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A difícil relação na parceria na visão de Paulo Nobre e da WTorre

Cesar Greco/Fotoarena
Imagem: Cesar Greco/Fotoarena

17/12/2016 07h10

Nos quatro anos da gestão de Paulo Nobre, Palmeiras e WTorre tiveram relação conflitante. A parceria com a construtora na administração do Allianz Parque é comparada a "dormir com o inimigo" pelo presidente que deixou o cargo na quinta-feira. Rogério Dezembro, ex-diretor do clube e agora na diretoria da construtora, foi bastante criticado.

"Realmente é um parceiro que a gente pode dizer que é quase que dormindo com o inimigo, só que a gente tem de saber conviver com isso, a vida não são só flores. Pode ser que o Palmeiras tenha que conviver com a parceira por mais 28 anos e tem de saber viver da melhor forma de maneira institucional. A falta de respeito com o clube acontece diariamente", disse Nobre.

Veja abaixo o que disse o ex-presidente ao LANCE! e as respostas da construtora enviadas a reportagem. Os parceiros assinaram contrato de 30 anos e ainda restam 28 a percorrer - a arena abriu no fim de 2014.

ARBITRAGEM

A divergência na avaliação do contrato sobre a divisão das cadeiras da arena gerou a maior briga entre os parceiros, na corte arbitral. Após dois anos de discussão, o Verdão venceu, e ficou definido que a WTorre só pode vender 10 mil cadeiras especiais (parte desta cota já está sendo comercializada), não todos os assentos, como a construtora desejava. O restante das cadeiras fica sob poder do clube. A briga revoltou o dirigente alviverde.

Nobre: "Achei tão feio tudo isto que se discutiu. Eu era vice-presidente em 2007 e 2008, acompanhei na risca tudo que foi discutido, as premissas levantadas de como seria o relacionamento dos parceiros na arena. E achei uma vergonha alguns anos depois se discutir tudo que já tinha sido absolutamente discutido várias vezes. É uma coisa que me embrulha até o estômago ver um profissional que era do departamento de marketing do Palmeiras (Rogério Dezembro), que ajudou a criar toda a estratégia de marketing para poder passar ao conselheiro e sócio para aprovar o negócio, aí em 2010 assina um documento que não é que fala o contrário, mas deixa tudo tão genérico que levou à possibilidade de discussão. E este mesmo funcionário de marketing, tão logo assinou o contrato com o Palmeiras, foi trabalhar na WTorre. E quando eu pedi ajuda dele: 'fala para o teu chefe o que a gente combinou, poxa. Você estava sentado do nosso lado no balcão'. E o cara olha para mim com a maior cara de pau e diz: 'eu não lembro. Não era conselheiro, não participava das reuniões'. Ele que fez toda a estratégia! Quer dizer, foi muito, muito, muito feio tudo que aconteceu."

WTorre: "A empresa não entende haver 'feio ou bonito', quando se trata do maior investimento feito por uma empresa privada em um clube na história do futebol brasileiro. Relações entre instituições e pessoas sérias devem seguir as regras previamente estabelecidas entre as partes. No caso, o acordo previa a arbitragem. Estranhamos o fato do ex-presidente do clube 'achar feio' a discussão na arbitragem, quando o mesmo era vice-presidente quando da assinatura do acordo. Em relação ao sr. Rogério Dezembro, vale registrar que o afirmado pelo ex-presidente do clube é mentira. O sr. Rogério Dezembro, como não era nem nunca foi conselheiro do clube, não poderia ter planejado e/ou coordenado reuniões prévias envolvendo os conselheiros, pois só os conselheiros tinham acesso a essas reuniões. O sr. Rogério Dezembro era diretor de marketing estatutário (não remunerado) do clube à época e não se envolveu na negociação da arena, conduzida pela diretoria de planejamento, cujo titular era o sr. Luiz Gonzaga Belluzzo, além da diretoria jurídica do clube, à época conduzida pelo dr. Antonio Augusto Pompeu de Toledo."

COPOS COMEMORATIVOS

Durante o ano, a WTorre comercializou nas lanchonetes da arena copos personalizados do Palmeiras. Paulo Nobre não aprovou a ideia:

Nobre: "É uma vergonha. Eu vejo estes copos que eles fizeram, e eles até têm direito a fazer coisas alusivas à arena, mas não, é alusivo à conquista da Copa do Brasil, não passa o layout pelo clube. Quer dizer, tem palmeirense que infelizmente acaba consumindo sem saber que acaba não colaborando tanto assim com o clube, mas isto não é uma atitude de uma parceira."

WTorre: "A empresa tem direito, por contrato, de comercializar qualquer item (camisetas, copos, chaveiros, brinquedos, etc.) utilizando o escudo e outros símbolos do clube, desde que em conjunto com o nome da arena. Dessa forma, a empresa não entende ter descumprido nenhuma regra do acordo em vigência. Vale o registro de que, por pura cortesia ao clube, a empresa comercializou os copos apenas dentro das dependências da arena, sem interferência alguma nos canais de vendas tradicionais de artigos do clube."

CAMAROTES

No jogo contra o Flamengo no Allianz Parque, Nobre envolveu-se em uma confusão no camarote na arena. Ao ver um convidado comemorar o gol rubro-negro do empate em 1 a 1, o então presidente se irritou e quis tirá-lo do local - naquele jogo, o STJD havia proibido a entrada de flamenguistas no setor de visitantes. Em resposta ao problema, a WTorre colocou uma câmera de segurança no camarote da presidência, seguidamente tampada por um funcionário do clube. Segundo o dirigente, o Palmeiras chegou a criar um manual de conduta em dias de jogo, mas a construtora nunca o repassou.

Nobre: "Não é atitude de uma parceira a gente criar um manual de conduta de como as pessoas se comportam dentro dos camarotes em jogos do Palmeiras e eles não passarem a nenhum dono de camarote. Deixam a coisa rolar solta. É uma falta de respeito, com o clima que estava entre Palmeiras e Flamengo no final, eles alugarem camarotes pontuais para cariocas assistirem ao jogo na nossa casa, torcerem contra a gente. Sendo que estava proibido pelo STJD a presença de torcida do Flamengo, ou seja, não tinha espaço para eles onde a gente poderia dar a devida segurança ao torcedor adversário. Agora se está proibida a presença dele, a partir do momento em que ele se demonstra, o que acaba acontecendo? Ele apanha! O que é pior ainda. E quem acaba sendo penalizado? O Palmeiras. A chegar na coisa ridícula e patética de colocar uma câmera para fiscalizar a presidência do Palmeiras. Quem são eles? Quem eles pensam que são? Está de brincadeira? O estádio é nosso, que está entre aspas cedido a eles, que volta em comodato no dia dos jogos. Eles têm todo o direito de exploração pelos próximos 28 anos e que ganhem muito dinheiro com isso, tem todo direito."

WTorre: "A gestão da arena é responsabilidade da empresa e não do clube. Em virtude disso, a gestão anterior do clube não tinha qualquer direito a editar 'manuais de conduta'. A invasão de camarotes privados e a obstrução de câmeras de segurança só atestam a incapacidade de membros da gestão anterior de se comportarem de forma respeitosa. A área dos camarotes compreende dois andares isolados da arena, onde nunca houve restrição e/ou separação de torcidas. Como seria possível adotar essa restrição, se o próprio clube cede camarotes à diretoria do clube visitante? Crítica oportunista de quem não gere e, portanto, não conhece a operação."

REPASSE DOS VALORES

Por contrato, quando o Palmeiras precisa jogar fora de casa graças a um evento marcado no Allianz, a WTorre deve pagar uma multa: 50% da renda bruta desta partida, além dos 20% do aluguel do Allianz para eventos. A construtora não tem feito o repasse sob o argumento de que o Verdão também não paga valores de manutenção do Allianz Parque.

Nobre: "Que façam shows, mega-shows, eventos, tudo. Desde que não tirem o Palmeiras no dia dos seus jogos de lá. E quando tirar, por favor paga, tá? Não adianta fazer e não pagar, dizendo que a gente está devendo dinheiro para eles. Não pagam nada! Nada! Pagam uma coisa que eles apresentam da gente que se arrecadou no mês, e etc., mas os grandes números eles sempre colocam em discussão."

WTorre: "A empresa, desde a abertura da arena, cumpria integralmente seus compromissos com o clube. Entretanto, como a gestão anterior nunca cumpriu seu compromissos com a a rena, esses pagamentos foram interrompidos. O clube nunca cumpriu com o dever estipulado em contrato de reembolsar as despesas com energia, água e outros insumos dos jogos. Reiteramos que a gestão anterior nunca reembolsou R$ 1,00 das despesas dos jogos, a que o clube é obrigado pelo acordo, deixando essa dívida milionária para a nova gestão."

GRAMADO

A condição do gramado do Allianz Parque na reta final foi motivo de críticas de jogadores, direção e comissão técnica. Depois de um trabalho de recuperação para os últimos jogos do Brasileiro, o campo apresentou melhora para as partidas contra Botafogo e Chapecoense.

Nobre: "O gramado precisa estar em condições porque o Palmeiras é um time de futebol. E aquele pasto que eles deixaram o gramado, aquela coisa ridícula, é uma falta de respeito com o clube. Sou super a favor deles explorarem e ganharem todo o dinheiro que conseguirem sem que não prejudiquem o clube."

WTorre: "O Allianz Parque é o estádio com gramado natural que mais recebeu shows no mundo em 2016. Em alguns jogos, de fato, o gramado não estava à altura das demais instalações da arena, entretanto, nunca comprometeu o aspecto técnico ou colocou em risco a segurança dos atletas. Importante registrar que o clube fez avaliações prévias do campo de jogo antes de todas as partidas na arena. Ou seja, se havia algum problema, o clube nunca se pronunciou. Registramos que, após o jogo contra a Chapecoense, o próprio técnico Cuca, em entrevista coletiva, agradeceu o empenho da empresa no trabalho do gramado, dividindo com a equipe da arena o título brasileiro."

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