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Alan volta de lesão, celebra fase na China, mas não crê em convocação

08/06/2016 07h15

'Maluco'! Assim foi chamado o atacante Alan quando deixou o Red Bull Salzburg, da Áustria, para jogar no Guangzhou Evergrande, no início de 2015. Até então, o futebol chinês ainda não estava nessa crescente ebulição financeira. No entanto, um ano depois, com grandes nomes do futebol chegando ao país, o jogador, ex-Fluminense, já mostra que sua decisão não foi tão insana assim.

Alan, contudo, não teve tanta sorte em sua primeira temporada. Uma grave lesão no joelho esquerdo, logo nos seus primeiros jogos, tiraria o brasileiro de ação por todo o restante do ano. De volta ao Guangzhou Evergrande e marcando muitos gols - já são sete depois de sua volta -, o jogador vem se mostrando importante para o time, que lidera a Super Liga com 28 pontos, cinco a mais que o Hebei Fortune.

Em entrevista exclusiva ao LANCE!, Alan fala sobre a lesão grave que teve no time chinês, a mudança para o futebol asiático e chances na Seleção Brasileira.

Você foi artilheiro no Red Bull Salzburg em duas temporadas e vivia grande momento no futebol europeu. Por que pensou em se transferir para a China? O que motivou essa transferência?

A questão financeira pesou bastante. Eu já vinha de uma lesão no joelho e pensei no meu futuro olhando pela parte financeira. Conversei com a minha esposa, já estava há um bom tempo na Áustria e queria um novo desafio. Acreditei nos planos que o Guangzhou tinha para mim e graças a Deus foi a escolha certa.

O sucesso do Guangzhou Evergrande, que já era campeão na China, facilitou a sua transferência?

Com certeza. O Guangzhou é um clube muito respeitado não só na China, mas em toda a Ásia. Procurei saber mais sobre o clube também para não cair em nenhuma furada. Só ouvi coisas boas das pessoas que passaram por aqui. E resolvi topar esse desafio. E ainda bem que está dando tudo certo.

O futebol chinês nesta temporada foi marcado por grandes contratações. Como foi o impacto da chegada de jogadores famosos para o campeonato?

A chegada valoriza muito o Campeonato Chinês. Quando eu vim para cá, todo mundo me chamou de maluco, perguntou o que 'eu tava fazendo na China'. Mas agora as pessoas começaram a mudar o pensamento, muitos jogadores estão vindo para cá, o que levanta o nome da liga.

Na temporada passada, você não deu sorte, tendo uma lesão grave logo quando chegou ao Guangzhou. O que passou pela sua cabeça naquele momento?

Para mim foi difícil. O Guangzhou pagou uma grana alta para me tirar do Red Bull, o time tinha grandes expectativas sobre mim e logo quando cheguei me lesionei. Joguei apenas duas partidas e, quando fomos treinar na Austrália, acabei rompendo o ligamento do meu joelho esquerdo. Foi um baque, pois passou um filme na minha cabeça de tudo que havia acontecido comigo quando me lesionei pelo Red Bull Salzburg. Foi uma situação muito difícil. Me apeguei a Deus, a minha família e fui à luta. O Guangzhou foi sempre muito correto comigo e eu sabia que tinha que dar um retorno para eles de alguma forma. E em nenhum momento eu desisti. E nesse período, a minha mulher ficou grávida. Isso foi um incentivo a mais, me apeguei e sabia que tinha que lutar pelo meu filho. Voltei, agora meu joelho está 100% novamente e agora estou podendo mostrar de verdade o motivo de eu ter vindo para cá.

Como a notícia de que sua mulher estava grávida e o nascimento do seu filho te ajudou a superar essa fase?

Foi onde eu me apeguei de verdade, pois nesse momento a cabeça da gente fica muito ruim. Na primeira vez, eu me perdi. Agora, busquei forças no meu filho, queria mostrar para ele que o pai dele era um vencedor e que não iria desistir. Quando me batia uma tristeza, pensava nele e fui à luta. Graças a Deus estou tendo a recompensa hoje. Ele ainda é um bebê, mas daqui a alguns anos ele vai ver o que foi a minha carreira e vai sentir muito orgulho de mim.

Você disse que na primeira lesão você acabou se 'perdendo'. O que faltou para você ter um foco maior na recuperação?

Eu era muito novo e não sabia o quão grave era a lesão. Neste aspecto, não tinha muita noção. Fui levando, levando, e teve alguns erros. Quando estava oito meses fora, caiu a minha ficha. Não conseguia correr, fazer nada. E aí começou a bater o desespero. E ainda fica ouvindo muita coisa negativa, de gente que ficava falando que não voltaria a jogar. Passei por uma astroscopia para limpar o que tinha de errado no joelho e ainda tive que esperar um bom tempo para voltar a jogar.

Agora, você voltou a atuar e já fez sete gols em oito partidas. Está em plenas condições físicas? Você vem atuando aberto pela ponta, como fazia nos tempos de Fluminense?

Estou me sentindo muito melhor do que nos primeiros jogos, pois fiquei muito tempo sem jogar. Isso prejudica. Não sinto mais nada no joelho, minha forma física está voltando ao normal. Venho atuando pelas pontas aqui. No começo foi difícil, por estar fora de forma. Graças a Deus está dando tudo certo e fazendo bons jogos.

Nesta temporada, Elkeson saiu, mas chegou o Jackson Martínez. Achou que fosse ficar sem espaço com a chegada do colombiano, que tem grande fama na Europa?

Não achei que fosse ficar sem espaço. Sei do meu potencial e sabia que uma hora a oportunidade iria surgir. Lógico que as chances diminuem com alguém do porte do Jackson Martínez, mas quando surgisse a oportunidade eu iria agarrar, como estou tendo agora. Estou jogando em uma posição diferente, mas ele está machucado. Vem jogando o Gao Lin.

Você ficou fora da lista da Liga dos Campeões da Ásia por estar se recuperando da lesão. Mas o que faltou para o time conseguir melhores resultados e avançar às oitavas?

Fizemos a pré-temporada um pouco mais tarde em relação aos outros times, pois jogamos o Mundial. Demoramos a nos preparar por isso. Quando começamos a pegar forma física, já estava no final da Liga dos Campeões da Ásia. No fim da fase de grupos, a equipe embalou, mas já era tarde demais. E infelizmente não deu para a gente se classificar.

A queda prematura foi considerada um fiasco, principalmente pelo investimento feito pela diretoria?

Acredito que não. São coisas que acontecem, pegamos uma chave complicada também. Todos ficaram chateados, mas deram apoio aos jogadores. Agora, vamos priorizar a Super Liga e a Copa da China.

Apesar dos resultados ruins na competição continental, na China ninguém segura o Guangzhou. Qual a fórmula do sucesso para ir tão bem na Super Liga?

Acredito que os melhores jogadores chineses estão no Guangzhou Evergrande. O clube se planeja muito bem, com uma excelente estrutura. A diretoria conseguiu trazer os melhores chineses, o que é uma vantagem. Temos uma grande comissão técnica e isso vem fazendo toda a diferença.

O técnico Dunga vem convocando muitos jogadores que estão em atividade no futebol chinês. Esta sua passagem pelo Guangzhou renova suas expectativas de uma ida para a Seleção Brasileira?

Para ser sincero, é um pouco mais difícil ser convocado, principalmente porque eu nunca fui. Renato Augusto e o Gil vêm sendo convocados pelas passagens que eles tiveram pela Seleção. Por eu nunca ter sido convocado, ainda rola um certo preconceito por jogar na China. As pessoas sempre vão comentar: 'Vai convocar alguém que joga na China?' Acredito que seja meio difícil, mas nada é impossível. Eu vou fazendo a minha parte e o futuro a Deus pertence.

Você acredita que é o que vem acontecendo com o Diego Tardelli, que vinha sendo convocado, mas sofreu uma lesão e nunca mais foi lembrado?

Para ele ainda é mais fácil do que para mim por já ter ter sido convocado. No meu caso é mais complicado por não ter sido lembrado em nenhuma oportunidade.