e readaptar os seus passos no dia a dia. É uma rotina que, segundo ele, recorda um pouco a que mantinha em Cotia, centro de treinamento da base do tricolor paulista.

"Quando eu cheguei aqui, o Bóia já estava, então, como ele morava em um hotel, acabei pedindo para ficar com ele. Dividimos o quarto por um tempo e depois ele foi morar sozinho. Como era por um tempo determinado, eu sigo no mesmo hotel", relata.

"Para mim, é tranquilo demais, estou muito acostumado. Morei bastante dentro do próprio CT, não tenho problema em viver num quarto e, como vim sozinho e sem ninguém da família, preferi ficar. O melhor lado é que tenho tudo aqui e não preciso nem me preocupar em arrumar cama", continua, aos risos.

A suíte é paga pelo próprio Portimonense.

"Eu ando mais com o Bóia. Ficamos muito tempo juntos em Cotia e na Barra Funda. A gente treina pela manhã e, como é uma cidade praiana, às vezes damos uma volta pela praia quando está sol à tarde, não tem muito o que fazer. É impressionante porque a sensação é que tem sempre mais turistas do que moradores de Portugal mesmo, uma galera falando inglês para cima e para baixo", descreve.

Conduzindo a bola mais de trás

Não foi apenas o inglês que chamou a atenção logo de cara para Lucas Fernandes. Fisgado na tradicional escolinha do Moreira, em São José dos Campos, que revelou, entre outros, o volante Casemiro e o atacante Ricardo Goulart, ele sofreu em seus primeiros meses para compreender o sotaque português no novo país.

"É uma resenha diferente. No começo, foi um pouco difícil, eles falam rápidos e palavras com as quais você não está acostumado. Não sou mais meio-campo. Sou médio", brinca.

Um 'médio' com mais responsabilidades defensivas, mas que não perdeu o toque de classe que sempre encantou na base são-paulina.

"Ao vir para aqui, achei um pouco mais diferente a questão tática. É um futebol mais pensado, enquanto que no Brasil se baseia mais na pura técnica. Um detalhe que pude aprimorar bastante é o posicionamento, eles trabalham muito forte e cobram também. No fim das contas, virei um segundo volante, com orientação para não abandonar posição e evitar correr tanto de um lado para o outro", analisa.

Lucas Fernandes tem contrato com o São Paulo até dezembro de 2021.