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Atacante da seleção conta como superou overdose da irmã e abandono dos pais

Ludmila, atacante da seleção brasileira feminina de futebol e do Atlético de Madri - TF-Images/Getty Images
Ludmila, atacante da seleção brasileira feminina de futebol e do Atlético de Madri Imagem: TF-Images/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

25/08/2019 15h25

A atacante da seleção feminina de futebol, Ludmila, concedeu uma longa entrevista ao jornal espanhol "Marca" e analisou diversos aspectos que envolvem sua origem e sua carreira como jogadora. Atualmente defendendo o Atlético de Madri e integrante do grupo que disputou a Copa do Mundo na França, a atleta relembrou a infância difícil que teve e as dificuldades que precisou superar para triunfar no esporte.

"Estive em um orfanato e fui criada pela minha tia. Não tenho muitas recordações, porque minha tia me adotou quando tinha três anos. Entrei no orfanato com um ou dois anos, então é difícil lembrar de algo. Meus pais tinham problemas com álcool. Sei pela minha mãe que meu pai a agredia muito e a nós, os filhos, também, por isso que ela decidiu nos colocar em um orfanato", explicou Ludmila.

A atacante ainda explicou que tenta manter relação com a mãe nos dias de hoje, mas que o carinho não é o mesmo que tem pela tia, que foi a responsável por sua criação. Já o pai morreu antes que Ludmila pudesse conhecê-lo.

"Não é que ela é uma estranha para mim, mas nunca recebi seu carinho, tampouco tive o carinho que tive por parte da minha tia. Tento ser amável com ela, estar por perto, porque também não sei tudo que ela passou. Só Deus sabe essas coisas."

A jogadora ainda explicou que escolheu jogar futebol para escapar de todas as "coisas más" que existiam onde ela cresceu e poder dar uma vida melhor para a tia.

"Queria dar uma vida melhor para ela, mas também queria escapar das coisas ruins, porque onde vivi tinha muito disso: drogas, mal caminho... Sempre escutei dizerem que eu e minha irmã seguiríamos por esse caminho. Não era bom escutar isso, nós já tínhamos a minha mãe e um sentimento ruim. Depois de tudo que minha tia fez por mim, o mínimo que podia fazer era dar alegria para ela", salientou Ludmila, antes de falar sobre sua irmã.

"Minha irmã usava drogas. Ela acabou usando demais e teve overdose. Ela nunca aceitou termos sido abandonadas pelos nossos pais. Na favela existem coisas boas e ruins. Existia o futebol e outras brincadeiras como pega-pega ou esconde-esconde. Tinha como escapar (da criminalidade e das drogas). Mas você começa a seguir pelo mal caminho quando cresce e começa a se comparar com seus amigos: 'ah, se eles fazem isso...'. Minha irmã seguiu por esse caminho, queria mostrar que era dona de sis mesma e acabou se perdendo."

Ludmila é um dos destaques do time feminino do Atlético de Madri - Grant Halverson/International Champions Cup/Getty Images - Grant Halverson/International Champions Cup/Getty Images
Ludmila é um dos destaques do time feminino do Atlético de Madri
Imagem: Grant Halverson/International Champions Cup/Getty Images

Ludmila caiu em depressão após a morte da irmã, que coincidiu com uma lesão no joelho que os médicos tiveram dificuldade para identificar na ocasião. A atleta, no entanto, conseguiu dar a volta por cima. Apesar de nunca ter passado pelas categorias de base de nenhum clube, ela sempre mostrou muito talento com a bola nos pés, tanto que trocou o atletismo, onde começou a praticar esporte, pelos gramados.

"Se tivesse passado por equipes de base, talvez nunca tivesse tanta dificuldade dentro de campo. Aprendi muito, quando cheguei não sabia nada. Saí do Brasil e vim para outro país sem saber o idioma, sem conhecer a cultura, sem saber nada. Foi muito complicado", salientou Ludmila, que destacou já ter evoluído bastante.

"Meus erros quase sempre eram na hora de dar um passe. Quando cheguei ao Atlético, o treinador anterior deve ter pensado que eu não sabia nem dar um passe. Logo se deu conta de que comigo tem que ser na base do treinamento. Se eu treino bastante, melhoro em tudo, porque como nunca estive em uma equipe de base, é mais complicado para mim. Nos treinamentos, começo a exibir mais de mim e acabo melhorando bastante."

Por fim, Ludmila opinou sobre o que falta para que o futebol feminino se aproxime do patamar conquistado pelo futebol masculino. Na opinião da atacante, ter apoio seria uma medida fundamental para o desenvolvimento da modalidade.

"O apoio de mais gente, porque o futebol é de igual para igual, é igual ao dos homens. Qual a diferença? Não sei qual é. Creio que se houvesse mais apoio para as meninas que estão começando, se elas tivessem uma base, e para isso necessitamos de apoio, o esporte avançaria mais", finalizou.