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Opinião: 'Eduardo Baptista acha o antídoto para o veneno de Ceni'

12/03/2017 07h00

Pela primeira vez desde que tornou-se treinador, Rogério Ceni viu a sua equipe finalizar menos do que a adversária. Pela primeira vez em jogos oficiais, os comandados do ex-goleiro saíram de campo sem marcar um gol. O São Paulo, que vinha sendo justamente elogiado pelas atuações anteriores, teve uma tarde muito infeliz neste sábado, quando perdeu por 3 a 0 no Allianz Parque. E quem foi o grande culpado por isso? Denis? Douglas? Buffarini? Não. Foi o Palmeiras de Eduardo Baptista.

Muito criticado após a derrota no Dérbi, em que jogou todo o segundo tempo com um jogador a mais, fez substituições pouco criativas e não soube como furar as duas linhas de quatro de Fábio Carille, o técnico do Verdão foi muito bem no Choque-Rei. Auxiliado por sua comissão técnica e pelo CIP (Centro de Inteligência do Palmeiras), ele detectou as principais valências do adversário e neutralizou todas. Sim, todas. Não é exagero.

A começar pela saída de bola. A marcação adiantada do Palmeiras, com os zagueiros posicionados quase no meio de campo e os homens de frente indo buscar os defensores são-paulinos quase dentro da área adversária, asfixiou o adversário. Ainda antes do gol de Dudu, houve diversos lances em que um palmeirense passou bem perto de interceptar a saída tricolor e construir uma jogada perigosa em seguida, tanto que Denis, em determinado momento, passou a optar sempre pela ligação direta ao cobrar tiros de meta.

O São Paulo foi desafogando aos poucos, mas não conseguia criar. Em vez de procurar Lucas Pratto nas bolas esticadas, Denis tentava acionar Thiago Mendes, talvez pelo fato de o centroavante estar sempre bem cercado pelos grandalhões Mina e Vitor Hugo, implacáveis pelo alto.

O jogo parelho virou passeio quando Douglas arriscou a saída por baixo com Buffarini, aos 45 minutos do primeiro tempo. Egídio estava a postos para engolir o argentino e recuperar a posse. Dudu ficou com a sobra e marcou um gol extraordinário, fruto de sua imensa qualidade, mas também da postura de sua equipe. Não fosse a agressividade para cortar o mal pela raiz ainda no campo do São Paulo, o camisa 7 não receberia a bola em condições de pegar Denis desprevenido.

O apoio dos volantes são-paulinos também ficou comprometido. Eduardo Baptista orientou Guerra e Tchê Tchê a caçarem Jucilei, João Schmidt e Cícero para que eles não tivessem tempo de pensar o início das jogadas - a ausência de Cueva também contribuiu muito. Deu certo, sobretudo porque a atuação de Tchê Tchê foi monstruosa. Quando o São Paulo conseguia romper esta barreira, lá estava Thiago Santos, outro que teve atuação brilhante, limpando tudo à frente da zaga.

Como resultado, a estrela de Luiz Araújo ficou o tempo todo apagada. O jovem não recebeu sequer uma bola no mano a mano, em condições de usar sua velocidade e seus dribles para construir jogadas. O mesmo aconteceu com Wellington Nem no segundo tempo. Eduardo Baptista disse após a partida que, de toda a posse de bola do oponente, apenas 6% foram da intermediária para a frente, justamente onde o Tricolor tem molestado quem encontra pela frente.

Eduardo, tão criticado (nem sempre com justiça), deu um nó em Rogério Ceni, tão elogiado (geralmente com justiça). Usou a agressividade para conter o que o rival tem de melhor e deixou a qualidade de seus jogadores fazer o resto. Ponto para o técnico, que chega ao importante jogo contra o Jorge Wilstermann, quarta-feira, pela Libertadores, em seu melhor momento no clube, em todos os sentidos.