Brasileiro 'amarela'? Especialistas apontam drama psicológico e pressão
É comum em Jogos Olímpicos um atleta brasileiro favorito em sua prova, ao menos no olhar da mídia e da torcida, não conseguir corresponder a estas expectativas e não levar o ouro, ou nem medalhar. Depois, é taxado de "amarelão"'.
O Brasil possui 108 medalhas em Olimpíadas, atrás de países menores como Bélgica, Dinamarca e Bulgária. Também possui mais bronzes (medalha usualmente conquista após derrotas em semifinais, um momento decisivo de um torneio), 55, do que a soma de ouros, 23, e pratas, 30, conquistadas em Jogos.
A pergunta, então, é repetida: o atleta brasileiro, de fato, "amarela"?
Psicólogos especialistas na área esportiva conversaram com o LANCE! e afirmaram: falta acompanhamento psicológico e sobra pressão interna por resultados no país. "Aqui existe preconceito e desinformação diante dos benefícios dessa área no esporte. E o psicológico é determinante no desempenho e no resultado", diz o dr. João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte.
"Nem todos os atletas têm acompanhamento psicológico por estrutura, falta de recurso. A questão é mais essa do que emocional", completa Rodrigo Scialfa, que já trabalhou a área psicológica com equipes de base no país, citando que isso pode se tornar um "drama" ao atleta.
Para piorar a situação dos brasileiros, o fato das Olimpíadas de 2016 serem no país aumentou a pressão interna por resultados, até pelo aumento de exposição na imprensa, o que afeta ainda mais o psicológico dos atletas, algo que pode influenciar negativamente em horas decisivas das competições.
"A exposição maior na mídia sem dúvida faz crescer a expectativa do público para que eles ganhem a medalha. E a chance de virar um herói olímpico pode gerar nervosismo, tensão. E essas alterações psicológicas e emocionais geram mudanças nas habilidades motoras e no controle de concentração, tomada de decisão, velocidade de reação, tudo pelo contexto emocional. Isso pode ser o principal adversário dos atletas brasileiros", explica Cozac.
Mas um fator exclusivo da competição em casa pode ajudar a contornar esses problemas: a torcida a favor. Os especialistas concordam nesse ponto - o brasileiro pode se sentir mais à vontade nas competições.
"Acredito que a torcida pode contribuir nesse sentido (alívio psicológico). A torcida entra como figura de incentivo e motivação para os atletas", opina Valéria Sapienza, especialista em psicologia esportiva.
Ela é acompanhada por Cozac: "Atuar em casa pode ser positivo para que o atleta se sinta bem, ao lado da família e amigos, familiaridade com idioma, cidade, espaço que a competição é realizada."
Assim, vale analisar a individualidade do atleta que não conseguir um ouro ou um bom resultado nos Jogos, antes de taxá-lo de "amarelão". Os três especialistas afirmam que cada atleta pode reagir de maneira diferente. Não vale generalizar o esportista do país como um só. Essa é a hora de analisar se a estrutura que foi dada para ele para atuar em casa foi suficiente.
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