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Empresário que ajudou na venda de Neymar luta contra doença rara

Marquinhos Malaquias (c), luta contra a polimiosite - Instagram/Reprodução
Marquinhos Malaquias (c), luta contra a polimiosite Imagem: Instagram/Reprodução

24/11/2016 07h15

- Há 10 dias eu não conseguia levantar da cama, nem ir ao banheiro sozinho.

Esta é uma história de superação. Um dos empresários mais influentes dentro do futebol brasileiro nos últimos anos e fundamental na venda de Neymar ao Barcelona, o paranaense Marquinhos Malaquias já lutou muito pelos interesses de seus agenciados. Agora, sua batalha é contra uma doença rara e de cura complicada: a polimiosite. O problema é uma inflamação dos músculos do corpo e enfraquece principalmente as coxas e os ombros, impossibilitando rapidamente o paciente de andar e mexer os braços. Marquinhos começou a sentir fraqueza no fim de maio. No fim de julho ele já estava em uma cadeira de rodas. O diagnóstico assustou o empresário de 42 anos, mas não o derrubou. Hoje, após ficar hospitalizado em setembro e quase morrer em uma cirurgia em outubro, ele comemora seu "renascimento" após muita fisioterapia e medicações: - Já comecei a dar alguns passos devagar, estou muito feliz.

Marquinhos Malaquias trabalhou dentro do futebol por 12 anos, até 2014. Neste período, conseguiu êxito em grandes vendas com seus jogadores. Rafinha foi para o Schalke 04, Henrique e Keirrison partiram rumo ao Barcelona. Com ótimo trânsito no Barça, ele também fez laço entre o clube catalão e Neymar, que não era seu assessorado, e foi decisivo na transferência do craque. Depois disso, resolveu "parar no auge" e focar só a sua empresa de consultoria de negócios, a MM Business. Tudo vinha bem até 28 de maio deste ano. Naquele dia, em Milão, pouco antes da final da Liga dos Campeões entre Real Madrid e Atlético de Madrid, a polimiosite se manifestou pela primeira vez.

- Antes do jogo, andei do estacionamento até o estádio e senti muito cansaço. Depois da partida, eu estava com alguns amigos eles queriam ir a pé em um restaurante, mas eu não aguentava andar. O pessoal até brincou: "Malaquias, deixa de ser preguiçoso". Voltei ao Brasil, tomei umas vitaminas, mas não adiantou. Aos poucos fui vendo que a coisa era grave e aí entrei em contato com médicos - disse Marquinhos, que desde então tem travado uma guerra contra a doença, que só pode ser curada com medicação aliada a fisioterapia. E fazer uma hora e meia de fisioterapia todos os dias com os músculos inflamados é um desafio e tanto para vencer:

- Quando eu já não conseguia mais andar, me indicaram um médico neuromuscular. Logo fui diagnosticado com polimiosite. É uma doença autoimune, meus músculos começaram a "brigar" entre si, me deixando sem massa muscular. É uma doença que, entre aspas, não tem cura, porque tira as forças. Mas quando falaram para mim que não tinha cura, eu coloquei o contrário na minha cabeça. Nunca aceitei meu diagnóstico. Entendo, mas não aceito. E daí eu comecei a batalhar com muita fisioterapia. Estou peitando a doença e evoluindo. Se eu tivesse ficado chorando, estaria de cama até hoje.

Com o diagnóstico em mãos e hospitalizado, Marquinhos começou a publicar em suas redes sociais o dia a dia da batalha contra a polimiosite. Lá ele escreve mensagens de otimismo, traz informações sobre a doença e mostra fotos com momentos do seu tratamento (veja em galeria no começo da nota). Entre progressos e dificuldades, o agente passou pelo momento mais delicado de sua vida no fim de outubro, quando precisou de cirurgia e quase morreu.

- Tenho que tomar polivitamínicos para ficar mais forte, mas os médicos viram que meu intestino não estava absorvendo os nutrientes de forma suficiente e por isso precisei de uma cirurgia no intestino. Só que um dia depois passei mal na UTI e na ressonância foi detectado que eu estava com hemorragia interna. Quase morri. Fiquei quatro horas de cirurgia até conseguirem estancar. Foi um milagre. Quando acordei, o médico falou para mim: "Você é um vitorioso". Eu sou um cara que tem uma fé muito grande. Sempre acreditei que minha história não acabaria ali naquela sala de cirurgia. Quando eles começaram a me sedar, falei com o médico: "Faz sua parte, que com o barbudo lá em cima eu já estou acertado que vou sair dessa para ver meus filhos crescerem".

Marquinhos tem três filhos: João Gabriel, de 17 anos, Maria Júlia, de 13, e Francisco, que tem 7 anos. E o quarto herdeiro está vindo. A esposa do agente está grávida de 6 meses. Logo chegará ao mundo o pequeno Marcos Filho. Cheio de otimismo, o empresário faz planos à espera de um grande 2017.

- Neste mês de novembro já deixei o hospital para trás, evoluí bem e voltei a trabalhar no meu escritório nesta terça-feira. Estou retomando a rotina. Ainda uso cadeira de rodas, mas já consigo dar alguns passos antes de vir o cansaço. Na próxima semana começarei na hidroterapia. Minha meta é melhorar todas as semanas e até o fim do ano quero estar dançando valsa. Em 2017, quando meu filho nascer, será uma festa! Todo mundo tem um problema, mas basta a gente enfrentar ele com alegria e otimismo que tudo acaba dando certo. No começo disso tudo eu pesava 90 kg. Cheguei a ficar com 59 kg. Hoje estou com 66 kg, melhorando. Coloquei na cabeça que não podia desistir. Estive na UTI, ferrado, mas sempre pensei: "Vou desistir? Eu não! Eu vou vencer essa p...".

INSPIRAÇÃO EM WASHINGTON 'CORAÇÃO VALENTE'

Marquinhos Malaquias iniciou no agenciamento de jogadores em 2002 e seu primeiro assessorado foi o atacante Washington, ex-Atlético-PR, Fluminense e São Paulo. Hoje com 41 anos, o ex-atleta teve, também em 2002, diagnosticado que uma de suas artérias estava quase obstruída e havia o risco de um infarto. Então com 27 anos, submetido a cirurgias de cateterismo e angioplastia, ele teve que deixar o Fenerbahçe e foi aconselhado a abandonar o futebol. No entanto, com muita persistência, voltou a jogar e brilhou até 2010, ganhando o apelido de "Coração Valente". Hoje, Washington inspira seu antigo empresário.

- Eu estava junto com o Washington quando ele recebeu os resultados do exame no coração. Quando disseram que ele poderia parar de jogar, ele falou: "Eu vou voltar a jogar". E ele voltou, foi artilheiro do Brasileiro de 2004 (pelo Atlético-PR), campeão muitas vezes depois. É uma inspiração para mim.

O futebol proporcionou inúmeras emoções ao empresário, porém ele decidiu deixar o mundo da bola em julho de 2014. O agente justifica sua escolha:

- Parei no futebol. Alguns jogadores ainda me ligam pedindo conselhos, mas não sou mais empresário de atletas. Graças a Deus a gente fez vários negócios, realizamos o sonho de vários jogadores. É preciso muita dedicação para ser empresário de jogador e eu sempre fui muito presente na vida dos meus atletas. Só que eu queria cuidar mais da minha família. Aí pensei: "Vou me dedicar agora a outros projetos, quero mais tempo com a família". E encerrei a atuação no futebol. Fizemos tudo o que se pode imaginar. A última operação que participei foi a do Neymar, que acabei ajudando. Depois disso falei para mim: "Sabe de uma coisa, no futebol eu já fiz tudo". Hoje tenho uma empresa de consultoria de negócios. Deixei a maioria dos meus atletas muito bem financeiramente, foi muito legal. Mas hoje, futebol só no pay per view (risos).

COM A PALAVRA

José Renato Félix Bauab

Neurologista do Hospital Sírio Libanês/Hcor e membro da Academia LANCE!

"A polimiosite é uma doença que tem base imunológica, é autoimune. O sistema imunológico, ao invés de defender o corpo, acaba agindo contra. A polimiosite atinge principalmente os músculos das coxas e próximos aos ombros. É uma inflamação muscular dolorosa, que resulta na fraqueza dos músculos também. O tratamento normalmente é feito com cortisona, e assim é possível conseguir um controle da doença. Sobre cura, em alguns casos, ela vem com o tempo. Em alguns casos, existem outras doenças que levam à polimiosite. Nestes, conseguindo encontrar e curar a primeira doença, a polimiosite também se encerra. Normalmente, a polimiosite não causa morte".