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Mãe de finalista olímpica: como é ver a filha ganhar medalha na Rio-2016

17/08/2016 15h37

O dia já está perto de terminar no Rio de Janeiro. São quase meia-noite, e em uma das cadeiras das arquibancadas da arena de vôlei de praia em Copacabana está sentada Maria José, a Dona Zeca, para assistir a segunda semifinal feminina do dia na modalidade entre as brasileiras Ágatha e Bárbara Seixas e as americanas Walsh e Ross, em jogo encerrado nos primeiros minutos desta quarta-feira. Dona Zeca não é uma espectadora qualquer. Ela é a mãe de Ágatha. Em minutos, sua filha jogaria uma das partidas mais importantes da carreira. A vitória garantiria uma inédita medalha olímpica, pelo menos a prata. A derrota colocaria o sonho em risco.

Dona Zeca era apenas mais uma pessoa entre milhares de torcedores na quadra. A arena estava lotada e barulhenta, inclusive com muitos americanos apoiando Walsh e Ross, em número surpreendentemente alto. No entanto, um olhar mais atento para Dona Zeca indicava sua familiaridade com Ágatha. Ela vestia uma camiseta azul claro. Na frente, uma foto de Ágatha e Bárbara Seixas com o troféu de campeãs mundiais, conquistado no ano passado na Holanda. Atrás, as palavras "Paranaguá" (cidade onde Dona Zeca vive, no Paraná) e "mãe de atleta". Outras pessoas próximas também vestiam a camiseta, mas com a inscrição "amigo de atleta". O pai, Alfredo, também estava nas arquibancadas, mas em outra área.

O LANCE! acompanhou a semifinal entre Brasil e Estados Unidos ao lado de Dona Zeca, que foi à partida a convite da empresa P&G. Minutos antes da partida começar, enquanto os italianos Nicolai e Lupo venciam uma das semifinais masculinas e avançavam para a final olímpica, a mãe de Ágatha contou como é ter uma filha atleta olímpica, e uma das mais importantes dentro do esporte brasileiro atualmente.

- Ser mãe de atleta é terrível. É uma sofrência... - brincou Dona Zeca, dando risada ao mesmo tempo.

Bem humorada e sorridente o tempo inteiro, Dona Zeca escolheu um lugar especial nas arquibancadas. Ela ficou bem perto das grades que separam o público da quadra, e próximo também do local onde os repórteres das televisões fazem as entrevistas com os atletas logo após o jogo.

- Eu sempre escolho esse lugar. A Ágatha me procura de longe, e sempre me acha. É um lugar estratégico - contou ela. O objetivo, segundo Dona Zeca, é poder abraçar a filha sempre que o jogo acaba.

O carinho após os jogos é algo frequente durante as competições, mas se torna menor em um torneio com a magnitude de uma Olimpíada. O contato de Ágatha com a família durante os Jogos Rio-2016 tem sido pequeno. A jogadora se mantém concentrada, treinando ou competindo a maior parte do tempo. Esses pequenos encontros só acontecem após as partidas no Rio de Janeiro. Uma das exceções foi quando a irmã Pollyana levou sua filha Antonela (sobrinha de Ágatha), de 3 anos de idade, para vê-la em sua concentração no Centro de Capacitação Física do Exército (CCFEx), na Urca. Conversas por telefone são raríssimas.

- Quando a Ágatha joga no Brasil, vamos em quase todos. Quando é lá fora é difícil, não temos grana. É complicado. Tentamos encontrar com ela após as partidas, para abraçá-la. Ela é muito carinhosa e muito família. Respeitamos esse momento dela. Só conversamos por telefone quando ela nos procura - relatou Dona Zeca.

Bandeira do Brasil nas mãos, e celebração no final

O árbitro colombiano Juan Carlos Caceres apita o início de jogo. Os torcedores brasileiros e americanos disputam ponto a ponto quem mais faz barulho. A cada jogada, a celebração é de um lado. Enquanto isso, Dona Zeca curte todo o momento. Com uma bandeira do Brasil que não saiu de suas mãos o tempo inteiro (com exceção de uma pequena pausa no primeiro set, em que ela deixou seu assento e deixou de ver sete pontos anotados), a mãe de Ágatha parece não estar nervosa com o fato. Não houve unhas roídas, nem gritos de desespero. Pelo contrário. A cada bola no chão que as brasileiras colocavam na quadra americana, Dona Zeca dançava com a música em clima de balada da arena do vôlei de praia em Copacabana.

- Estou feliz, ela já é a minha campeã. Conseguiu essa vaga olímpica por merecimento. Vamos recebê-la do mesmo jeito, independentemente do resultado do jogo - disse Dona Zeca antes da semifinal começar, o que justifica sua animação na partida, que tinha tudo para deixá-la tensa. O fato de ver a filha disputar uma Olimpíada já era encarado como uma vitória.

A animação de Dona Zeca seguiu até o final da partida. A bela atuação de Ágatha e Bárbara Seixas ajudou, é verdade. As brasileiras passaram por poucos momentos de dificuldade contra as americanas Walsh e Ross, e venceram por 2 sets a 0, com parciais de 22-20 e 21-18.

Quando Ágatha e Bárbara Seixas ficaram a um ponto da vitória, Dona Zeca e outros familiares correram para a grade que divide a arquibancada da quadra, para ficar no melhor lugar para abraçar sua filha. Já consideravam o triunfo como certo. E foi o que aconteceu. Logo em seguida, as brasileiras sacramentaram a vitória. Ágatha acabava de se tornar medalhista olímpica, ao passar para a final e assegurar pelo menos a prata.

O delírio foi total. Gritos emocionados por todos os lados, e fãs das jogadoras se aproximando para também tentar um contato ou uma selfie na grade. A poucas cadeiras dali, Casey Jennings, marido da jogadora americana Walsh, deixava o local com amigos. Os dois grupos, tanto o de Ágatha quanto o de Walsh, viram a partida quase colados.

Depois de Ágatha dar uma "volta olímpica" na quadra com Bárbara Seixas e celebrar efusivamente, veio o tão esperado abraço que Dona Zeca queria. Neste momento, o pai Alfredo também já tinha chegado para a comemoração. Foram beijos, abraços e gritos. Um momento de êxtase para todos.

- Foi um abraço tão gostoso... Tudo isso é um sonho, é maravilhoso, você não tem ideia. Ter uma filha medalhista olímpica é fantástico. É uma mistura de justiça divina. Ela merecia tudo isso. Deus está sempre as iluminando. Tem que acreditar. E a força dessa torcida ajudou - falou Dona Zeca minutos depois.

Entre os abraços, algumas palavras trocadas. Dona Zeca revelou o que Ágatha lhe disse naqueles rápidos segundos.

- Ela disse "mãe, eu já conquistei a prata, mas vou conquistar o ouro" - contou.

O ouro pode ser conquistado na madrugada desta quinta-feira, na final contra as alemãs Ludwig e Walkenhorst. Dona Zeca estará na quadra de novo, no mesmo lugar, e com uma chance única na vida. Ver a filha ser campeã olímpica.