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Luiz Fernando Gomes: 'O que, afinal, é Libertadores?'

12/03/2017 07h00

Quanto vale conquistar a América? Pelos critérios de premiação da Conmebol, o time que levantar a taça da Libertadores, em novembro, terá faturado entre R$ 26 milhões e R$ 28 milhões, a depender do número de jogos. O título vale também o direito de disputar o Mundial de Clubes, nos Emirados Árabes, e, se tudo der certo, o que não ocorreu com Inter, Galo e Atlético Nacional, medir forças com o campeão europeu.

O dinheiro não é muito. O prêmio da Champions League desta temporada foi aumentado e o campeão poderá faturar até 57,2 milhões de euros (cerca de R$ 209 milhões). São oito vezes do que se receberá aqui. E, vale lembrar, que a Uefa reajusta os valores todo ano. Na temporada anterior o Real Madrid faturou quase 4 milhões de euros a menos. Já a Conmebol só em 2019, quando um novo contrato de TV entrará em vigor, promete subir os prêmios da Liberta.

Mas, muito além do título e do passaporte para o Mundial, o fato de chegar à Libertadores já representa uma oportunidade ímpar para os clubes - especialmente os brasileiros. É uma chance internacionalizar a marca, de faturar com ações bem trabalhadas de marketing e merchandising e de estreitar vínculos com o torcedor, tornando-o, mais dos que simples espectador, sócio na empreitada de crescimento do seu clube.

A Libertadores é, sim, uma chance real de mudar o patamar de um clube no universo do futebol sul-americano e, com alguma ousadia, até no resto do mundo.

Os números comprovam isso, onde quer que se foque o olhar. A Libertadores, por exemplo, fomenta os programas de sócio torcedor, gera receita e engajamento. O Avanti, do Palmeiras, com 126.355 inscritos, e o Plano Sócio, do Grêmio, com 115.282, líderes do Torcedômetro do Movimento Por um Futebol Melhor, são um claro sinal disso. O Flamengo, agora em sexto, também ultrapassou a marca de 86 mil sócios, graças ao efeito Libertadores - já são mais de 9 mil adesões só este ano.

Não basta, contudo, ganhar sócios, é preciso fidelizar. Tornar o programa economicamente justificável, o que o Avanti do Palmeiras tem conseguido. Oferecer benefícios e recompensas, algo que o Botafogo vem fazendo muito bem, promovendo eventos, encontros de torcedores com jogadores e outras ações quase lúdicas, porém eficazes, que já renderam 10 mil sócios novos sócios esse ano.

O Botafogo, aliás, tem sido exemplar na multiplicação da onda da Libertadores. Mesmo sendo apenas o 12º clube brasileiro em número de seguidores em suas redes sociais - o Corinthians é o primeiro, seguido por Flamengo, São Paulo e Palmeiras - o alvinegro carioca tem sido o que mais consegue engajar seus torcedores, segundo levantamento realizado em fevereiro pelo software de monitoramento digital Torabit, publicado essa semana com exclusividade por este LANCE!.

Esse momento do futebol brasileiro, com a importação maciça de jogadores de outros países latinos, é uma oportunidade a mais. Nunca tantos colombianos, peruanos e equatorianos, principalmente, acompanharam tão de perto o futebol brasileiro. As notícias do estaduais, ocupam espaços crescentes nas páginas de jornais e sites dos países vizinhos, um fenômeno que deve chegar ao auge exatamente com a Libertadores. Isso - perdoem a repetição - se for bem aproveitado. Já há possibilidade, por exemplo, da abertura de uma loja oficial do Verdão, em Medellín, no rastro das contratações de Guerra e Borja.

Os estádios são acanhados, os gramados às vezes parecem pastos, a polícia tem de proteger com escudos quem bate o córner de tudo o que se joga da arquibancada. A altitude é desumana, a logística é complicada com viagens longas e desgastantes. Isso tudo é verdade. Mas, para jogar uma Liberta, o sacrifício compensa. E é por isso, com todas as suas mazelas, que ela mobiliza tanto o torcedor brasileiro.