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Radialista sugere tornozeleira eletrônica a Cazares e é acusado de racismo

Juan Cazares, meia-atacante do Atlético-MG - Bruno Cantini/Atlético-MG
Juan Cazares, meia-atacante do Atlético-MG Imagem: Bruno Cantini/Atlético-MG

Beatriz Cesarini e Brunno Carvalho

Do UOL, em São Paulo

21/08/2019 04h00

O comentarista e presidente da Rádio Itatiaia, Emanuel Carneiro, causou polêmica ontem (20) ao dizer que o Atlético-MG precisaria colocar uma tornozeleira eletrônica no meia Juan Cazares para "controlá-lo". O comentário veio seguido de uma análise sobre o desempenho do equatoriano nos jogos fora de casa.

"O Cazares sempre joga mal quando o jogo não é em Belo Horizonte. Ele sempre joga mal fora de casa. É uma situação que está se repetindo. Um atleticano antigo falou o seguinte: 'só tem uma solução para o Cazares: bota nele uma tornozeleira eletrônica. Aí vai controlar mais o Cazares'", disse Carneiro.

Nas redes sociais, o radialista foi acusado de ter sido racista ao associar o jogador a um dispositivo usado pela Justiça para controlar prisioneiros. A visão é compartilhada por Marcel Diego Tonini, pesquisador da Universidade de São Paulo e responsável por trabalhos de mestrado e doutorado sobre o tema "Negros no Futebol".

"(A afirmação) É bastante grave. Ele não falaria isso se fosse um dirigente do clube que não permanecesse dentro da concentração ou que não acompanhasse o clube fora de casa. Ele só fez essa declaração porque, primeiro, se trata de um jogador e, até antes disso, pelo fato de ele ser negro. Se fosse branco, ele não falaria isso. Nitidamente é uma declaração racista", disse.

Na opinião do historiador, o caso é um exemplo do que chama de "racismo à brasileira". O termo surgiu após uma pesquisa feita pelo jornal "Folha de S. Paulo" em 1995. Na ocasião, 87% dos entrevistados manifestaram algum preconceito contra negros. No entanto, ao serem questionados, diziam não conhecer nenhuma pessoa racista.

"Tem essa questão do racismo velado, que é uma das características do racismo à brasileira. Mas nesse caso, já chega em um ponto que está explícito. A pessoa fez uma associação direta. Ele só não chega a dizer que o cara é bandido, que jogador negro é bandido... Mas todo o pensamento dele faz qualquer pessoa que ouça pensar isso. Mas ele não falou, então não é racista, entende? Essa é a lógica do racismo à brasileira. É muito grave isso", prossegue.

A opinião de Tonini é semelhante à do jornalista Pedro Borges, do portal "Alma Preta", uma agência de jornalismo especializada na temática racial. Para ele, o comentário só foi feito por se tratar de um jogador negro. Caso o alvo fosse um atleta branco, ela "não teria sentido".

"Acho que temos que fazer uma reflexão sobre por que ele traz isso para o Cazares. Acho que racismo e sexismo são algumas coisas que são tão cruéis que só permitem o riso, só permitem a brincadeira, o sentido cômico se associados a esses grupos. Então você imagina fazer uma brincadeira dessa com outro jogador branco do Atlético-MG. Essa brincadeira não ressoaria, não faria sentido. Logo, ela tiraria o efeito cômico em uma sociedade que naturaliza o racismo", explica.

"Vamos pegar um exemplo. O Alexandre Pato. Não faz sentido essa brincadeira com o Alexandre Pato. É uma brincadeira que só faz sentido com um jogador que corresponde ao perfil e ao estereótipo na sociedade brasileira de um criminoso, que é um jogador negro. O Cazares ainda tem a questão de ser de outro país. Mas nesse ponto o que mais pega mesmo é o determinante racial, o fato de ser um homem negro", completa.

Radialista se justifica em programa

Emanuel Carneiro, presidente da Rádio Itatiaia - Divulgação/Rádio Itatiaia - Divulgação/Rádio Itatiaia
Emanuel Carneiro, presidente da Rádio Itatiaia
Imagem: Divulgação/Rádio Itatiaia

Na edição de ontem (20) do programa vespertino "Turma do Bate-Bola", Emanuel Carneiro pediu a palavra para comentar a polêmica. Na explicação, o radialista chamou a declaração de "quase que uma brincadeira" e criticou o "patrulhamento" nas redes sociais.

"Fizemos quase que uma brincadeira dizendo que o Atlético para cercar os passos fora de campo do Cazares teria que colocar uma tornozeleira nele. Viralizou nas redes sociais de uma maneira, falando de racismo. Nada disso. Rede social exerce um patrulhamento impressionante em cima da opinião, da notícia. Tudo vira uma crítica, uma distorção dos fatos", disse.

Por último, Carneiro voltou a ironizar o comportamento de Cazares. "O Cazares jamais seria criticado aqui, mesmo porque, é um exemplo de profissional e dedicação dentro e fora de campo".

A Rádio Itatiaia disse que não se manifestaria sobre o caso.

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