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Último convocado, Felício vai da sombra de Bebê ao Rio em seis anos

03/08/2016 05h05

Último jogador da Seleção Brasileira masculina de basquete a garantir vaga na Olimpíada do Rio de Janeiro, Cristiano Felício foi chamado por Rubén Magnano apenas na última quarta-feira por conta da lesão de Anderson Varejão. Convocado às pressas, o jovem pivô está acostumado a mudanças bruscas na carreira, já que, em poucos anos, foi da sombra de Lucas Bebê à Olimpíada do Rio de Janeiro, assim como trocou as quadras da LDB pelas da NBA.

Em 2010, Felício fez parte da Seleção sub-18 vice-campeã da Copa América em San Antonio (EUA). Porém, naquela equipe, quem brilhava era Lucas Bebê, hoje jogador do Toronto Raptors. O recém-convocado era só seu coadjuvante.

No ano seguinte, o Brasil disputou o Mundial sub-19 sob o comando de Neto, hoje treinador do Flamengo e auxiliar técnica da Seleção. Novamente, os holofotes estavam sobre Bebê, que já chamava atenção de olheiros da NBA.

No mesmo ano, Felicio estreou pelo Minas na LDB, na época a divisão sub-21 do NBB. Depois, foi para o Flamengo e jogou a competição, já sub-22, em 2013 e 2014.

No NBB, Felício teve mais espaço na temporada 2011/2012, com média de 19,3 minutos por jogo no Minas. Era tratado um projeto para o futuro do Flamengo. Até que tudo mudou no meio do ano passado.

Convidado para jogar a Liga de Verão de Las Vegas da NBA com a camisa do Chicago Bulls, Felício agradou e acabou contratado pela franquia. Ganhou espaço com lesões de colegas e se destacou na reta final da temporada pelo time.

Felício negou a primeira convocação de Magnano para jogar a Liga de Verão e garantir seu futuro no Bulls. Tudo mudou com a lesão de Varejão. Mas tudo bem: Felício está acostumado a grandes mudanças.

Com a palavra: Paulo Chupeta, técnico de Felício no Flamengo sub-22

O Felício foi um atleta que eu tive o prazer de trabalhar, e ele sempre demonstrou um poder de aprendizado muito rápido, uma dedicação muito grande, sempre sabendo as responsabilidades dele. Foi um atleta que trabalhou comigo um ano e meio na LDB e nunca me deu um trabalho, sempre estava pronto para executar as tarefas que eram passadas pra ele, os treinamentos. Volta e meia eu falava com os outros técnicos que em breve ele poderia tentar o Draft para a NBA.

A minha participação foi mais mostrar para ele a importância dele dentro do grupo, a importância dele dentro do basquetebol brasileiro. Quando ele veio para o Flamengo ele veio para ser lapidado. Então o LDB foi o grande salto para ele e, com isso, o José Neto pode ver o trabalho e o desenvolvimento dele e acabou o aproveitando muito bem na equipe adulta. O dedo do Paulo Chupeta ali foi mostrar para ele o caminho que tinha que ser seguido. Às vezes, a gente erra, mas graças a Deus acho que acertamos dessa vez, porque é um garoto muito determinado, é um garoto de família que tem um objetivo, que é vencer na vida e ajudar sua própria família.

O Cristiano nunca me deu nenhum problema, ele só foi solução pra mim. As jogadas que eram feitas para terminar na mão dele eram sempre executadas com maestria, quando errava era o primeiro a pedir desculpa, sempre dava força aos companheiros, nunca tirou partido do seu vigor físico com relação aos adversários, nunca tirou partido da sua condição em relação ao seus companheiros de equipe, mesmo sabendo que era um jogador de seleção. Ele fazia parte do grupo mesmo. Era um cara de grupo, amigo, tanto é que quando ele foi chamado pro Chicago a alegria tomou conta de toda a base do Flamengo.

É um jogador que está em um grande momento, está passando por uma fase muito boa, vem motivado e é um jogador que está sendo visto por todo o mundo. Eu acho que perdemos na experiência do Varejão, mas ganhamos na força e na vontade do Cristiano Felício.

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Você acreditava que o Felício poderia chegar tão longe assim?

É importante que o menino acredite, e ele sempre acreditou no potencial dele. Sempre se esforçou, se dedicou, jogou bastante e bem. É muito esforçado e tem muito potencial. Ele que determinou o futuro dele. Passava tempo na quadra, é dedicado e obediente. Assim é fácil ser técnico, é só não atrapalhar. Fico muito feliz.

Como ele era fora de quadra?

Ele sempre soube aceitar o tempo das coisas, sempre soube que a oportunidade dele ia chegar. É bem quietão, reservado, bom de grupo, não incomoda ninguém. Sempre soube sua função na equipe, sempre colocou o grupo em primeiro lugar. Isso determina o caráter da pessoa. Sempre soube que ele era um menino especial de diversas maneiras, até pelo papel que a família dele teve. E ele está bem feliz na NBA.

Você acha que ele chega para brigar por minutos? Ou tende a ficar no fim do banco de reservas?

Ele entra na rotação. Nesse nível não tem essa. Se ele está sendo chamado pelo Rubén é porque o Rubén acredita no potencial dele. Acredito que ele vai fazer o melhor possível. Se a função dele for jogar um minuto ele vai fazer bem, se for jogar 40 ele vai fazer bem também.

Se você pudesse dar um último conselho para ele, qual seria?

Continue fazendo o que você está fazendo, continue acreditando. Saiba o que fazer e onde investir. Afinal, quem joga é o jogador. Continue sendo sempre a mesma pessoa que você é, não importa se você está por baixo ou se está por cima.