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Com diretoria e grupo na mão: R. Gomes celebra um ano à frente do Botafogo

22/07/2016 07h00

Quase todo dia: Ricardo Gomes chega ao clube, olha nos olhos de cada funcionário, procura saber como estão, conversa com os auxiliares diretos, com os analistas de desempenho e inicia os trabalhos com os jogadores do Botafogo. Essa rotina faz aniversário nesta sexta-feira, quando o técnico completa um ano do dia em que disse sim à Estrela Solitária. Em 22 de julho do ano passado, o treinador aceitava o convite alvinegro para voltar à área técnica após quatro anos afastado por conta de um acidente vascular cerebral (AVC). Passados estes 12 meses, ele está mais respaldado do que nunca pela diretoria e tem o elenco cada vez mais nas mãos.

 

A incômoda condição do Glorioso na tabela do Campeonato Brasileiro, no qual briga, neste momento, apenas para fugir da zona de rebaixamento, contrasta com o ambiente de General Severiano. É raro uma equipe estar nesta situação e o ambiente estar tão favorável. E tem dedo do "aniversariante" nisto. A honestidade do comandante da equipe com as pessoas de todos os departamentos, a vontade que demonstra em ver esses setores interligados e a elegante franqueza com que trata os jogadores fazem com que o treinador seja respeitado e admirado por todos. E olha que nem sempre foi tão assim.

 

Alguns jogadores sentiram bastante a mudança no tratamento que recebiam entre René Simões e Ricardo. A troca, na metade do ano passado, tirou do clube um técnico que talvez falasse mais a língua do "boleiro", mesmo que o atual líder é que tenha sido jogador de grande sucesso no Brasil, na Europa e na Seleção Brasileira. A dificuldade na fala, sequela do AVC, ainda era bastante nítida, em julho de 2015. Também por causa dela, houve atletas que desconfiaram do sucesso do treinador no Botafogo. Mas Ricardo Gomes evoluiu muito, e o conteúdo quase profético das palavras dele foi conquistando os jogadores. Hoje, não há quem duvide: o trabalho está dando certo.

A liderança de Ricardo Gomes, que fez dele capitão nos tempos de atleta, é elogiada do ponto de vista natural e técnico. As escalações, por exemplo, costumam ter variações, mas os atletas sempre recebem orientações sobre o que pode vir a acontecer nas partidas e porque vão jogar ou deixar de jogar. E acontece, quase sempre. Exemplo claro foi a opção por fazer Neilton entrar em campo a partir do segundo tempo, no clássico contra o Flamengo, no último sábado. Ao encarar rivais cansados, o atacante foi fundamental. Seguidas provas, como esta, de estudo e capacidade, fazem com que os comandados sintam-se confortáveis.

 

A campanha na Série B do Campeonato Brasileiro, no ano passado, não foi brilhante, mas teve acesso e título conquistados de forma segura. Metade daquele questionado elenco não teve o contrato renovado e poucas contratações foram feitas entre dezembro e janeiro. A desconfiança, então, passara a ser da torcida, que precisaria confiar na continuidade do trabalho, nos pouco conhecidos jogadores contratados e nas revelações que teriam vez, como Emerson e o recém-vendido Ribamar. Nos primeiros treinos, na pré-temporada, já foi possível ver o desenho e a obediência dos jogadores ao 4-2-3-1, que, com o passar dos meses, seria alternado com o 4-3-2-1.

 

O momento-chave destes 366 dias à frente do time alvinegro foi a permanência, após proposta apresentada pelo Cruzeiro, consideravelmente superior à do vínculo com o Botafogo. Um dia após o vice-campeonato estadual, em nove de maio deste ano, Ricardo Gomes optou por permanecer no Rio. Recebeu aumento nos vencimentos e a definição de que o contrato, que era sem prazo, irá até o fim deste ano, com possibilidade de renovação. O que deve acontecer, até porque, desde aquele momento, nem as piores fases da equipe caem sobre a responsabilidade do treinador. Em situação alguma os dirigentes questionam a qualidade do trabalho desenvolvido.

 

E assim continua a rotina de Ricardo Gomes. Com bom humor, mas sem exagero. Com cobranças, mas sem tornar-se inconveniente. Com uma clara e forte liderança, mas longe de parecer soberba. De cima a baixo, toda a hierarquia do Botafogo enxerga no homem da área técnica o craque da equipe. Se alguém pode garantir a permanência do Glorioso na Série A e, quem sabe, levar o time a voos maiores, esse alguém é o treinador.