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OPINIÃO

Blogueiros: Ceni age como cartola ao deixar Fortaleza no meio do contrato?

Anderson Lira/Brazil Photo Press/Folhapress
Imagem: Anderson Lira/Brazil Photo Press/Folhapress

Do UOL, em Santos (SP)

12/08/2019 13h17

No último domingo (11), Rogério Ceni oficializou a decisão de deixar o Fortaleza, com quem tinha contrato até o fim do ano, para assumir o comando do Cruzeiro. Nas redes sociais, o técnico postou uma mensagem de despedida longa e emocionante direcionada ao clube e aos torcedores.

Mas a saída de Ceni voltou a abrir uma discussão recorrente relacionada a clubes e técnicos: o treinador agiu como cartola ao deixar o Fortaleza antes do término do vínculo? Existe diferença entre o clube que demite o técnico ou o técnico que deixa o clube? Há alguma diferença ética/moral entre os dois? Veja as opiniões dos blogueiros do UOL Esporte:

ANDRÉ ROCHA: Enquanto a CBF não agir, será cada um por si

Na falta de regulamentação da CBF vale a lei do mercado. É uma questão complexa e o ideal seria que Ceni terminasse a temporada no Fortaleza. Mas quem garante que o clube não demitiria Ceni caso entrasse no Z-4, por exemplo? Se o São Paulo que tem o hoje treinador como ídolo maior foi capaz de dispensá-lo...

Difícil abordar ética em uma disputa profissional que envolve o pragmatismo de aproveitar as oportunidades que surgem. Para contratar ou demitir. Seria necessário normatizar, como impor limites nas transferências de treinadores na Série A. Sem a ação da CBF é cada um por si e aí qualquer nobreza passa longe.

BENJA: Cruzeiro apostou em um grande nome

Rogério Ceni chegou no final de 2017 para ser o treinador do Fortaleza, e foi embora agora em agosto de 2019.

Nesse período ele conquistou a Série B do Brasileirão em 2018, o campeonato cearense e a Copa do Nordeste em 2019, ou seja, ele ganhou tudo o que podia!

Se no São Paulo ele se tonou o maior ídolo da história do clube, no Fortaleza a história se repetiu.

Em maio desse ano fui até Fortaleza entrevistá-lo, e durante algumas horas pude acompanhar de perto o seu trabalho.

Rogério é um profissional obcecado. Chega cedo e vai embora tarde. Estuda e conversa de futebol o tempo inteiro com os seus auxiliares e cobra com intensidade os seus jogadores!

O CT do Fortaleza será um dos grandes legados deixados por ele, além dos títulos, claro! As instalações precárias foram aos poucos sendo melhoradas, e tudo e todos os detalhes tinham o dedo e a voz de Rogério Ceni!

Mas seu ciclo por lá acabou, afinal, ele chegou ao topo!

Agora um novo desafio. Um clube que investiu muito, que possui uma estrutura muito boa, um elenco muito forte, mas que atravessa um péssimo momento tanto dentro de campo quanto fora dele!

Sim, o primeiro objetivo de Rogério Ceni é tirar o Cruzeiro da zona de rebaixamento, onde em 14 jogos foram apenas duas vitórias, mas se o conheço um pouco, suas metas deverão ser bem maiores!

Enfim, o Cruzeiro apostou num grande nome, e Rogério Ceni acreditou num grande clube!

Se tivesse que apostar, não hesitaria em jogar minhas fichas em Rogério Ceni...

BOLÍVIA: Fortaleza tem que ser grato a Ceni

O ideal é sempre começar um projeto no início da temporada. Porém, sabemos das necessidades de se apagar incêndios no meio do campeonato. O Rogério recusou muitos convites, inclusive do Atlético. Por algum motivo, sentiu que era a hora de aceitar a chamada do Cruzeiro. Conquistou tudo que podia com o Fortaleza - acesso, Estadual e Copa do Nordeste. Por mais que não tenha cumprido o contrato até o final, o clube e a torcida devem ser gratos. O desafio em Minas é grande, o problema começa nos bastidores e chega até o campo, ele sabe. E gosta de grandes desafios. Talvez tenha sido exatamente este o fator que motivou a mudança.

JUCA KFOURI: Uma mão suja a outra no futebol

Na absoluta falta de ética que caracteriza as relações entre patrões e empregados no futebol, uma mão suja a outra: uns e outros agem do mesmo modo. É deplorável, mas é assim que é no capitalismo selvagem do país.

JULIO GOMES: É uma relação muito anti-profissional

Rogério Ceni não vai conseguir escapar das críticas por "largar" o Fortaleza no meio do caminho.

Sinceramente, sou incapaz de criticar treinadores em situações assim. Os técnicos precisam deixar muitos clubes na mão, mas MUITOS mesmo, para chegarem perto do que foram deixados na mão historicamente pelos clubes.

É uma relação anti-profissional desde a origem, desde o início dos tempos. Anti-profissional na escolha, anti-profissional nas demissões, anti-profissional nas regras, nos contratos. Quantos técnicos já se deram mal por ter feito o certo eticamente? Lembram-se de Muricy abrindo mão da seleção?

Não estou aqui advogando por "fazer a coisa errada". Quebras contratuais não são coisas erradas, elas são previstas em contrato. É claro que funcionários, quando abandonam o barco de forma repentina, atrapalham muito empresas, negócios, clubes. E o quanto empresas, negócios e clubes atrapalham a vida de famílias inteiras quando, também de forma repentina, decidem demissões sumárias?

Raramente uma empresa irá quebrar ou fechar as portas porque perdeu uma pessoa chave. Já pessoas, em carne e osso, podem sofrer consequências muito mais graves e imediatas quando abandonadas por empresas.

Há regras e há a ética. As regras estão escritas. A ética é de cada um. Mas eu não perco de vista um fato: o lado mais frágil é sempre o da pessoa física.

No caso do futebol, como um punhado de técnicos e jogadores ganham muito dinheiro, tendemos a 'vilanizar' essas pessoas e "vestir a camisa" dos clubes. Quem está do lado de Neymar? Quem está do lado do PSG? A pessoa jurídica, em regra, é o lado forte da relação e, na maioria dos casos, vilão, e não vítima. Em alguns casos, como o que acabei de citar, é o clássico vilão versus vilão, tipo Alien versus Predador. Escolha um lado, mas super-herói não tem ali, não.

Desta vez, neste caso específico e tema do post, o Fortaleza é vítima. (LEIA O POST COMPLETO)

MARCEL RIZZO: Atletas e técnicos deveriam ser tratados como profissionais normais

Acho que há um melindre muito grande no Brasil com relação a saída de técnicos, demitidos ou não. Jogadores e técnicos deveriam ser tratados como profissionais normais, apesar de muitas vezes ocuparem cargos com salários gigantescos e multas atreladas também. Se o trabalho está sendo mal avaliado, por que não demitir? Do mesmo modo, se você recebe uma proposta vantajosa, financeiramente e profissionalmente, por que não aceitar, desde que jogue limpo com seu empregador? Ceni teve uma oferta, aceitou, pagará a multa rescisória e vida que segue.

MAURO CEZAR: Técnicos também têm o direito

Se dirigentes podem demitir treinadores antes do fim de um contrato, eles também têm o direito de deixar os clubes no meio do compromisso, desde que sigam as cláusulas de rescisão

MENON: Nada antiético ou imoral

Considero normal um cartola demitir um treinador, desde que pague todos os direitos devidos.

Considero normal um treinador romper o contrato, desde que o clube seja ressarcido.

Nada antiético ou imoral.

Não sou adepto da tese de um ano de adaptação para que o trabalho do treinador possa ser avaliado.

Quem defende essa tese são os treinadores. E, assim, ao pedir demissão quatro meses antes de o vínculo terminar, Rogério Ceni presta um desserviço ao discurso tão repetido por seus pares.

Leco o demitiu sem respeitar o seu passado. Rogério deixa o Fortaleza um dia antes de um jogo importante.

Ambos estão dentro da lei. Ambos foram deselegantes.

PERRONE: Ceni desiste de uma carreira "ficha limpa"

Acredito que Rogério age com uma visão imediatista, característica da maioria dos cartolas brasileiros. Ele agarrou a chance de treinar um time melhor, ignorando que essa oportunidade poderia aparecer mais adiante. Ceni desiste de construir uma carreira "ficha limpa" como técnico. Manda para o ralo a possibilidade de escrever uma história diferenciada, como diria Juvenal Juvêncio.

PVC: Ceni terá grande desafio no Cruzeiro

Sempre uma pena quando o técnico interrompe o trabalho, porque dá margem a discutir o clube fazer o mesmo. O dia da questão é outro. Só existe time quando existe treino e tempo, portanto. Mas, no Brasil, há também desgaste entre treinadores e jogadores no vestiário. A suspeita é de que Rogério tenha entendido que o desgaste tornaria mais difícil o sucesso que houve no passado recente. O desafio no Cruzeiro é grande, porque Rogério encontrará um clube em sua mais grave crise institucional. Mas terá a chance de tirar do rebaixamento e começar do zero no ano que vem.