Topo

História, pressão e zoeira: Cássio quer clássico como ponto de virada

Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
Imagem: Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians

22/02/2017 07h00

Na infância em Veranópolis, no Rio Grande do Sul, Cássio sabia pouco da rivalidade entre Corinthians e Palmeiras. Mais habituado com o Gre-Nal, ele passou a ter ideia do que era um Dérbi em 1999. Naquele ano, no início da adolescência, o futuro goleiro se chocou ao ver Edílson Capetinha fazer as históricas "embaixadinhas" na final do Paulistão conquistado pelo Corinthians, lance que resultou em uma batalha campal entre jogadores dos dois clubes.

O tempo passou e Cássio aprendeu mais sobre o clássico e tudo que o cerca, como paixão, zoeiras e a pressão da torcida. Tanto que hoje ele aponta o clássico como o maior jogo do Brasil e convive com a rivalidade até na hora de mudar de casa...

"Acabei de comprar um apartamento de um cara que é palmeirense. Ele até brincou: 'Ah, se você jogasse no Palmeiras seria mais fácil a negociação'", contou, rindo, ao LANCE!

Mais viva que a lembrança de 1999 está a de uma outra partida entre os rivais, na qual ele já vestia a camisa alvinegra, Curiosamente, ele não teve uma atuação espetacular, nem saiu vitorioso de campo naquele duelo. Mas a raça e superação demonstrada pela equipe no empate em 3 a 3 com o rival, no Allianz Parque, no Brasileirão de 2015 jamais saíram da cabeça dele.

"É marcante pela situação, por ter terminado com título nacional. Para mim foi um dos resultados fundamentais naquela sequência para buscar o título", diz o camisa 12,.

Nesta quarta-feira, às 21h45, na Arena, Cássio espera um clássico com o mesmo efeito, que dê confiança ao time e à Fiel depois de uma temporada na qual o Corinthians não conseguiu vencer o maior rival nenhum vez.

Para ele, há uma importância extra. O Palmeiras é o rival contra o qual o goleiro tem o pior aproveitamento. Empatado com o Santos e em vantagem sobre o São Paulo, o camisa 12 tem mais derrotas do que vitórias sobre o Palmeiras e aproveitamento de 38,8%.

"Ganhar clássico sempre ajuda num momento de crescimento e evolução. Estamos em começo de trabalho, de repente a torcida pode se animar com um resultado positivo. O Corinthians tem um histórico de raça e dedicação, e isso é o que não pode faltar, nem que seja uma vitória por 1 a 0!", disse

CONFIRA A ENTREVISTA DE CÁSSIO.

Você conhece o Fernando Prass?
Conheço, sim. Já encontrei com ele até no mercado, em restaurante... Ele mora em Alphaville, eu também. Temos uma relação boa, conversamos um pouco, sempre que dá. Ele é gente boa, tranquilão. É difícil goleiro ter má relação com outro. Tem uns que você só cumprimenta, outros que você é amigo. Mas sempre se dá bem.

O que vem à sua cabeça quando se fala de Dérbi?
Teve bastante clássico importante, hein? Teve o 3 a 3 de 2015, que foi um momento decisivo do Brasileiro, de repente uma derrota podia ter abalado a gente, mas conseguimos o empate num baita jogo, disputado, leal, sem falta de respeito, um jogo bacana com resultado justo. Fomos muito vitoriosos no Pacaembu também, teve o primeiro clássico da arena do Palmeiras que vencemos. São vários.

É normal que se lembre de clássicos decisivos com vitória do seu time, mas você lembrou de um empate no meio do campeonato... Por que?
É pela situação, por ter terminado com título. Para mim foi um dos resultados fundamentais naquela sequência para buscar o título. É que é difícil, porque sendo sem sincero eu sou do Sul, acompanhava Grêmio e Inter, nunca achei que eu fosse jogar no Corinthians quando comecei minha carreira. Tu acompanha, naquela época o Grêmio tinha rivalidade com outros, então não vivenciei a rivalidade entre Palmeiras e Corinthians. Não tenho lembranças, mas sei que houve jogos históricos, decisivos. Prefiro falar do que participei, que foram clássicos bem decisivos. Sobre o 3 a 3 foi um resultado bom dentro da campanha do meu primeiro título brasileiro.

Lá no Sul, o que ouvia quando falavam de Palmeiras e Corinthians?
Ah, que era bem disputado, semelhante ao Gre-Nal. O que lembro bem foi aquela briga do Paulista, que comecei a acompanhar do Edilson com o Corinthians campeão. Eu lembro disso. Lembro da Libertadores, que teve jogos decisivos. Tem uma série de coisas bem legais da rivalidade das torcidas e dos times.

Esse clássico das embaixadinhas marcou mesmo...
É claro. Aquela briga lá... de respeito mesmo.

Você lembra do seu primeiro Dérbi jogando?
Foi no Pacaembu, com mando do Palmeiras, em 2012. E se eu não me engano nós ganhamos de 2 a 0, com gols do Paulinho e do Romarinho. Acho que o Luan foi expulso, o Palmeiras vinha numa situação ruim, no ano em que foi rebaixado. Eles vinham numa pressão grande para ganhar e nós conseguimos nos impor, estávamos em preparação para o Mundial, fomos um time sólido. Foi um jogo que teve muita provocação, Romarinho fez o gol e de tão desligado que era acabou indo comemorar no setor em que geralmente ficavam nossas organizadas. Foi na inocência, nem para provocar, porque ele era daquele jeito mesmo. Acabou que deu uma confusão danada, mas conseguimos uma vitória bem sólida.

Como é sua relação com a torcida do Palmeiras?
Depende do lugar que tu encontra, mas nunca tive problema com nenhum torcedor. Você mora em São Paulo, sabe como é a paixão, não adianta discutir com torcedor. Já passei por momentos em que as pessoas falaram algumas coisas, mas deixei para lá. Discutir pra que? Mas tem torcedores que têm respeito por mim, parabenizam pelo meu trabalho mesmo sendo de outro clube, respeitam como pessoa. Eu não sou um cara polêmico, sou tranquilo, na minha, defendo meu clube. Acho que o respeito é por isso também. Sempre fui bem tratado nos lugares que vou, tirando um ou outro fato isolado.

E amigo palmeirense, tem algum que provoca, enche o saco, conversa?
O pessoal respeita (risos), pede uma camisetinha. Agora acabei de comprar um apartamento de um cara que é palmeirense. Ele até brincou: "ah, se você jogasse no Palmeiras seria mais fácil a negociação"... Mas é um cara superbacana, o Fábio. Gente boa.

O clássico contra o Palmeiras é único que você mais perdeu do que venceu. Isso dá uma energia a mais para vencer?
Clássico já é uma coisa diferente, sabemos da rivalidade. Eu acho que quando cheguei ao Corinthians o clássico com mais rivalidade era contra o São Paulo, até porque o Palmeiras esteve na Série B em um ano e tal. Mas hoje vemos que os três são bem difíceis e o Palmeiras se tornou o maior, pelo crescimento do Palmeiras nos últimos anos. Já é uma motivação jogar no Corinthians, outra por jogar um clássico desse tamanho e mais uma motivação por causa desses números, de melhorar e mudar essa porcentagem.

Você perdeu uma chance de melhorar esse número ano passado. Foi o único clássico em que você ficou no banco de reservas?
Foi sim, quando perdemos de 1 a 0 para o Palmeiras no estádio deles. Fiquei no banco mesmo, jogou o Walter. Mas mesmo no banco fui xingado, é normal de clássico, diferente. Todo mundo quer jogar, mas no momento era o Walter o titular, então tive respeito, ajudei no que era possível, era o primeiro clássico dele como titular e dei suporte a ele, mas infelizmente fomos derrotados.

Os clubes estão fazendo uma campanha chamando de "maior clássico do mundo". Você concorda?
Olha, participando eu acredito que sim. Porque tudo tem uma repercussão muito grande, a proporção também. Quando tem um clássico assim fala-se no Brasil inteiro. E Gre-Nal é restrita ao Sul, talvez pelo fato do tamanho das torcidas, porque no Brasil inteiro tem corintiano e palmeirense. Se não for o maior clássico é um dos maiores, com certeza. A rivalidade está bem acesa.

E essa repercussão não é só fora do clube. No último, o técnico do Corinthians foi demitido no vestiário. Vocês pensam nesses elementos extracampo?
Na semana é sempre diferente, atmosfera. Mas quando vou para o jogo tento esquecer tudo, concentrar somente no jogo. Às vezes fala-se de um jogador especial, mas eu não posso defender só as bolas dele, tenho que defender a bola de quem chutar. Então procuro ficar 100% focado para fazer o melhor. Se eu ficar pensando no que pode acontecer, se pode ter protesto, queda de treinador, não faço meu melhor dentro de campo e fico disperso. Por isso eu tenho foco no jogo e isso ajuda bastante.

E o que tem de diferente para esse Dérbi, em que o Corinthians mudou muito e o Palmeiras tão pouco?
Eles mudaram o treinador, chegaram algumas peças e saiu quase ninguém, é o atual campeão brasileiro, equipe muito difícil de jogar, muito competitiva. Nosso time mudou muito, novas peças, novo treinador, Jadson vem aí ainda, jogadores que vão agregar. Precisamos ter um pouquinho de paciência com o Corinthians, porque pode ser que oscile até engrenar. O Fabio está implantando o jeito dele de trabalhar, tirando o jogo do Santo André tivemos bons resultados e para começo de trabalho está bom. Agora estamos empenhados para fazer um grande clássico.

As poucas mudanças dão vantagem ao Palmeiras?
É difícil dizer. Clássico é complicado. Mas o que conta a nosso favor é jogar em casa, à frente da nossa torcida, que empurra muito. De repente o Palmeiras pode ter a vantagem de ser um time que se conhece melhor, em que mudaram poucas peças, enquanto nós mudamos mais. Mas clássico é clássico, como se fala. É jogo diferente, tudo pode acontecer. Temos que impor nosso mando.

Nos últimos jogos muito se falou sobre impaciência de torcida, mas contra o Palmeiras terá mais gente no estádio. Uma vitória pode ser um ponto de virada?
Impaciência pode ser pelo ano passado, por não termos conseguido a Libertadores. E quando um rival consegue alcançar algo maior joga a pressão para o nosso lado também. O fato de o Palmeiras ser campeão brasileiro aumenta a pressão aqui e nos outros rivais. Ganhar clássico sempre ajuda num momento de crescimento e evolução. Estamos em começo de trabalho, de repente a torcida pode se animar com um resultado positivo. O Corinthians tem um histórico de raça e dedicação, e isso é o que não pode faltar, que seja uma vitória por 1 a 0. Em 2015 muitos jogos ganhamos de 1 a 0 e tomando pressão, então é passo a passo, jogo a jogo, temos um treinador em começo de trabalho e ainda vai ter evolução. De repente pode faltar um pouco de técnica, de entrosamento, mas não vai faltar vontade.

Isso faltou em 2016?
Acho que não. Todos na minha opinião foram um pouco abaixo, oscilaram um pouco. Teve muitas mudanças de treinador, cada um com uma filosofia. Não conseguimos resultados bons, perdemos muito, mas empenho nunca faltou. É que as coisas às vezes não acontecem, é uma obra geral. Alguns jogadores demoraram a se adaptar ao estilo do Corinthians, que é diferente. Pode ser que tenham sentido um pouco a pressão de jogar aqui, mas a culpa foi de todos. Foi um ano de aprendizado e agora temos que dar uma resposta melhor.

Como você define o Dérbi?
É o clássico mais importante de São Paulo e um dos mais importantes do Brasil. Para o Corinthians há sempre muita cobrança por vitória. Não só de torcida, dirigente, mas nós jogadores sabemos que é o maior clássico, que não dá para errar, que tem que estar concentrado e buscar as vitórias.