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Scarpa elogia referências no Flu, fala sobre carreira e mira títulos

MAILSON SANTANA/FLUMINENSE FC.
Imagem: MAILSON SANTANA/FLUMINENSE FC.

09/09/2016 06h00

Há dois anos Gustavo Scarpa ainda era encarado como uma promessa no Fluminense. Uma aposta que, como em muitos casos no futebol, até mesmo em Xerém, poderia não vingar no elenco profissional. No entanto, o meia, com apenas 22 anos, não só virou titular absoluto do Tricolor desde 2015, como a referência para o elenco e torcida, que o enxerga como ídolo em potencial.

Em constante evolução, como o próprio jogador afirmou em entrevista ao LANCE!, concedida nesta quinta-feira, após o treino nas Laranjeiras, Scarpa não é de lamentar. Da derrota para o Botafogo a não ida para os Jogos Olímpicos, o meia procura olhar para frente e ver pontos positivos. Neles estão a possibilidade de títulos da Copa do Brasil e do próprio Campeonato Brasileiro:

"A torcida tem motivos de sobra para acreditar na gente", afirmou o meia.

Além de fazer um balanço pessoal positivo da temporada, Gustavo Scarpa revelou que o roteiro esteve perto de não ser esse em 2015, antes de se firmar com Enderson Moreira, técnico o qual ele considera um dos principais responsáveis por tudo que está acontecendo em sua carreira agora.

Fred, Diego Cavalieri, Ronaldinho Gaúcho, Conca... Outras referências que passaram pelo Tricolor das Laranjeiras também tiveram um papel essencial no amadurecimento do jovem atleta. Confira abaixo, na íntegra, a entrevista.

Vice-artilheiro do Fluminense, líder em assistências... Seus números são ótimos em 2016. Como você avalia a temporada?

Acredito que estou fazendo uma temporada muito boa. Terminamos dois campeonatos até agora. Um eu pude ser o destaque (Craque da Primeira Liga) e outro em estive na seleção (no Campeonato Carioca). Então venho fazendo um bom ano. Espero que continue assim, e até melhore para terminar a Copa do Brasil ou Brasileiro me destacando, mas que o Fluminense fique com algum título é o mais importante.

Desde o dia 1 de junho de 2014, sua estreia no Fluminense, até hoje, muita coisa aconteceu na sua vida. O que mais mudou desde aquele jogo contra o Internacional?

O que mudou foi que eu comecei a ter oportunidades. O Cristóvão (Borges, técnico do Flu em 2014) acabou me colocando algumas vezes. Se não me engano, os seis jogos que entrei em 2014 só vencemos o Corinthians. Os outros cinco foram empates. Então eu entrava mais para ocupar espaço, já mais no final do jogo. Aí o Enderson (Moreira, técnico do Flu em 2015) chegou e me deu oportunidades. Fui muito feliz, consegui aproveitar as chances, embalei e fui pegando confiança. Hoje estamos aí, né?

Então o Enderson Moreira é um dos responsáveis pelo o que você demonstrando em campo?

O principal. Responsável direto por tudo que vem acontecendo comigo. Até porque a diretoria, na época, já estava arrumando um empréstimo para mim. Eu fui conversar com ele (Enderson) para ver o que ele achava. Ele disse que tinha gostado do meu futebol e contava comigo, mas não me prometeu titularidade, nem nada assim, mas que ele tinha gostado. Então decidi ficar até a décima rodada, aí se não acontecesse nada... Foi então que na sétima rodada (do Brasileirão) dei passe para gol. Depois fiz meu primeiro gol e comecei a jogar mais e deu certo. Eu devo muito ao Enderson.

Em qual aspecto você mais evoluiu nesses mais de dois anos jogando entre os profissionais?

Acho que são duas coisas. Primeiro é ditar o ritmo da partida. Ainda estou aprendendo a hora de segurar o jogo. É claro que a gente acaba forçando um passe uma hora ou outra, é a função de quem joga na frente. Temos a obrigação de encontrar bons passes, de achar os companheiros em condições de finalizar. A questão física também melhorei bastante. Não na estética, mas na questão pulmonar. Eu venho correndo muito nos jogos, venho tendo números interessantes nos dados e é algo que me deixa feliz.

Agora, sob o comando de Levir Culpi, está vivendo uma fase de artilheiro. Esta chegada na área é um pedido do treinador?

É algo que todos os treinadores pediam desde a base. Como um meia ofensivo preciso chegar dentro da área. Até porque eu tenho um poder de finalização bom. Então o Levir, Cristóvão, Enderson, todos pediam isso para mim, para chegar na área.

Você foi integrado com alguns outros jovens das categorias de base de Xerém. Como foi essa chegada ao time profissional?

Acredito que o investimento nos jogadores da base foi uma questão de momento. O Fluminense havia acabado de perder a Unimed, estava sem grana para investir. Era a hora de dar oportunidades para os garotos, porque Xerém a gente sabe que realmente é uma fábrica de talentos, tem meninos de muita qualidade.

Além do bom futebol, o que mais te ajudou nessa rápida identificação com a torcida?

Acredito que foi fazer o que sempre fiz desde a base. Não me importar com as regalias extra-campo, me cuidar, treinar, dar meu máximo sempre, não me preocupar em buscar meu espaço de outra maneira que não seja treinando. Isso me ajudou. Quando você vence na vida da maneira correta é difícil as pessoas te derrubarem. Porque quando você vence com alguma falcatrua, alguma hora vem a tona. Eu venci fazendo o meu melhor, sem pisar em ninguém e vem dando certo. Ainda tem tudo para melhorar.

Ter jogadores como Fred, Gum e Cavalieri no elenco ajudou na sua chegada aos profissionais?

Facilita. Todo mundo falava que profissional era uma trairagem, ambiente ruim, e quando subi e vi o ambiente aqui no Fluminense eu fiquei surpreso. O clima é bom, o grupo é unido e essas referências que você tem facilita. Eu peguei o Conca aqui, o Wagner. Tínhamos o Fred, hoje é o Cavalieri. É muito legal porque você vê esses jogadores de renome, com títulos e mais títulos, com Copa do Mundo e Seleção, e ter a oportunidade de trabalhar com eles é demais. Até o Ronaldinho (Gaúcho), mesmo não vivendo seu melhor momento. Eu me senti realizado de jogar com ele.

Desses nomes citados, algum teve um papel mais importante na sua carreira até o momento?

São muitos que me deram conselhos de diferentes aspectos. Tanto dentro quando fora de campo. Eu converso demais com o Cavalieri, assim como era com Fred. Conca, Sóbis... Ronaldinho me deu bons conselhos e eu sempre procurei ouvir o que eles tinham para me passar. São caras que venceram, profissionais de alto nível e eles me ensinaram coisas que eu levo para minha vida até hoje. Dentro e fora de campo.

Por que o Fluminense está com dificuldades de encaixar uma sequência de bons resultados?

Acho que não é uma questão apenas do Fluminense, este Campeonato Brasileiro está muito equilibrado. Você pode ver que a gente teve vários tropeços e ainda está a poucos pontos do G4. Não é algo que está restrito ao Fluminense, todas as equipes estão tendo esses altos e baixos devido ao bom nível do campeonato, todo mundo com chance de classificar para a Libertadores. Espero que a gente deixe os baixos para trás e continue apenas nos altos.

Levir Culpi tem falado bastante sobre melhorar o aproveitamento do ataque. O que está faltando para encaixar?

A gente está criando bastante, mas não estamos conseguindo os gols. Mas não é nada especial. Todo jogo a gente põe a bola na trave, é coisa pouca, não é deficiência técnica. Tem dia que a bola vai 2cm para lá e vai na gaveta e outro dia que ela vai para fora. Estamos evoluindo na competição e temos muita coisa para melhorar ainda, como qualquer outra equipe.

Por que o torcedor pode acreditar que o time vai brigar por títulos nesta temporada?

O torcedor tem motivos de sobras para acreditar pelo histórico do Fluminense de viradas na tabela. Podem falar que na época tinham grandes jogadores, mas esses mesmos eram questionados antes de conquistarem o que é lembrado agora. A torcida precisa acreditar, pois precisamos estar juntos nos jogos.

São três jogos e três vitórias no Brasileirão em Edson Passos. Qual a importância da torcida?

Tem ajudado muito. O campo ainda não está 100%, mas já melhorou muito em relação ao que era. A torcida influencia bastante. Outros times no campeonato são assim, quando jogam dentro de casa, com o seu torcedor, acabam tendo um desempenho melhor que fora. Nós sofremos este ano com isso, porque viajamos para vários lugares, e mesmo como mandante, a torcida adversária era superior em alguns jogos que perdemos, mas não foi só por isso. Espero que continue dando certo enquanto estivermos jogando lá.

Seria muito significativo conquistar mais títulos antes de uma eventual saída do clube?

Ainda não tem transferência. Ganhar título é sempre bom, independente do momento. Estou bem tranquilo quanto a questão da saída. Meu foco é no Fluminense, tenho dois importantes campeonatos a disputar e com boas chances de brigar por algo melhor. Não me preocupo com transferência.

Mas a Europa é um caminho natural da sua carreira, certo?

Tenho em mente desde que eu era criança. Não é agora, só porque estou com a cidadania, que penso em jogar na Europa. Tenho 22 anos, sou um sonhador, tenho muita coisa para viver. É um sonho que tenho, mas não me preocupo. Se tiver que ser agora, daqui há anos, não me interessa.

Os clubes brasileiros têm segurado um pouco mais as joias. Existe idade certa para sair?

É relativo. Se o moleque dá certo lá todo mundo diz que era o momento certo. Se fica no banco dizem que foi muito novo. O futebol é momento e tudo é questão de oportunidade, não tem isso de idade. Quanto mais novo sair, mais fácil de se aprender.

Você esteve perto de participar dos Jogos Olímpicos. Ficou um sentimento de frustração por ficar fora da lista final, após ter tido chances na Seleção Sub-23?

Eu tinha um pouco de esperança de ir, mas já sabia da dificuldade que seria ser convocado.Eu já esperava, eu sentia a dificuldade, porque os meninos do meio para frente que jogam na Europa acabam com uma chance maior pelos times que eles jogam. Mas não tem problema. Eu nunca me preocupei com o que é do outro. Eu sei que o que é meu está guardado. Eu vivi isso de dois anos para cá de uma forma absurda, de ver que o que é meu está guardado. Cabe só a mim aproveitar as oportunidades que vão aparecer. Talvez não uma Olimpíada no Brasil, mas já passou. Que bom que eles ganharam, só tem moleque bom lá e todos eles mereceram demais o título.

Em breve vocês estarão no novo Centro de Treinamento do Fluminense. Quais serão os benefícios para o elenco?

Ajuda muita coisa, desde a privacidade dos treinos, que é maior, até a questão física, que vai melhorar muito. Os meus joelhos agradecem.

O trabalho feito pelos médicos é um diferencial, são raras as lesões. Percebe alguma diferença no trabalho no dia a dia?

Só joguei profissional aqui no Fluminense e no Red Bull, a fisioterapia do Fluminense é uma das melhores do Brasil, é nítido que estamos passando por uma reestruturação e o que eles fazem é quase um milagre você não ter muitas pessoas no departamento médico. O departamento está de parabéns.