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Punido na Fifa, Del Nero levará caso para tribunal supremo do esporte

Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF - Marcelo Sayão/EFE
Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF Imagem: Marcelo Sayão/EFE

Jamil Chade

Colabração para o UOL, em Genebra

27/05/2019 15h01

O ex-presidente da CBF Marco Polo del Nero vai recorrer uma vez mais de sua punição e banimento do futebol. Depois de ver seu pedido de recurso negado pelo Corte de Apelação da Fifa, o ex-cartola levará o seu caso diante do Tribunal Arbitral dos Esportes, em Lausanne.

A esperança é de que, fora da Fifa, uma avaliação mais independente seja realizada sobre as provas que existem sobre o brasileiro. Ele insiste que é inocente e que o material até hoje produzido não seria suficiente para provar que ele recebeu dinheiro.

Em 2015, ele foi indiciado por corrupção pela Justiça dos EUA e, desde então, não sai do Brasil. Caso viaje, seria preso e extraditado a uma prisão americana para que enfrente uma corte.

De forma paralela, porém, a Fifa passou a usar os documentos produzidos pelos procuradores americanos para justificar uma ação contra o brasileiro. A principal queixa de Del Nero é de que, por anos, o comitê de ética da entidade máxima do esporte não produziu um só documento independente sobre suas supostas irregularidades e foi apenas em 2017, quando o processo chegou à corte de Nova Iorque, que toda a documentação foi simplesmente importada para Zurique.

Mesmo assim, a Fifa o puniu com uma suspensão vitalícia do futebol, além da imposição de uma multa de US$ 1 milhão (cerca de R$ 4,52 milhões na cotação atual). A entidade alegou que a punição ocorreu diante do resultado dos inquéritos da Justiça dos Estados Unidos que apontaram para suspeitas de corrupção milionária por parte de Del Nero na CBF e na Conmebol.

Em 2018, Del Nero apelou e a entidade do futebol foi obrigada a rever seu processo. No início de 2019, por video-conferência, ele respondeu às autoridades da Fifa durante sete horas.

Ao iniciar sua defesa, Del Nero insistiu que era inocente e que o material usado pela Fifa para o condenar se limitou aos depoimentos de testemunhas que foram ao tribunal de Nova Iorque durante o processo contra José Maria Marin.

A defesa, assim, insistiu que a Fifa havia tomado uma decisão com base em "provas indiretas" e que apenas "assumem" que a corrupção possa ter ocorrido por conta da relação de Del Nero com Marin. Del Nero ainda afirmou desconhecer os encontros que foram citados pelas testemunhas em Nova Iorque, que indicavam para um acerto entre dirigentes sul-americanos.

Os investigadores da Fifa, porém, insistiram na audiência que tinham um caso sólido. O principal argumento era de que os depoimentos prestados em Nova Iorque por mais de uma dezena de pessoas foram usados pela Justiça americana para condenar Marin. A lógica é de que, se esses depoimentos foram suficientes para uma corte em Nova Iorque, também deveriam ser na Fifa.

Os investigadores também argumentam que os dados apresentados à corte americana eram detalhados e que, de fato, mostravam coerência entre os diferentes depoimentos.

Para concluir, os investigadores ainda apontaram como o próprio Marin, ao se defender e tentar evitar uma condenação, insistiu de forma repetida que Del Nero era quem, de fato, tocava os assuntos financeiros da CBF, mesmo quando ele era o presidente. Durante as audiências no ano passado, Marin chegou a dizer que ele era apenas uma figura comparável à rainha da Inglaterra, sem reais poderes.

Na visão dos investigadores, esse fator mostra que mesmo aqueles que estiveram envolvidos no esquema reconheciam o envolvimento de Del Nero.

Derrota

Hoje, porém, o brasileiro sofreu mais uma derrota e a Fifa optou por aceitar apenas a versão dos investidores.

Num comunicado de imprensa, o Comitê de Apelação da Fifa confirmou sua punição, o impedindo a voltar ao esporte e cobrando de fato sua multa milionária. Del Nero é culpado de violar cinco artigos diferentes do Código de Ética da Fifa, entre eles o de corrupção e subornos, conflito de interesse e regras de conduta.

Mas, para sua defesa, existia uma pré-disposição da Fifa em afastar todos os cartolas ainda envolvidos com a operação policial de 2015, num esforço para limpar a imagem da entidade.

O caso agora será levado para o Tribunal Arbitral dos Esportes que, de fato, foi utilizado por Joseph Blatter e Michel Platini para reduzir sua pena.

Uma decisão, porém, pode levar meses para ser anunciada.