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Eduardo Baptista já aproveita o Centro de Inteligência do Palmeiras

09/01/2017 07h30

Em sua apresentação, Eduardo Baptista disse que assistiu no último mês aos 38 jogos do Palmeiras no Brasileiro em câmera aberta, ou seja, com imagem do campo todo. O novo treinador foi municiado com este vasto material por um departamento que ganhou importância nos últimos dois anos no clube: o CIP (Centro de Inteligência do Palmeiras). É lá que os analistas de desempenho Gabriel de Oliveira, Gustavo Nicoline e Rafael Costa trabalharam repassando informações para diretoria, comissão técnica e jogadores.

O trio trabalha em três setores: monitoramento de jogadores, análise do próprio time e dos adversários. Eles têm a responsabilidade de colaborar na tomada de decisão dentro do departamento. Esta interligação foi um investimento feito pela dupla que comanda o futebol do clube desde o início de 2015, Alexandre Mattos e Cícero Souza.

- Nosso foco é ajudar a qualificar a tomada de decisão de quem for, do comando técnico ou da direção do clube. Qualificando você minimiza o erro - explicou ao LANCE! Gustavo Nicoline, contratado em 2015 pelo Verdão.

No mesmo período, chegou Gabriel, então parte da comissão técnica de seu pai, Oswaldo de Oliveira - ele seguiu no Verdão mesmo após a troca de treinador. Rafael Costa é o que está há mais tempo: desde 2010. Ele, portanto, foi o que viu de forma mais próxima esta reformulação, já que durante quatro anos trabalhou sozinho na função. Nos últimos dois anos, com uma equipe maior, o CIP conseguiu ampliar os pontos de atuação.

No dia a dia, os vídeos colaboram no acerto de erros cometidos pelo time ou na explicação de pontos específicos entre a comissão técnica e atletas. Cuca chegou a fazer reuniões com todo o grupo dentro desta sala para mostrar situações de jogo.

Na análise de adversários, a tarefa é longa. Durante o Brasileiro, era preciso apresentar um relatório à comissão técnica depois de se assistir aos quatro últimos jogos do rival, sendo dois deles do estádio. Aos jogadores, enviam em grupos do WhatsApp vídeos com detalhes dos jogadores que irão enfrentar.

- Se jogássemos em casa, tínhamos de ver pelo menos um jogo fora (do adversário), porque a maioria tem diferença dentro e fora de casa. Há uma programação definida previamente para isto acontecer - disse Gabriel.

- No WhatsApp temos um grupo dos jogadores de linha, fazemos um grupo por jogo. São escalados a perspectiva do time que vamos enfrentar. Priorizamos características individuais de cada atleta do adversário que temos necessidade. É um vídeo de um minuto e meio, dois minutos. Dentro do grupo lançamos todos os vídeos individuais e deixamos o jogador à vontade para ver. Paralelo a isso, temos um grupo separado de goleiros, com particularidades. Mandamos bolas paradas, faltas laterais, faltas frontais, escanteios, batidas e estudos de pênaltis, que são enviados de praxe, vários clubes fazem. A metodologia foi bem aceita. Os jogadores já criaram até o hábito de ver no celular antes do jogo, da preleção e agora dão sugestões - completou Gustavo.

Nestas viagens para estudo de adversários, os analistas acabam tendo contato mais próximo com jogadores que estão no radar do clube. Não necessariamente o reforço é indicado pelo CIP, mas os três fazem um monitoramento da Série A, Série B e campeonatos internacionais de diversos lugares do mundo, e encaminham relatórios quando necessário sobre estes atletas monitorados.

- A gente sempre busca se enquadrar no padrão da equipe, determinado pela diretoria. Você busca o jogador mais próximo possível do substituído. Um caso que eu posso citar é de quando o Gabriel se machucou (em 2015). O Palmeiras teve de ir atrás de um jogador com as mesmas características, estávamos restritos à Série B e buscamos o Thiago Santos - lembrou Rafael.

Neste caso, o Footstats, programa de estatísticas, foi o ponto de início para busca de um novo volante. Após ver números de Thiago que os agradaram, montaram um relatório mais completo do jogador, que acabou contratado. Com um departamento agora mais estruturado, o sistema de monitoramento tornou-se mais completo e agrega informações como: aspectos físicos, técnicos, táticos, participação em jogos, histórico de lesões, de títulos e formação na base.

- A gente não contrata jogador nenhum. A gente dá o nosso parecer, a nossa impressão. Se a diretoria vai contratar ou não, é outro lance. Seria a opinião do CIP, apenas - complementou Rafael, o centralizador do sistema de monitoramento.

Agora em uma nova sala, próxima ao vestiário, e com a estrutura mais bem definida, o CIP espera colher ainda mais frutos a partir de 2017. Em um clube que aposta muito na troca de informações entre as diversas áreas da comissão técnica, Eduardo Baptista terá uma base de informações importante para o restante da temporada.

Monitoramento da Série B

No dia da entrevista, no fim de 2016, uma das paredes do CIP estava coberta com times da Série B e nomes de seus jogadores do elenco. Isto faz parte de um projeto que envolve os três analistas, o analista da base (Dias), os três técnicos e quatro olheiros também das categorias de base. Cada um assistiu a um jogo da Série B por rodada e teve de entregar um relatório com o destaque daquela partida, de acordo com parâmetros estabelecidos antes em uma planilha do Excel. Os jogadores que passam a se destacar entram com uma etiqueta de cor diferente. O monitoramento não necessariamente significa que o Verdão fará uma oferta pelo jogador, mas é uma forma de ter opções em caso de necessidade.

- São 11 profissionais neste projeto. Acabou a rodada, mandamos um jogo para cada um. E todos precisam ver e devolver um relatório em três dias com pelo menos um jogador. Para ter o cara no radar. Quando ele atinge três relatórios, ele fica amarelo. Quando atinge cinco relatórios, fica vermelho. O azul seria o acima de dez. Isto não serve só para ver jogadores, mas para recolocar emprestados. Um exemplo: tem um time com dois meias no elenco, e você tem um meia que não vai usar. Você pode ligar e sugerir. É uma maneira às vezes de recolocar o jogador que não está sendo usado - explicou Rafael.

Este plano foi usado na Série B por ser um mercado vasto e que não há um contato tão próximo quanto a Série A, por exemplo. Na Primeira Divisão, os analistas consideram terem vistos a maioria das partidas, entre viagens e análise por vídeo. Assim, monitorar este campeonato é mais simples.