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Ele tinha 110 kg e ainda é lembrado por histórico Palmeiras x Sampaio em 92

Vanderlei Lima*

Do UOL, em Santos (SP)

22/05/2019 12h00

Julho de 1992. Assim como acontece em 2019, o Sampaio Corrêa surgia como adversário do Palmeiras na Copa do Brasil. Ainda no início da Era Parmalat, o time alviverde não encontra dificuldades para avançar de fase: 1 a 0 no Castelão (MA) e 4 a 0 no Parque Antárctica. Ainda assim, os duelos, em especial o que foi realizado na capital paulista, ficaram marcados na história de um dos principais jogadores da história do Sampaio: o folclórico ex-goleiro Juca Baleia.

Na época, Juca Baleia chamou a atenção da imprensa, inicialmente, por conta de seu peso. O próprio ex-jogador revela que tinha 110 kg quando encarou o Palmeiras - e chegou a pesar 120 kg em alguns períodos da carreira. Ainda assim, a agilidade do ex-goleiro e, principalmente, seu posicionamento e sua boa saída do gol renderam comentários positivos a Juca Baleia, um dos poucos destaques do Sampaio na partida. Foram cinco gols sofridos, mas poderia ter sido mais.

"Foi (um jogo que mudou a minha vida), verdade seja dita. Foi daqueles jogos que marcaram. Eu fiquei mais conhecido, a mídia nacional ficou mais em cima... Este duelo contra o Palmeiras foi o mais importante que a gente teve no cenário nacional, até hoje a gente é reconhecido. Falam em Palmeiras e Sampaio Corrêa e lembram da gente. Eu já fiz matéria no Parque Antártica quando estavam construindo o Allianz Parque, para lembrar aquele duelo de 92, e sempre quando vou a São Paulo a gente faz uma matéria. Aquele foi o jogo que marcou mesmo a minha vida, até hoje marca", conta Juca Baleia, hoje aos 60 anos, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Ex-goleiro Juca Baleia no estádio do Pacaembu - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook

Ainda bastante ligado ao futebol, Juca Baleia hoje trabalha como comentarista em São Luís (MA), na Rádio Jovem Pan e na Rede TV. E admite que muita coisa passou em sua cabeça no momento em que o Sampaio Corrêa conheceu o seu adversário nas oitavas de final da Copa do Brasil.

"Quando saiu o sorteio, passou aquele filme. Eu estava falando para os meus amigos aqui: 'vou ver se dou uma passada no meu passado em 92', foi muito bom. O primeiro jogo foi 1 a 0, aqui (em São Luís), aonde a gente fechou o gol. Teve um lance do Carlinhos, meia, na entrada da área, ele chutou firme e eu peguei a bola; o Sorato pensou que ia ter rebote, mas eu peguei a bola. Mas depois teve o gol do Tonhão numa bola chorada, ela passou de fininho do meu corpo, 1 a 0 Palmeiras", recorda Juca, que também tem frescos na memória os lances do segundo jogo.

"Eu lembro de um chute do César Sampaio da entrada da área, lembro também de uma cabeçada que eu peguei daquele ex-jogador do Vasco, o Sorato, deu a cabeçada e eu espalmei para escanteio", diz o ex-jogador, que, apesar dos quatro gols sofridos, foi responsável por grandes defesas na partida realizada no Parque Antárctica (veja o vídeo no início da matéria).

A origem do apelido

Segundo o ex-goleiro que só atuou no Maranhão durante toda carreira, o apelido surgiu ainda no início da carreira, em um time amador. Não é difícil adivinhar o motivo.

Ex-goleiro Juca Baleia posa para foto à frente de imagem de Marcos, ex-Palmeiras - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook
"Eu pesava 110 kg e a torcida pegava no meu pé [risos], muito, muito, e baleia era por causa daquele filme na televisão, Moby Dick, mostrava aquela baleia, e me apelidaram, mas baleia vem de um time amador que eu jogava aqui, e começaram a me chamar de baleia e pegou. Eu cheguei a pesar até 120 kg, mas depois dei uma parada. Mas neste jogo de 92, contra o Palmeiras, eu estava com 110 kg, mas não me sentia assim pesado, não, me sentia levinho", diz.

Juca Baleia, aliás, não era o único apelido destinado ao goleiro. O arqueiro sofria até ofensas racistas de torcidas rivais por conta da sua cor de pele. "Tinham muitos. Por exemplo, naquele tempo não tinha (essa questão de) racismo, os caras me chamavam de macacão, tonel de breu, baleia preta, me chamavam muito de Maguila, mas eu tirava de letra", afirma o ex-goleiro.

Agilidade incomum

Apesar do peso nos três dígitos durante toda a carreira, Juca Baleia surpreendia por conta de sua agilidade. Segundo ele, a prática constante de outros esportes lhe deu movimentos que ajudaram - e muito - a construir a sua carreira profissional como goleiro de futebol.

Ex-goleiro Juca Baleia no estádio do Pacaembu - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook
"A minha agilidade se deu quando eu jogava voleibol, handebol e basquete, eu jogava os três, e precisa ter muita rapidez, por incrível que pareça, e eu tinha muita, treinava bastante, e era novo, mas, na verdade, tinha muita colocação. Posso dizer que o que eu tinha de bom mesmo é que eu me colocava muito bem, e a bola ia aonde eu estava. E tinha facilidade de sair do gol, todos os treinadores que chegavam viam essa minha virtude, e as pessoas falavam: 'Pô, com todo esse tamanho, como consegue'? É porque eu me colocava bem, o meu forte era minha saída de gol, e o voleibol, basquete e handebol me deram muito essa agilidade, principalmente o vôlei, pela impulsão", explica Juca, que se tornou um dos grandes ídolos do Sampaio Corrêa.

"Eu posso dizer que eu estou imbuído neste hall dos maiores que já passaram pelo futebol maranhense e no Sampaio Corrêa. Até hoje sou lembrado e, acima de tudo, o importante é o respeito que até a torcida tem comigo até hoje, isso me marca muito. Aonde eu passo, no Estado todo, aí em São Paulo... No ano passado, por exemplo, eu fui para São Paulo e estava saindo com um amigo, e cheguei num bar e o rapaz falou: 'Você lembra desse aqui'? E contou a história de Palmeiras e Sampaio Corrêa, e o cara: 'Ah, Juca Baleia, aquele que jogou contra o Palmeiras em 92', então esse reconhecimento é que é bom", acrescenta.

O que esperar do novo confronto?

Nesse mês de maio, Palmeiras e Sampaio Corrêa voltam a se enfrentar, duas vezes. O primeiro duelo das oitavas de final acontece na noite de hoje, no Castelão (MA), às 19h15. A volta está marcada para o dia 30, uma quinta-feira, no Allianz Parque - ou, para Juca Baleia, o inesquecível Parque Antárctica. Mas o que será que o ex-goleiro espera para o confronto?

"O Palmeiras tem três equipes, e as três são boas. Vamos esperar o trabalho que o Julinho Camargo está fazendo; ele está montando a equipe. A gente pensa aqui: 'Será que vai confrontar com o Palmeiras'? A gente sabe que é difícil, mas o futebol mostra que tem muitas surpresas. Quem sabe surge a surpresa?", diz.

Juca "puxa orelha" de atual goleiro do time

Ex-goleiro Juca Baleia com time máster do Sampaio Corrêa - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook
Aos 25 anos, Andrey está no Sampaio Corrêa desde o ano passado. Para Juca Baleia, um goleiro completo e candidato a ser um dos melhores do país. Para isso, porém, precisa colocar a cabeça no lugar.

"Eu posso dizer, com confiança, que o Andrey, hoje, para mim, se não tivesse a cabecinha meia atravessada, era para ser um dos melhores goleiros do país. Ele pega muito, e na transmissão da rádio aqui eu já disse isso. Ele é completo: sai bem do gol, tem uma colocação muito boa, mas tem umas coisinhas fora de campo que atrapalham a vida dele. É aquela coisa de não se resguardar, porque ele sabe que é pessoa pública; você é conhecido e está num local que não é apropriado, aí os caras já falam: 'Pô, vi o Andrey ali, vi o Juca Baleia ali', e aquilo vai inflamando. Isso atrapalha, mas o Andrey é o titular, é um baita de um goleiro", completa.

* Colaborou Marcello De Vico