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Até caso de polícia nos EUA deixou Cristian magoado com o Corinthians

Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
Imagem: Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians

15/03/2017 07h30

A mágoa de Cristian com alguns profissionais da comissão técnica e diretoria do Corinthians não é de hoje. Também não é apenas por ter ficado fora da lista dos inscritos no Campeonato Paulista e dos relacionados nos primeiros jogos da Copa do Brasil. O volante reclama da falta de comunicação e da pouca clareza para resolver os assuntos no clube.

Um caso específico, ainda no início deste ano, exemplifica a dificuldade no diálogo entre o jogador e dirigentes. Nos Estados Unidos, onde o Corinthians disputou a Florida Cup, Cristian alega ter tido sua aliança de casamento furtada. Ele lembra de ter tirado o anel e deixado em cima de um móvel em seu quarto. Quando voltou para o hotel, porém, não estava mais lá.

Cristian, então, procurou a aliança com alguns funcionários do clube, não encontrou e foi questionar na recepção do hotel. Até a polícia foi chamada, mas o volante alega que não contou com o apoio de nenhum dirigente do Corinthians para resolver a situação. Os policiais, inclusive, revistaram a bolsa de Rodriguinho, companheiro de quarto de Cristian, em uma situação desconfortável para o volante. O caso nunca foi resolvido. E o clube também nunca se manifestou.

"Aconteceram várias coisas erradas. Nos Estados Unidos mesmo roubaram minha aliança. E até hoje ninguém do Corinthians veio falar comigo. Teve polícia e tudo. A gente está lá pelo clube. São coisas complicadas que acontecem...", lamenta Cristian.

Outro caso que para Cristian mostrou falta de comunicação e até de gestão no Corinthians aconteceu mais recentemente, quando dirigentes do Fenerbahçe (TUR) foram ao CT Joaquim Grava negociar a contratação de Rodriguinho. Cristian não quis entrar em detalhes, mas o LANCE! apurou que, por ter atuado no clube turco, o volante foi acionado para entreter os visitantes que já aguardavam há horas no local para serem atendidos.

"Eu posso falar sobre as coisas que acontecem comigo, e não com outra pessoa. Me ligaram lá da Turquia, porque (os dirigentes) estavam na sala, sem saber o que estava acontecendo. Pediram para eu ir lá e falar com eles, mas isso na ligação que veio da Turquia. Pediram para eu ir e falar com eles. Eu fui. Mas o que aconteceu depois eu não sei", conta o jogador.

Nesta entrevista exclusiva ao LANCE!, Cristian abre o jogo. Com contrato até o fim desta temporada, ele sabe que não está nos planos, nem com a possibilidade de uma vaga ser aberta no Paulista em razão da lesão de Vilson. Ele diz estar 100% fisicamente, relembra sua trajetória no clube e reclama da falta de comunicação interna. Confira:

O que te motiva a sair de casa e ir treinar, mesmo sabendo que não será relacionado?
Sempre tem a motivação. Não é porque eu não vou jogar e não estou nos planos que eu tenho que deixar de treinar. A vida continua, são escolhas, o mundo não para por causa disso, amanhã posso estar em outro lugar e tenho que estar bem fisicamente para suportar as cargas de jogos.

Já foi comunicado de que não está nos planos?
Fui comunicado de que não fui inscrito no Paulista. Para mim o que passaram foi isso. Continuo treinando e estou à disposição.

Mas tem alguma perspectiva ou já está claro que teria que seguir a carreira em outro clube?
Está bem claro. As escolhas deixam bem encaminhado meu futuro. As escolhas que ele vem tomando deixam as coisas muito claras para mim. Sei que é difícil, mas a minha história no Corinthians está escrita e não tem como ninguém apagar. Não vai ser "fulano" nem "beltrano" que irá apagar o que está escrito. Mas sei que está bem difícil e complicado para jogar. Ainda não acabou porque tenho contrato. O mundo da bola dá muita volta. As coisas podem acontecer de outro jeito e mudar tudo, como mudou ano passado. Enfim, tem que estar preparado para os dois lados.

Com a lesão do Vilson, pensa que pode entrar no Paulista?
Não, nunca tive essa esperança. Quando quer inscrever, inscreve. Não fica esperando acontecer alguma coisa para isso.

Sua situação poderia ser conduzida de outra forma?
Eu acho que sim. Como eu já falei, as pessoas tinham que ser um pouco mais claras. Até entendo que tem 40 jogadores, mas as pessoas têm que ser um pouco mais claras para as coisas encaminharem da melhor maneira possível. Sei que tem escolhas que não agradam a todo mundo, mas tem que ter pelo menos um pouco de respeito. Não só por mim, por todos. Todo mundo é ser humano e tem família. Deixar as coisas mais claras seria mais fácil.

E isso então não ocorre só com você?
Não é só comigo, é com todo mundo. Tem 40 jogadores. Então não é só comigo. As pessoas tinham que ser um pouco mais transparentes.

Quando você diz "as pessoas", você não fala só do Carille, como também de dirigentes do clube, né?
Assim, é difícil a gente falar de pessoas que não estão no clube, temos que falar de pessoas que a gente convive. Então, é diretamente as pessoas que estão ali. Treinador, diretor e quem está no clube dia a dia. Não é possível que as pessoas não sabiam que não iriam me usar.

Você pensou em procurá-los?
Não é meu papel. Sou jogador. Sou empregado do clube. Vou procurar alguma coisa para eu sair? Não tem lógica. E também acho que essa de procurar para conversar é conversa. Na minha vida toda nunca precisei conversar com ninguém. Jogo porque tenho condições, porque estou melhor. Jogador não tem que pedir satisfação e reclamar que não está inscrito. É escolha dele. Ele tem 28 vagas e 40 jogadores no elenco. Ele tem que escolher quem acha que tem que ir. São escolhas dele. Mas acho que as coisas tinham que ser mais claras, com mais respeito.

Sua vontade hoje é de sair?
Não posso falar isso, eu não vim para o Corinthians para sair assim. São eles que estão escolhendo assim. Sou empregado do clube, vou lá e trabalho. E não estou reclamando de nada, faço as mesmas coisas como se eu estivesse indo para o jogo. Vou lá, treino e depois volto para minha casa.

Lado financeiro não muda nada, mas para a carreira influencia muito, né?
Esquece o lado financeiro, hoje em dia se fala muito nisso. Se eu tivesse lado financeiro eu ficaria na Turquia...

Mas você mesmo já disse que gosta quando seus filhos te veem jogando...
Isso, sim. Claro, todo jogador gosta disso. Mas como eu falei, não tem condições de pedir para ir embora sem ter nada. Como vou pedir para ir embora? Tem que ter alguma coisa. E tem muita mentira. Já ouvi falar de Chapecoense, de Ponte Preta, é tudo mentira. Para mim nunca chegou nada.

Acha que te atrapalha não ter empresário?
Pode ser. Acho que quando você tem qualidade e competência, não prejudica em nada. Mas empresário ajuda bastante. Tem muito jogador que aparece em algum clube por causa do empresário. Mas acho isso uma grande mentira, de empresário forçar para o jogador jogar. Penso totalmente diferente. Muita gente já falou isso para mim, mas não penso isso.

Mas não acha que poderia te ajudar a ter resolvido a situação antes?
Eu estou incomodado pela demora para avisar. Aí me sinto incomodado. Fui para os Estados Unidos, fiz a pré-temporada, fiz tudo e poderia ter resolvido de outras maneiras. Esse é meu incômodo. Para mim não me convence falar que não sabia antes. Minha chateação é essa. Pelo menos é o que eu ouço e leio, que todo mundo fala que faz a programação em dezembro. Não é possível que a pessoa não sabe quem vai ficar ou não. Não consigo acreditar nisso.

Falaram alguma coisa nos Estados Unidos?
Não. Para isso sou meio chucro. Não sou fã de treinador ficar me chamando para conversar, não. Muitas vezes já deixei claro isso, para o Carille e até para o Tite. Quando eu jogo, não vou perguntar por que estou jogando. Então quando saio, acho que não tenho direito nenhum de perguntar por que não estou jogando. Tenho que treinar e trabalhar. Eu sou assim, não gosto, não me sinto bem. Se chama o jogador para falar um monte de coisa, você vai dar o direito de escutar um monte de coisa depois. Essa é minha opinião. Se todo jogador que você tirar e chamar para conversar, tem que ter muito diálogo para conversar. Eu particularmente não gosto.

Tem outros jogadores que não estão sendo aproveitados e há comentários de que situação está sendo mal resolvida. Acha que é uma falta de comunicação geral?
Eu não posso falar por outros jogadores, só por mim. Da minha parte eu acho que a comunicação foi falha.

Como está a relação com a torcida?
Minha relação com a torcida do Corinthians é muito boa. Eu esperava mais coisas negativas depois que eu passei a não jogar, mas recebo muito apoio. Encontro muitos torcedores no shopping e eles me perguntam por que não estou jogando. E não consigo dar essa resposta. Esperava mais cobrança, não cobrança teoricamente, mas um outro lado. A gratidão é muito grande. Vou ter um carinho pela torcida do Corinthians eternamente no meu coração. No clube também, porque são pessoas passageiras. O clube a gente gosta.

Essa situação de não conseguir esclarecer ao torcedor te incomoda?
Muita gente pode falar que "o Cristian dá migué". Mas já me viu faltar em algum treino, chegar atrasado ou ir para a noite? Não faço. Não bebo uma gota de álcool, nem cerveja nem vinho. Nem refrigerante eu bebo. Os comentários as vezes são maldosos, de pessoas que não me conhecem. E isso vira uma mentira tão grande que fica difícil de desmentir. Mas tenho consciência limpa, tenho meu caráter. Estou sem jogar desde o ano passado, e ninguém nunca viu falar que o Cristian chegou atrasado. E nem vai ver isso.

No primeiro momento as lesões atrapalharam. Depois teve mais alguma coisa, como problema familiar?
O que atrapalhou foram minhas lesões, não consegui render o que eu gostaria. Mas quando eu voltei, sem lesões, eu joguei. Infelizmente o jogador precisa de sequência, e as lesões me atrapalharam muito, isso é fato. Não tive mais nada, como algum problema de família ou com treinador e diretor.

Você está 100%?
Estou muito bem fisicamente. Se for perguntar sobre meus trabalhos de força, os meus são os melhores. É opção e pronto. Eu respeito. Nunca vão me ver brigando em treino, de cara feia. Fico chateado porque não estou jogando, isso todo mundo fica, só faltava ficar alegre. Mas respeito.

Entende a opção? O Guilherme, por exemplo, já disse que é prejudicado pelo esquema. Acha que com você é algo tático ou algo técnico?
Eu não consigo te dar essa resposta, porque ele que tinha que ter essa resposta, não eu. Você falou do Guilherme, ele deve ter falado que o Guilherme não encaixa no esquema 4-1-4-1, mas quando contrataram o Guilherme, já sabiam disso e ele faz parte do grupo. Será que quando contrataram não sabiam disso? Então é difícil te falar, às vezes é opção dele, por gostar de outro tipo de jogador, características diferentes, não consigo te dar essa resposta.

O que você está imaginando? Acha que antes do Brasileiro vai estar em outro clube?
Eu espero que sim, aconteceu a mesma coisa comigo no Flamengo e o mundo não acabou, fui para o Corinthians, dei a volta por cima, fui para o Fenerbahçe. Se não tem o Corinthians, tem outros clubes para mim. O Corinthians vai estar sempre no meu coração, mas eu preciso jogar. As pessoas precisam ser mais transparentes, agora está tudo fechado, os times estão todos montados.

Você não tem nem conversas com outros clubes agora?
Não, eu, Cristian, não.

Você chegou a conversar com outro clube em algum momento?
Não, eu não conversei com ninguém, se chegou foi para o clube, para o Alessandro, mas para mim não chegou nada. Todo mundo fala "não é possível", mas cara, eu sou jogador de futebol, não consigo fazer as duas coisas ao mesmo tempo, ser diretor e ser jogador. Se chegou para o Corinthians, eu não estou sabendo.

O fato de você ter um salário alto dificulta na hora de um empréstimo para outro clube?
Eu sou transparente nas minhas coisas, sou de poucas palavras, mas quando eu falo, eu não minto. Qual salário que é alto para você? Porque eu já vi matérias falando que eu ganhou 600 mil. Eu quero ganhar isso, me fala onde está caindo que eu quero ganhar. Cai o que o clube tem condições de me pagar. É um salário bom? Beleza, é um salário bom, só que assim como para outros jogadores também é bom. Às vezes pode atrapalhar pelo fato de um outro clube não ter condições de me pagar os 100%, aí o Corinthians que está nesta situação, tem que arcar com os outros 50%, 60%... Teve uma história que a Chapecoense recusou o Cristian, é mentira, nunca chegou nada. "É que o Corinthians ofereceu 75%", me fala, seja transparente, fale para mim! Chega para mim e fala: "A gente vai te emprestar, mas a gente consegue te pagar 50, 60", mas seja verdadeiro.

Acredito que na situação atual, para jogar, você estaria disposto a ganhar menos...
Lógico, lógico, e para o clube também é bom. Eu não sou idiota, eu acho que para um clube ficar pagando para um jogador que está sem jogar, é ruim.

Se arrepende de ter voltado para o Corinthians?
Arrependimento eu nunca tive na minha vida, voltei porque eu tinha comigo e tinha dado a palavra quando eu saí em 2009 que eu ia voltar para o Corinthians. Apareceram vários outros clubes do Brasil, até da Turquia, mas eu tinha minha palavra, e palavra é uma só. A gente não pode prever o futuro, eu poderia estar aqui hoje falando outras coisas, falando que está bem, só que a gente não consegue prever.

Você chegou a dizer que sua história estava praticamente encerrada no Corinthians. Como conduzir esse encerramento?
A minha história não está encerrada no Corinthians, não disse isso, tenho contrato até dezembro. Agora, se as pessoas fossem mais transparentes, a gente teria encerrado faz tempo, é diferente. Se falassem "Cristian, a gente não pensa em te usar, você não faz parte das condições hoje do Corinthians", a gente teria sentado para conversar como fiz antes, quando eu vim para o Corinthians eu não assinei nada, só fui assinar em janeiro, e eu tinha vários outros clubes mandando propostas para mim.

Você sempre ponderou a dificuldade de administrar um grupo com tantos jogadores, acha que essa conversa com os jogadores caberia mais ao gerente, no caso o Alessandro?
Acho que não, acho que tem que partir do treinador. Dos dois, na verdade, tem coisa que é resolver com o Alessandro, tem outras coisas que é para ser com o Carille, mas eu falo para você é que difícil para o treinador, eu particularmente não gosto muito de conversa, para ele deve ser muito complicado, tem 40 jogadores. Quem faz muito bem isso é o Tite, é um gestor de pessoas. Então é difícil, porque eu vi o cara pedindo 28, 29 jogadores no elenco, hoje ele tem mais de 40 e pode inscrever 28.

Houve algo pessoal com o Carille?
Não sei te falar isso, acho que não, o Carille é um cara bacana, a gente conversa muito, o Carille eu conheço há muito tempo. Eu acredito que não seja nada, tomara que meu pensamento não esteja errado. Acho que são opções. Quando ele assumiu como treinador, sabia que não iria me utilizar, porque já havia me tirado do time quando o Cristóvão saiu.

Pergunto se houve alguma desavença, algo do tipo...
Não, não, e te digo mais: ele como treinador vai dar muito certo, ele tem uns treinos que eu gosto muito, uma forma de trabalhar que eu gosto muito, só que são opções, a gente tem que respeitar e nem por isso eu deixo de cumprimentá-lo.

Você tem um planejamento de quanto tempo ainda vai jogar?
Difícil pensar quanto tempo vai jogar, a gente precisar jogar para saber se aguenta ou não aguenta. Futebol é muito complicado, muda tudo muito rapidamente, fica complicado de pensar lá na frente, é passo a passo.

Essa sua identificação com o Corinthians pode te prejudicar na hora de buscar outros clubes?
Acho que não, são coisas que aconteceram e não têm como serem apagadas. Quando eu saí do Flamengo, quem abriu as portas para mim foi o Corinthians. Pelo menos gratidão tem que ter, isso eu vou ter eternamente.

Os torcedores perguntam muito de você, mas você não é muito de redes sociais. Por quê?
Eu sou chucro, sou sossegado, não sou dessas coisas, eu evito até de ver matéria. Prefiro não acompanhar muito nem televisão, nem esporte e nem rede social.

Que recado você tem para o torcedor que te admira e tem identificação com você?
Meu recado é o carinho que eu tenho por eles, tenho respeito muito grande pela instituição Corinthians. Fico feliz que tenham pessoas que admiram meu futebol, que gostam do meu trabalho.