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Startup vende camisas e chuteiras usadas em jogo para reformar escolas

Football for a Cause recolhe doações nos vestiários e vende itens na internet - Divulgação
Football for a Cause recolhe doações nos vestiários e vende itens na internet Imagem: Divulgação

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

28/08/2019 04h00

Uma empresa do Rio de Janeiro quer transformar suor em sonhos e dar um fim nobre a camisetas, chuteiras, calções e meiões usados por jogadores de futebol. A ideia da 'Football For a Cause', uma startup do Rio fundada em 2016, é recolher esses itens pessoais nos vestiários dos clubes, vendê-los na internet e usar metade do valor arrecadado para financiar a construção de escolas e creches pelo Brasil.

A empresa já conseguiu parceria com o Santos e atualmente vende camisetas, chuteiras e tênis usados por jogadores como o meia Soteldo e o goleiro Vanderlei. Metade do valor arrecadado com essas vendas será aplicado na reforma da Casa Vó Benedita, em Santos. A outra metade ficará com a empresa.

A startup foi uma das três vencedoras do Acelera, uma iniciativa da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da FPF (Federação Paulista de Futebol), que premiou ideias inovadoras na última terça-feira (27) em São Paulo. O Acelera é uma competição em que os empreendedores têm cinco minutos para apresentar suas ideias a investidores, que votam nas melhores.

Pela primeira vez, o evento contou apenas com empresas voltadas ao universo do futebol.

A 'Football For a Cause' foi escolhida a melhor startup "pré-operacional" e se destacou entre cerca de 140 outras iniciativas. Fundada pelo engenheiro naval André Georges, a empresa apresentou como seu "case de sucesso" a participação na construção de uma escola no Malaui, na África, feita após doação do zagueiro Luciano Castán, que na época jogava no Stade Brestois 29.

"Minha principal dificuldade é conseguir contato com os clubes", afirma André Georges, que estudava na França quando resolveu tocar o projeto. "Conseguimos a doação de uma camiseta e de um shorts de um jogador reserva de um time da segunda divisão, vendemos e, com o valor arrecadado, conseguimos pagar metade da construção da escola na África, em um projeto dos brasileiros Ebenezer Junior e Clarissa Paz."

Acelera - Adriano Wilkson/UOL - Adriano Wilkson/UOL
Imagem: Adriano Wilkson/UOL

O engenheiro de 26 anos teve a ideia de reaproveitar objetos pessoais de atletas depois de ver torcedores do Barcelona oferecerem até 100 euros por uma garrafa de água usada pelo meia Andrés Iniesta. "Times grandes no Brasil usam de dois a três jogos de uniforme por jogador, por partida, e esse material não tem um destino certo", afirmou o empreendedor quando Paulo Skaf, o presidente da Fiesp, o questionou sobre o potencial de seu negócio.

"Queremos unir a paixão do brasileiro pelo futebol com a necessidade de mudar a realidade da educação do país", disse o engenheiro. Segundo ele, sua ideia permite aos clubes ganhar engajamento com seus torcedores e mídia espontânea graças às reformas das escolas.

Os vencedores do Acelera ganharam, além de um diploma, um notebook da Apple, mas Skaf prometeu a eles um almoço de aproximação com potenciais investidores.

Evento já revelou startup que foi à Olimpíada

Abrigado pela primeira vez na sede da Federação Paulista de Futebol, em São Paulo, o Acelera apresentou dezenas de iniciativas para resolver problemas do futebol, principalmente os vividos por times pequenos e com pouca estrutura. A Gravol Sports, vencedora da categoria "universitário", oferece um sistema de análise de dados a partir da filmagem de jogos, e a Incentiv, campeã "operacional", ajuda empresas interessadas em se beneficiar de leis de incentivo fiscal com o patrocínio de projetos sociais e esportivos.

"Eventos como esse são uma ótima oportunidade para empreendedores trocarem cartões de visita com investidores. Mesmo que eles não vençam a competição, pode surgir o convite para um café, que pode virar uma oportunidade de negócio", afirma Sylvio Gomide, diretor do departamento da micro, pequena e média indústria da Fiesp.

Raimundo - Adriano Wilkson/UOL - Adriano Wilkson/UOL
Imagem: Adriano Wilkson/UOL

Sylvio apontou a empresa Altave, que opera câmeras acopladas a balões de ar, como um dos destaques já revelados pelo Acelera. Vencedora da edição de 2015, a startup de São José dos Campos (SP), foi escolhida no ano seguinte para participar da operação de segurança da Olimpíada do Rio.

Entre as ideias avaliadas na edição de 2019, houve quem apostasse em soluções ultra tecnológicas, como o uso de blockchain para a compra de frações de jogadores revelados em qualquer lugar do mundo, ou mais singelas, como o produto "pé de anjo", um alargador de plástico para abrir a fibra do tecido de meiões e facilitar sua lavagem.

O público aplaudiu a presença do médico cirurgião Raimundo Siebra, que saiu do município do Crato, no interior do Ceará, para apresentar sua invenção: o cubo articulado. Trata-se um cubo mágico cujas peças, estampadas com escudos de clubes de futebol, se movem em várias dimensões, tornando o desafio de montá-lo ainda mais complexo.

"Todo inventor acha que sua ideia é a melhor do mundo", afirmou Raimundo, arrancando risos dos demais empreendedores. O cubo articulado não ficou entre os melhores, mas o médico conseguiu deixar seu contato com um investidor da indústria de brinquedos.