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Alvo de racismo no Japão, atacante ex-São Paulo mantém cabeça erguida e sonha defender seleção nipônica

15/06/2016 09h28

Clube pelo qual jogou Zico, Jorginho e Leonardo, o Kashima Antlers vive ótimo momento no Campeonato Japonês e um brasileiro está entre os grandes responsáveis pelo sucesso do time. O atacante Caio, de 22 anos, é uma das principais peças da equipe, que ocupa a segunda posição da J-League.

Nascido em Araçatuba (SP), o jogador passou pela base do São Paulo e foi convidado, em 2011, para estudar e jogar no Colégio Internacional de Chiba (JAP). Seu destaque no futebol escolar foi tão grande que despertou o interesse do Kashima, em 2014. Hoje, o jovem é chamado pelos torcedores como "Pequeno Samurai" e poderá, em breve, se naturalizar e estar entre os convocados para seleção japonesa.

Com grandes atuações pelo Kashima desde o seu começo pelo clube, Caio admitiu ao LANCE! que tem interesse em defender o Japão. Perguntado se estaria buscando cidadania japonesa, o jogador explicou os próximos passos a serem dados.

- Tenho sim o desejo de jogar na seleção japonesa, mas existem vários outros fatores que precisam ser vistos antes de tudo isso acontecer. Muitas coisas burocráticas. Por enquanto estamos apenas conversando sobre isso - disse.

No último sábado, Caio seguiu sua grande fase ao ajudar o seu time a derrotar o Urawa Red Diamonds por 2 a 0, fora de casa. Há nove jogos ou Kashima não batia o Urawa. Com o triunfo, sua equipe chegou aos 33 pontos no primeiro turno da J-League, um a menos do que o líder Kawasaki Frontale. Faltam apenas dois jogos para o turno acabar e só o primeiro colocado garantirá vaga nos playoffs. O Kashima não fatura o Campeonato Japonês desde 2009.

Porém, o jogo não reservou apenas alegrias a Caio. Ao término da partida, um suposto fã do Urawa postou no Twitter uma mensagem preconceituosa e em tom de ameaça para o brasileiro. O perfil "@urawatsubasa" escreveu "morra homem preto". O caso deixou o jogador magoado e abalou sua companheira.

- Fiquei muito triste por isso, foi algo muito constrangedor. Eu vi ao sair do jogo. Meu celular estava cheio de mensagens, uma delas da minha namorada, que depois me ligou chorando, muito abalada. Fiquei desapontado ao ler aquilo. Jamais imaginei que aconteceria algo desse tipo comigo, ainda mais em um país tão respeitoso como o Japão. Agora já estou mais tranquilo. Tenho muita fé em Deus e ele já confortou meu coração. Tenho que continuar de cabeça erguida, fazer meu trabalho e dar alegrias aos torcedores que realmente gostam de mim - destacou.

Além de falar ao L! sobre o presente e o futuro, Caio também recordou seu passado pelo São Paulo. O atacante defendeu a base do clube de 2005 a 2009, dos 11 aos 15 anos. Ele afirma que sua dispensa não foi bem explicada e que poderia ter dado alegrias aos torcedores tricolores.

- Na época eles falaram que minha dispensa havia sido "por motivos de forças maiores", coisa que não entendi até hoje. Não digo que eu poderia ter virado um ídolo, mas com certeza teria feito um bom trabalho, assim como estou fazendo aqui. Creio que eu poderia ter ajudado muito, pois me sentia em casa dentro do clube. Era um sonho se profissionalizar pelo São Paulo - comentou.

Dois anos depois do São Paulo, Caio se arriscou em um teste do Colégio Internacional de Chiba em Birigui (SP) e foi aprovado. Depois de tanto tempo longe do Brasil, o atacante não descarta retornar um dia.

- Porque não, né? Se for algo bom pra mim e para minha família, poderíamos conversar. Ainda não houve sondagem de times brasileiros, mas quando chegar tenho certeza que eu e meu empresário veremos com muito carinho.