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Bandeira, óleo e vida nova: a fama repentina do porta-bandeira de Tonga

08/08/2016 10h38

O espetáculo da cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio foi belíssimo. A mensagem de preservação ao meio-ambiente ganhou destaque na imprensa internacional. As performances de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Anitta, Gisele Bündchen, Ludmilla, Zeca Pagodinho, D2 chamaram atenção. Mas, para alguns, uma imagem ofuscou tudo isso: a entrada triunfal de Pita Taufatofua com a bandeira de Tonga durante o desfile das delegações. Sem camisa, besuntado de óleo, vestido com um traje típico de seu país, o atleta do taekwondo viu sua vida mudar desde a última sexta (5), revela um perfil do atleta publicado pelo portal Yahoo Sports.

Desde então, Taufatofua tem recebido de tudo: desde as brincadeiras de seu treinador ("Proteja o seu rosto! É com ele que você ganha dinheiro agora!"), passando por pedidos de casamento e ofertas de trabalho como modelo e ator, e até pedidos de atletas famosos para tirar fotos com ele na Vila Olímpico. Ah, e claro: memes. Um dos que mais divertiu o tonganês é um que apresenta uma foto dele próprio sem camisa com os dizeres "É por isso que deram 42 preservativos para cada atleta olímpico". O sucesso nas redes sociais foi repentino. Eram tantas as notificações no celular do lutador que ele teve de desligar o aparelho nas duas noites seguidas à cerimônia para conseguir dormir. Taufatofua recebeu 75 mil novos seguidores no Instagram e inúmeros snaps (as publicações da rede social Snapchat).

- A maioria foi bem engraçada, mas houve algumas coisas no Snapchat que, com certeza, eu não deveria ter aberto. Descobri que há muitos outros "porta-bandeiras" por aí - conta Taufatofua.

Pouca gente, no entanto, conhece a história por trás do sex symbol. O lutador é o primeiro atleta de Tonga (um pequeno país da Oceania) a conseguir uma vaga olímpica no taekwondo. E sonhou com isso por quase duas décadas.

Taufatofua viveu uma infância humilde. Raramente ele e seus cinco irmãos conseguiam ter três refeições por dia à mesa. Apesar disso, seu pai, que trabalhava em uma fazenda, conseguiu economizar o suficiente para custear a educação dos filhos. Graças a isso, Taufatofua é, hoje, engenheiro. Embora nunca tenha exercido sua profissão a não ser para construir o sonho de chegar às Olimpíadas.

O projeto começou em 2004. O lutador conseguiu vaga para o torneio qualificatório da Oceania para os jogos de Atenas, mas não teve dinheiro que lhe permitisse viajar para disputar o campeonato. Quatro anos depois, ele chegou até a luta que poderia lhe garantir a vaga olímpica no taekwondo, mas sofreu uma séria lesão de tornozelo que o deixou em cadeira de rodas por seis meses. Em 2012, alcançou novamente a luta que lhe abriria as portas para os Jogos, mas perdeu com um chute na cabeça.

- O momento mais difícil para mim foi em 2008. Eu tinha trabalhado muito duro e estava ganhando a luta até fraturar meu pé. Eu fiquei com uma "bola de tênis" no pé, mas eu queria tanto vencer que continuei chutando até que explodisse. Não foi bonito e foi difícil para mim - desabafa Taufatofua.

Mas o tonganês não desistiu. Tentou uma quarta vez, em fevereiro, a classificação para os Jogos nos quais viria, meses depois, a causar rebuliço com sua entrada no desfile. E, desta vez, não falhou. Venceu, na luta decisiva, o neo-zelandês Dafydd Sanders por apenas um ponto.

- Eu levei a vida inteira até chegar aqui. E agora eu agora curto muito mais, justamente, por eu ter levado tanto tempo até conseguir - comemora.

O objetivo de Taufatofua agora é chegar ainda mais longe. Número 87 no ranking mundial do taekwondo, ele espera surpreender e avançar, pelo menos, uma fase ou duas. Independente do resultado, para os amigos do tonganês, ele já ganhou a Olimpíada só pelo impacto causado por seu desfile na abertura:

- Alguns me disseram: "Você já fez mais pelo turismo do país em uma noite do que em 20 anos de propaganda" - encerra Taufatofua.