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Em São Luis, São Paulo confirma temor de Ceni: time fala muito pouco

10/02/2017 08h15

O São Paulo venceu, se classificou para a segunda fase da Copa do Brasil, dominou o Moto Club-MA praticamente em todo o jogo, mas um problema que tem tirado o sono do técnico Rogério Ceni persistiu em São Luis do Maranhão: simplesmente, o time não se fala em campo, ou fala muito pouco. Sintoma que a reportagem do LANCE! pode contastar de perto.

Quem já teve a oportunidade de acompanhar um jogo do São Paulo do campo, e não das cabines de imprensa, tem facilidade de reparar no "silêncio". Eu mesmo pude ver isso na última quinta-feira, quando o Tricolor derrotou os donos da casa por 1 a 0 no Castelão. Não falta garra ao São Paulo, tampouco vontade, ou mesmo organização. Mas é raro ver comunicação entre os atletas, muito menos cobranças entre eles, algo que por muitas vezes é fundamental no futebol. E isso incomoda Ceni, como ele mesmo já admitiu.

Com acesso ao gramado, optei por ficar sempre atrás do gol do Moto Club, nos dois tempos. Como o São Paulo na maior parte da partida ficou no campo de ataque, facilitou meu trabalho de observação. No primeiro tempo, um dos raros momentos de "comunicação" entre os são-paulinos foi do zagueiro Maicon. Em cobrança de escanteio, ela estava posicionado atrás de Rodrigo Caio e quando a bola vinha na direção deles, o capitão mandou, quase como ordem: "Sobe! Sobe!", avisando Rodrigo de que ele estava bem posicionado para tentar o cabeceio. O desfecho da jogada não levou perigo ao Moto.

Ainda no primeiro tempo, o São Paulo chegou muitas vezes à intermediária do Moto, até com certa facilidade. Mas quando precisava trocar os passes finais, já na entrada da área, tinha dificuldade. Não falta qualidade. Cueva, Cícero, até mesmo Thiago Mendes sabia onde colocar a bola. Mas eles simplesmente não se falam. É como se tivessem a certeza de que podem resolver tudo só com o olhar. Habilidoso além da conta, Cueva até consegue se virar. Porém, sempre que uma jogada era interceptada já perto da área do adversário, os são-paulinos reagiam como se nada tivesse acontecido. Nem aquela reclamação típica de quem imaginou o lance de outra maneira foi vista. Dava-se de ombro e segue o jogo.

É bom lembrar que o São Paulo ainda está em início de temporada, mas o problema de comunicação é antigo no clube. Tanto que foi preciso Lugano, que nem entrou em campo, para quebrar essa monotonia. O lance se deu pelos pés de Gilberto. Em seu último lance na partida, o autor do gol da vitória desperdiçou uma chance quase debaixo do gol. O esforço físico para alcançar a bola o levou ao chão, com câimbras. Aquecendo-se do lado de fora e atrás do gol para onde Gilberto chutou para a fora, Lugano foi em direção ao companheiro e emendou: "Vai, levanta, não deixa o time com dez". Gilberto consentiu e tentou voltar, mas logo foi substituído.

São interferências como essas que dão alma ao time, algo que tem faltado ao São Paulo nos últimos anos. Em outra rara comunicação entre os atletas, Chavez reclamou de não ter recebido passe de Buffarini, que preferiu uma jogada individual. Eles se entendem melhor pelo castelhano, ambos argentinos.

Enquanto isso, no banco de reservas, Rogério não parou. Gesticulou, gritou, se irritou. Na volta para o segundo tempo, ele ainda não tinha chegado ao banco de reservas quando o jogo foi reiniciado. Nem ligou. Caminhava atrás do gol e tentava passar instruções, mesmo que naquele momento os jogadores não pudessem receber a mensagem. É a tentativa do comandante de contagiar seu time. Os jogadores podem fazer isso, de diferentes maneiras. Uma delas é conversando mais. Algo que ainda não tem acontecido.