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Buffon, um ícone da Seleção Italiana no Stade de Lyon

13/06/2016 08h38

Sala de imprensa do Stade de Lyon, domingo, 18h40min. Os jornalistas são informados sobre a chegada da delegação da Itália para o reconhecimento do gramado nesta véspera de partida de estreia da Euro-2016 contra a Bélgica e a obrigatória entrevista com o técnico e um jogador.

Os italianos correm afoitos, com a informação de que além do treinador Antonio Conte, Buffon estava, enfim, confirmado para o papo e tudo começaria em cinco minutos.

Com 38 anos, 157 partidas pela Azzurra, quatro Copas (um título) e quatro Euros (dois vices) no currículo, se aposentando da seleção nesta temporada e com a Itália só entrando no rol de favorita por causa da sua tradição, já que se enfraquecera nos últimos anos com as saídas de peças como Pirlo, esta poderia ser a última coletiva de Buffon como jogador da Azzurra.

O estádio é bonito e moderno. Mas faz o jornalista ter saudade da antiga casa do Lyon, o Gerland, que ficava no centro, perto de tudo. O Stade de Lyon, imponente, com suas de leões na entrada, fica nos confins da cidade, no meio do nada, longe de metrô, trens, linhas de ônibus (quando tem jogo a prefeitura põe linhas extras para quebrar um galho) é feito para ir de carro. Além disso, a sala de imprensa é acanhada. Não comporta a multidão de jornalistas de uma Euro e o jeito foi montar um local provisório fora do estádio.

Isso faz a imprensa andar, 50 metros até a entrada, subir dois andares, andar novo corredor, subir mais dois andares, dobrar a esquerda e... cinco minutos depois, chega. Alguém com bom condicionamento leva na boa. Mas como a imprensa italiana é formada por muitos sexagenários, como o simpático Francesco Zuccardi, 76 anos, jornalista desde 1958 e no esporte desde os anos 60, a coisa complica.

Felizmente a coletiva tem um atraso sob medida de dez minutos e todos chegam a tempo. O técnico Conte senta-se à direita dos holofotes. Buffon ao lado. Com roupa "civil", pois não haverá treino (apenas 15 minutos para fotos dentro de campo, outra obrigação contratual das seleções).

De início, o goleiro, com aquelas pulseiras de equilíbrio, uma em cada braço, não parece muito à vontade. Está com o celular ligado e até ri de algumas mensagens enquanto o treinador Conte responde a primeira pergunta padrão sobre a partida.

Mas Buffon é tratado como um a lenda não apenas pelos torcedores, mas também pela imprensa, que o chama de Gigi, Giggio, Gi, depende de quem faz a pergunta. Uma delas mais parece um lamento sobre a sua despedida e a nostalgia de estar no fim da carreira, no que Buffon responde:

- Me sinto não com um tipo de nostalgia, ou alguma sensação que vá me inibir. Mas há um entusiasmo e a honra de mais uma vez usar a camisa da nossa seleção e representar a nação.

Nova pergunta sobre sua carreira colossal (para usar a palavra do jornalista italiano):

- Sim, sei que fiz uma coisa grande no futebol e me orgulho disso.

O goleiro responde ao dobro das perguntas feitas ao treinador Conte ( jogaram juntos por anos). Não se furta a nenhuma, nem mesmo quando a questão é se a atual Azurra é uma das mais fracas da história.

- No passado, muitas vezes sentia a minha seleção favorita e voltava para casa eliminado pensando no que tinha acontecido. Hoje o que vejo é um grupo que acata o que o treinador diz e tem garra e para vencer a Euro é preciso colocar coração e alma nos jogos. Não somos favoritos? Ok. No futebol tem momento que somos martelo e momento que somos bigorna. Mas o que vale é o que se faz em campo. Então temos de ser competitivos e tentar ir longe.

Longe seria vencer a Bélgica na estreia ou a possibilidade de um título para a despedida?

- A favorita é a Bélgica. Mas a força maior de um time vale mesmo é na competição longa. Torneios breves como a Euro, nem sempre o mais forte ganha. Então, vamos fazer de tudo para celebrar o sucesso.

Buffon acaba analisando até a violência nas ruas nestes primeiros jogos da Euro e se diz decepcionado. Nas perguntas dos belgas, elogia o goleiro Courtois e Hazard. Quando é informado que o meia disse que gostaria de jogar ao seu lado, sorri:

- Estou me aposentando e vai ser difícil.

Sobre Courtois, o capitão italiano precisa analisar uma complexa questão sobre como se compararia ao goleiro do rival, que tem 24 anos, com ele próprio na mesma idade.

- Courtois é um dos grandes. Sobre minha época com 24 anos nem lembro (segundos para as risadas). Mas posso assegurar que hoje estou mentalmente muito mais forte do que naquela época.

O tempo da entrevista termina, Buffon se retira. Só deve voltar a falar numa véspera de partida no caso da Itália ir à uma final. É é hora dos jornalistas fazerem o caminho da volta para o material sobre a estreia do goleiro-ícone na sua última Euro e que neste domingo ganhara do do rival belga Hazard a sua melhor definição:

- Tem uma carreira magnífica, muitos troféus. Qualquer jogador espera ter a chance de chegar perto do que ele representa e chegra no fim da carreira em tão alto nível, mantendo-se como um dos melhores. Se há uma palavra que eu posso expressar sobre ele é respeito.