Topo

Fluminense

Filho de refugiado do Congo escapa de perseguição na guerra e brilha no Flu

Metinho Silu é filho de refugiado do Congo e joga na base do Fluminense - Mailson Santana
Metinho Silu é filho de refugiado do Congo e joga na base do Fluminense Imagem: Mailson Santana

Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro

21/05/2019 04h00

A trajetória de Abel Silu é similar a de milhões que fogem da República Democrática do Congo em busca de uma vida livre. Em meio à guerra civil que ainda assola o país, o barbeiro viu frequentadores de sua igreja serem perseguidos e mortos por conta de intolerância religiosa. Com uma criança recém nascida no colo, não teve dúvidas: era hora de fugir.

Um tio conseguiu passagens para o Brasil, mas o destino poderia ter sido qualquer outro, conta ele: "importante era sair dali o quanto antes, não importava para onde". Da cidade de Matadi, Abel rumou de avião para São Paulo, levando nos braços um bebê batizado pelo nome de Abemly Metinho Silu. Louco por futebol, o pai pedia aos céus que seu filho homem fosse jogador de futebol. 15 anos depois, as preces de Silu foram atendidas e o volante Metinho, de 16 anos, desponta como um dos maiores talentos do time sub-17 do Fluminense.

Já no Rio de Janeiro, colocou o filho para jogar futsal em um clube de Brás de Pina, subúrbio carioca. O faro de artilheiro chamou a atenção do Madureira, camisa que defendeu ao lado de Samuel e Christian, ambos vítimas da tragédia no Ninho do Urubu. O Vasco esteve a ponto de levar o jovem para São Januário, mas o pai disse que o garoto, tricolor de coração, não aceitou usar as cores de um rival.

Metinho, do Flu - Mailson Santana/Fluminense - Mailson Santana/Fluminense
Imagem: Mailson Santana/Fluminense

"Eu vim para escapar da guerra, havia uma perseguição religiosa muito grande na igreja que eu frequentava. Meu tio era diretor de uma escola, tinha amigos padres e surgiu essa possibilidade de vir para o Brasil. Eu sempre ouvi muito a história de que o Santos do Pelé havia parado uma guerra no Congo, e isso me fez torcer para o Brasil nas Copas", recordou Abel, hoje pai de outro menino de 11 anos, ao UOL Esporte.

O sonho paterno de ver o primogênito brilhar no futebol foi construído à base de sacrifícios. Para conseguir levar Metinho aos treinos no Tricolor suburbano, combinou com o dono da barbearia que teria de ter um horário mais flexível. O combinado previa o repasse de 50% de todos os serviços executados para o caixa do salão. A rotina desgastante melhorou com a entrada em cena do Flu. Com contrato de formação assinado com o Tricolor, o garoto, que já tem a nacionalidade brasileira, mora com a família em Xerém, a uma distância curta do local de treinos.

"A gente morava na favela e a polícia parava muito ele. Era mais complicado. Era um sofrimento, mas sempre levava ele para treinar", lembrou ele.

Metinho evita falar em subir para o time profissional, mas não esconde o desejo de defender o time de coração no Maracanã. Sobre o passado, diz não ter lembranças, mas planeja fazer o caminho inverso futuramente.

"Não me lembro do Congo, mas meu pai fala era complicado por conta da guerra. Um dia penso em voltar lá, mas não agora", afirmou

O potencial do congolês é festejado na fábrica de talentos de Xerém. Os treinadores da base tricolor destacam o jogo aéreo, o passe e a chegada na área rival como os pontos fortes do segundo volante, que já vestiu a braçadeira de capitão na equipe sub-15 tricolor.

Inspirada no hino do clube, a família Silu só quer paz, esperança e vigor para seguir em busca de dias ainda melhores. Livre para fazer o que mais ama, o atleta é só alegria:

"Me sinto brasileiro, minha vida foi aqui. Sou muito feliz".

Fluminense