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Seleção exalta renovação, mas Tite mantém convicção e aposta em experiência

Danilo Lavieri e Pedro Lopes

Do UOL, no Rio de Janeiro e em São Paulo*

17/05/2019 20h00

O coordenador técnico Edu Gaspar abriu a convocação da seleção brasileira para a Copa América exaltando o processo de renovação promovido no pós-Copa. Ao longo dos oito amistosos disputados, foram 44 convocações, sendo 24 atletas que não disputaram a Copa do Mundo de 2018, na Rússia. Em parte pelas convicções de Tite, em parte pela dificuldade em encontrar alternativas jovens no curto espaço de tempo, a lista final, entretanto, aposta na experiência e em jogadores com histórico consolidado vestindo a camisa do Brasil.

A dificuldade em promover a renovação é evidente no setor defensivo, com as presenças de Miranda e Thiago Silva, ambos com 34 anos. No setor, os dois tem a companhia de Marquinhos, com 25 anos mas bagagem de mais de 30 jogos pela seleção. Éder Militão completou a lista como opção para o futuro, com apenas 21 anos.

A média de idade do grupo dos 23 convocados é de pouco mais de 27 anos, enquanto o grupo da Copa do Mundo da Rússia ultrapassava por pouco a casa dos 28.

Renovação maior com Mano e Dunga

A diferença entre as duas competições é a menor nos últimos três ciclos. Entre Mundial de 2014 e Copa América de 2015, Dunga rejuvenesceu o elenco de Felipão em quase dois anos, baixando da casa dos 28 para pouco mais de 26. Já em 2011, a diferença se mostrou mais bruta: quase 26 em comparação ao número próximo dos 29 anos da Copa de 2010.

A opção pela experiência na zaga se justifica, em parte, pela falta de alternativas jovens que tenham sido testadas pela comissão técnica. Nomes que tiveram oportunidades nos amistosos, como Geromel, Felipe, Dedé e Pablo já ultrapassaram a barreira dos 27 anos. Um fenômeno parecido é evidente nas laterais. A direita teve o retorno do experiente Daniel Alves, de 35 anos. Danilo, o jogador mais jovem (27) e com presença constante em convocações, foi preterido em favor de Fagner, que tem 29 anos.

Na esquerda, Filipe Luís é outro veterano a integrar o grupo, com 33 anos. Marcelo ficou de fora, e Alex Sandro foi convocado. Alex Telles (26), alternativa mais evidente em caso de opção por uma renovação mais radical, não foi chamado. A média de idade do setor defensivo brasileiro, entre titulares e reservas, é de quase 30 anos - 29,9.

Se a escolha por experiência na defesa se explica parcialmente pela oferta de opções, no meio Tite deixou claro que não abre mão de sua forma de pensar. Em grande fase no Liverpool, Fabinho, de 25 anos, não foi chamado. O comandante brasileiro optou por Fernandinho, de 34 anos. Marcado pelo gol contra na eliminação brasileira diante da Bélgica, na Rússia, o volante chegou a pedir para não ser convocado logo depois do Mundial, mas uma conversa franca com o treinador selou a volta.

"Todas as opções estão bem justificadas e bem escolhidas. É dura, mas tem a responsabilidade de decidir. Em relação a Fernandinho, tivemos uma conversa em Londres e ela estava encaminhada. Ao técnico compete medir desempenhos, e essa foi a decisão que tomei. Foi a mais difícil. Quando você abre a possibilidade de novos atletas, aumenta a concorrência. Ela foi incentivada para elevar o nível. Escolher dois volantes entre Casemiro, Fernandinho e Fabinho? É duro. Tem que ter coerência. Não adianta arrumar lugar, não dá", explicou o treinador.

No setor, o veterano terá a companhia de jovens como Paquetá e Arthur. Outros foram testados, como Felipe Anderson e Andreas Pereira, mas não fizeram, na avaliação da comissão, o suficiente para garantir a vaga.

O setor ofensivo é o que traz juventude à seleção de Tite. Richarlison (22) conquistou a comissão técnica desde os primeiros amistosos pós-Copa, em setembro do ano passado, contra EUA e El Salvador, nos EUA. Na reta final, Everton e David Neres garantiram seu espaço, e Vinicius Jr, prejudicado por lesão, ficou fora. No comando ofensivo do Brasil, Neymar e Firmino são os mais experientes, com 27 anos cada.

Mais do que mostrar as filosofias de Tite, a lista deixa clara a preocupação com o resultado na Copa América, que será disputada em casa. A comissão técnica também gosta de ressaltar que faz a renovação por partes e divide em três períodos de observação: curto, médio e longo prazo. É provável que a primeira convocação para os amistosos de setembro, após a competição, tenha ainda mais nomes novos.

Outrora unanimidade depois de reerguer uma seleção que penava nas eliminatórias para 2018, o comandante brasileiro passou a enfrentar os primeiros focos de pressão e contestação depois da eliminação na Rússia, com as experiências nos amistosos causando uma compreensível queda de rendimento da equipe.

O Brasil estreia na Copa América no dia 14 de junho, diante da Bolívia, no Morumbi. Antes disso, disputará dois amistosos, nos dias 5 e 9, diante de Qatar e Honduras.

Veja a lista de convocados:

Goleiros:
Alisson (Liverpool)
Ederson (Manchester City)
Cássio (Corinthians)

Laterais
Daniel Alves (PSG)
Fagner (Corinthians)
Alex Sandro (Juventus)
Filipe Luís (Atlético de Madri)

Zagueiros
Thiago Silva (PSG)
Marquinhos (PSG)
Miranda (Inter de Milão)
Éder Militão (Porto)

Meio-campistas
Casemiro (Real Madrid)
Fernandinho (Manchester City)
Arthur (Barcelona)
Allan (Napoli)
Lucas Paquetá (Milan)
Philippe Coutinho (Barcelona)

Atacantes
Richarlison (Everton)
Gabriel Jesus (Manchester City)
Roberto Firmino (Liverpool)
David Neres (Ajax)
Neymar (PSG)
Everton (Grêmio)

* Colaborou José Edgar de Matos, do UOL, em São Paulo (SP)