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Como ida de Militão para lateral afetou a briga pelo título em Portugal

Reprodução/Twitter
Imagem: Reprodução/Twitter

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, de Lisboa (POR)

16/05/2019 04h00

No próximo sábado, o Benfica entra em campo precisando apenas de um empate contra o Santa Clara, em casa, para conquistar a Liga Portuguesa. Dois pontos atrás na tabela, caberá ao Porto rezar por uma derrota e fazer o seu papel contra o Sporting, diante de sua torcida. Não era esse, no entanto, o cenário que se desenhava para o campeonato na virada do ano. Para a maioria, existe um antes e depois nessa briga: a ida de Éder Militão para a lateral.

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Como forma de acomodar o experiente Pepe após o seu retorno ao Estádio do Dragão em janeiro, o técnico Sérgio Conceição resolveu deslocar Militão do miolo da zaga para a direita, desfazendo a dupla com Felipe que embalava o sucesso do clube.

No fim das contas, esse acabou se provando o momento de 'ruptura' para o Porto em sua campanha.

Até então, a equipe liderava a classificação, com cinco pontos de vantagem sobre o Benfica, e sobrava dentro do país.

Com os rivais lisboetas em crise e dando a temporada como perdida naquela altura, o bicampeonato soava como cada vez mais provável. Essa confiança era reforçada, especialmente, pela adaptação relâmpago de Militão, que estreou vindo do São Paulo na quarta rodada.

Nos 14 compromissos seguintes pela Liga Portuguesa, o brasileiro liderou a zaga do Porto ao lado de Felipe, permitindo que ela fosse vazada somente cinco vezes (Benfica, Portimonense, Santa Clara, Rio Ave e Nacional, cada um).

Depois de uma arrancada que viu essa marca negativa ser atingida em três rodadas, incluindo derrota para o Vitória de Guimarães, não restava dúvida de que Conceição havia encontrado no destaque de 21 anos a peça que faltava para a sua engrenagem.

O treinador deixou esses números de lado, contudo, para abrir espaço para Pepe em sua escalação. Nos primeiros dez confrontos com a referência de 36 anos de volta, a equipe sofreu sete gols e viu a sua série de 26 partidas invicta chegar ao fim. Ao mesmo tempo, Militão não conseguia fazer o seu jogo fluir pela lateral, com dificuldades para se soltar e atrapalhando, sobretudo, na dinâmica ofensiva.

Pressionado, Sérgio Conceição disparou até mesmo contra o treinador da seleção brasileira, Tite, que revelou a sua predileção por ver seu atleta como zagueiro, e 'bateu' na mesa ao ser questionado por repórteres.

"Não pegamos um jogador que jogava de zagueiro e o mandamos para a lateral. Aqui, tudo é trabalhado e estudado ao pormenor", rebateu.

Excesso de teimosia?

Depois do empate recente em 2 a 2 com o Rio Ave, que permitiu ao Benfica saltar à frente na ponta, Conceição, enfim, deu o braço a torcer. Nas últimas duas partidas, Militão e Felipe voltaram a atuar lado a lado, com Pepe sendo deixado no banco. E o detalhe: nenhuma bola passou mais.

A mudança teria vindo tarde demais na disputa pelo título?

"Sem surpresa, Militão foi o melhor reforço da Liga Portuguesa e logo cedo se percebeu que estaria de passagem. Tem características ímpares e impôs-se com naturalidade, formando uma dupla de respeito com Felipe no miolo defensivo. Em muitos jogos, os dois foram decisivos pela forma como permitiram segurar vantagens", analisa Tomás da Cunha, comentarista da Eleven Sports, ao UOL Esporte.

"Com Pepe no plantel, Conceição desfez essa parceria de sucesso e a solução encontrada para manter os três no onze titular foi passar Militão para a direita. Se pesarmos os prós e contras, não parece ter sido uma ideia benéfica para a equipe, que anteriormente conquistou 18 vitórias consecutivas. Perdeu segurança defensiva, ficou sem o elemento mais capaz na construção no corredor central e não ganhou um lateral direito desequilibrador", acrescenta.

Essa visão é compartilhada pelo jornalista Luís Cristóvão, que ressalta a versatilidade do brasileiro, mas deixa claro que, ao contrário do que se via no São Paulo, ele não apresentou a mesma qualidade mais aberto.

"Acredito que Éder Militão foi contratado com a ideia de poder jogar como lateral, mas a lesão de Mbemba (zagueiro congolês) abriu vaga no corredor central, onde o ele se sobressai, de fato, como um atleta de nível mundial. No mercado de inverno, no entanto, o Porto teve a oportunidade de assinar com o Pepe e aproveitou. Essa decisão fez com que o Éder voltasse à lateral, o que acabou prejudicando as dinâmicas defensivas do time", completa Cristóvão, que trabalha para a SIC Notícias, Eleven Sports, Antena 1 e Expresso.

Em capa recente, o jornal O Jogo estampou manchete destacando a melhora do Porto com o ex-são-paulino mais uma vez ao lado de Felipe. "Militão é a chave do eixo", escreveu. Os números estavam todos à mostra. Possivelmente, menos para Conceição, que se despedirá neste fim de semana do camisa 3 antes de sua ida para o Real Madrid.