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"Me controlei para não desabar", diz repórter assediada em jogo do Inter

Camila Diesel, repórter da Rádio Guaíba - Reprodução/Twitter
Camila Diesel, repórter da Rádio Guaíba Imagem: Reprodução/Twitter

Brunno Carvalho

Do UOL, em São Paulo

01/08/2019 14h54

A repórter Camila Diesel se preparava para o final da transmissão da Rádio Guaíba quando Paolo Guerrero, aos 49 minutos do segundo tempo, invadiu a área e bateu cruzado para garantir a vitória do Internacional por 2 a 0 sobre o Nacional (URU), pelas oitavas de final da Libertadores, ontem (31). Neste momento, um torcedor correu em direção à jornalista e deu um beijo à força em sua bochecha.

"Ele me soltou e eu fiquei atônita. Foi muito perto da minha boca, não esperava, não sabia nem como reagir naquela situação. Parece uma bobagem um beijo na bochecha, mas é muito invasivo. A torcida gritando gol, eu prestando atenção na jornada, com os fones, não tive muito reação na hora. Depois ele passou por mim e ainda me deu um tchauzinho", relatou ao UOL Esporte.

Desde 2016, Camila trabalha como repórter de torcida da Rádio Guaíba. Durante os jogos no Beira-Rio, ela costuma se posicionar nas arquibancadas abaixo das cabines de transmissão para acompanhar a movimentação dos torcedores colorados.

Com a transmissão perto do fim, Camila disse ter precisado se segurar para não desabar com o ocorrido. "Não tinha mais muita coisa que fazer, a gente estava encerrando o jogo. Comecei a pensar sobre aquilo, mas ao mesmo tempo não queria me vitimizar, acho que não é essa a ideia. Comecei a tentar me controlar, para que se tivesse que desabar, desabar depois. Me senti bem mal e ao mesmo tempo a gente fica pensando o que poderia ter feito, se eu deveria ter reagido, por que eu não fiz nada. Mas na hora a gente não consegue pensar muito".

Essa não é a primeira vez que uma repórter da Rádio Guaíba sofre com assédio em transmissões no Beira-Rio. Em abril deste ano, Laura Gross também foi beijada à força por um torcedor enquanto fazia entrevistas.

"Cheguei a pensar em não fazer nada, deixar assim, mas seria mais uma vez, seria mais uma mulher calada, mais uma mulher que não se manifestou. Tanta mulher passa por esse tipo de situação, às vezes até piores, que não tem a voz, não tem a possibilidade de tuitar, de falar sobre isso numa rádio. Achei que deveria fazer isso não por mim, mas por todas nós", prosseguiu Camila Diesel, que diz ter recebido suporte da rádio e do próprio Internacional.

"O vice-presidente João Patrício Herrmann, do Internacional, me ligou se colocando à disposição, para se precisasse ter acesso às câmeras. Me senti com bastante suporte", disse ela.

Mesmo com um pouco de receio após o ocorrido, Camila diz querer continuar trabalhando e lutando para que isso não a desanime. "Eu fiquei com um pouco de receio, porque a gente sempre tem um medo de encontrar a pessoa, fiquei um pouco receosa. Mas duvido que possa acontecer alguma coisa pior em razão disso. Quero continuar trabalhando, continuar fazendo o que eu gosto. Não quero que isso me esmoreça. Só quis usar esse episódio para realmente fazer com que as pessoas se deem conta do que está acontecendo, que é algo triste".

A reportagem tentou entrar em contato com o Internacional, que não respondeu até o fechamento dessa matéria. O texto será atualizado caso o clube se manifeste.