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Ex-diretor do Corinthians se defende e cita fim da 'Marginal sem número'

06/03/2017 17h59

O ex-diretor financeiro do Corinthians, Raul Corrêa da Silva, negou ter "maquiado" as contas do clube em 2014, como afirmou recentemente o atual chefe do departamento, Emerson Piovesan. Em carta ao Conselho Deliberativo do Timão, ele explicou os critérios adotados na formulação do balancete financeiro daquela temporada e ainda exaltou os feitos da última gestão, presidida Mario Gobbi, da qual fez parte.

Em um trecho do documento, Corrêa cita o "fim da história de 'Marginal sem número'", em alusão às gozações dos rivais pelo fato de o Corinthians não ter um estádio próprio três anos atrás.

As contas do Timão em 2014 foram apresentadas com superávit de R$ 230,6 milhões. Porém, segundo Piovezan, houve déficit de R$ 97 milhões.

Veja abaixo a íntegra da carta de Raul Corrêa da Silva:

Prezado Senhor,

Tendo tomado conhecimento do conteúdo da correspondência encaminhada pelo atual Diretor de Finanças ao Conselho Deliberativo em 2.2.2017 (Anexo I), apresento, na qualidade de Diretor de Finanças na gestão em que elaboradas as demonstrações financeiras questionadas, os seguintes esclarecimentos:

1. O registro contábil das quotas de titularidade do SCCP no Arena Fundo de Investimento Imobiliários observou estritamente a "Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis" definida na Resolução nº 1.374/2011 do Conselho Federal de Contabilidade, e o Pronunciamento CPC 30 emitido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis.

2. A regularidade do registro foi atestada pelos pareceres da RSM Fontes Auditores Independentes e de Machado e Meyer Advogados (Anexos II e III), com base nos quais o CORI - Conselho de Orientação aprovou o critério de contabilização e as demonstrações financeiras auditadas (Anexo IV). Os pareceres confirmam que, de acordo com as normas contábeis aplicáveis, deve ser registrado como receita, ainda que sem o efetivo ingresso de recursos, o "aumento de ativos ou diminuição de passivos, que resultam em aumentos de patrimônio líquido e não estejam relacionados com a contribuição dos detentores dos instrumentos patrimoniais" (Resolução CFC nº 1.374/2011, item 4.25.'a').

3. No curso de minha gestão, o SCCP foi auditado, ainda, pela KPMG, Grant Thornton e RSM (responsáveis pela auditoria de demonstrações financeiras), PwC e RSM (responsáveis pela auditoria de relatório de sustentabilidade) e a Arena Fundo de Investimento Imobiliário, auditado pela Grant Thornton, sem que nenhuma das renomadas empresas de auditoria tenha apresentado ressalvas a critérios de contabilização.

4. As notas explicativas às demonstrações financeiras contêm indicação expressa dos critérios utilizados para o registro contábil e, especialmente, de que o reconhecimento do valor das quotas da Arena como receita não resultava em um "superávit". Consta, ao contrário, a informação de que "encerramos o ano com déficit operacional e aumento no endividamento" (Anexo V). A questão foi também objeto de amplo debate à época, em eventos públicos, inclusive divulgados pela imprensa (Anexo VI). Tais fatos afastam completamente as levianas acusações de "maquiagem do balanço" ou de que "a prática contábil ... distorceu a análise realizada pelos leitores do balanço". Dada a forma transparente e profissional como o tema foi tratado, nem eventual falta de preparo técnico do atual Diretor de Finanças justifica as afirmações.

5. Em razão da extrema gravidade das falsas acusações e da sua esperada repercussão na imprensa, solicito que (i) estes esclarecimentos sejam imediatamente submetidos aos demais conselheiros e a todos os associados, por meio da sua divulgação e dos documentos anexos, no website do SCCP, e (ii) a questão seja encaminhada, com urgência, ao Comitê de Ética, independentemente das demais providências cabíveis.

6. Por fim, registro que a atuação diligente da antiga gestão no registro contábil da participação na Arena foi apenas mais uma das diversas medidas implementadas para conferir maior transparência e eficiência à administração do SCCP - inclusive acabando com a história de "Marginal sem número" -, tais como, por exemplo, a disponibilização periódica em seu website dos balancetes contábeis, a contratação de auditorias independentes de reputação internacional, a elaboração de relatórios de sustentabilidade anuais, a criação do canal de transparência e o maior rigor na preparação dos orçamentos anuais. Como resultado desses esforços, o SCCP (i) recebeu o primeiro lugar nas duas edições do prêmio Transparência no Futebol promovido pela PLURI Consultoria; (ii) teve seu relatório de sustentabilidade indicado para concorrer ao Prêmio Relatório Anual promovido pela Associação Brasileira das Companhias Abertas; e (iii) foi convidado a apresentar seus relatórios anuais na consagrada Global Reporting Initiative em Londres.