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Jovem brasileiro brilha nos Emirados e quer a Seleção: 'Nada é impossível'

07/04/2017 07h45

A cada janela de transferências, pelo menos um de nossos jogadores é atraído por uma proposta irrecusável de um centro menos tradicional do futebol. Embora esses campeonatos não sejam tão assistidos no Brasil, não significa que não existam histórias bem sucedidas. É o caso de Fábio Lima, do Al Wasl, dos Emirados Árabes.

O meia-atacante de 23 anos é o vice-artilheiro da Liga do país com 21 gols em 21 jogos. Na temporada inteira são 25 tentos em 27 partidas. Desde 2014 no Oriente Médio, ele passa por sua melhor fase na carreira, pode brigar pelo terceiro ano seguido pelo título de melhor estrangeiro do país e nem pensa em voltar ao Brasil, por enquanto.

- Eu nem pensei muito se iria ficar escondido, porque o que mexe a gente para vir para cá é a parte financeira, eu não ganhava tão bem no Brasil, vim para cá ganhando um pouco mais. O campeonato é muito competitivo e você tem que estar bem para o seu time estar bem, não é que você só vem pra cá para ganhar dinheiro, e passar o tempo que você quiser, se você não jogar bem, com seis meses, um ano, eles trocam os estrangeiros. Espero continuar aqui nos Emirados por mais uns cinco ou seis anos pra depois voltar ao Brasil ou ir para outro país - disse em entrevista ao LANCE!

Antes de ir aos Emirados, Fábio jogava pelo Atlético-GO, quando despertou o interesse de seu atual clube. Na época, o meia-atacante tinha 21 anos e viu sua vida no esporte mudar rapidamente.

- Minha vinda pra cá foi muito rápida, quando eu estava no Atlético-GO em 2014, a gente foi campeão do Campeonato Goiano, comecei bem a Série B, foi quando fiquei sabendo que o Jorginho (técnico) tinha vindo para cá e me procurou, procurou meu empresário para saber se haveria a possibilidade de vir para cá, era uma oportunidade muito boa de empréstimo, dois anos, muito bom financeiramente e muito bom para o Atlético-GO, porque eles pagaram um ótimo valor pelo empréstimo. Então em 2014 vim pra cá, fiquei emprestado no primeiro ano, depois fui vendido e já tenho três anos no mesmo clube - explicou.

A mudança de um jovem jogador para um país estrageiro, principalmente em uma região em que a cultura difere e muito daquela presenciada no ocidente, não seria fácil de maneira alguma. No entanto, mesmo com dificuldades, Fábio Lima não desistiu.

- É muito diferente e eu não tinha noção de como era, nos quatro/cinco primeiros meses foi muito difícil, não estava jogando bem, tinha o calor, nosso time estava começando a ser montado, eram 20 jogadores totalmente novos, aí o Jorginho teve um pouco de trabalho, não continuaram com ele, depois que chegou o treinador argentino (Rodolfo Arruabarrena), deu uma organizada. A partir do final do primeiro turno, começo do segundo, já estava me adaptando melhor, foi aí que eu comecei a fazer um campeonato muito bom, mas é um pouco complicado para quem chega, não é como muitos falam que é fácil, porque não é - esclareceu.

Muitos pensam que jogar no Oriente Médio é fácil por não ter a torcida como fator de pressão, mas não é bem assim. Se o torcedor não pressiona, os próprios dirigentes do clube fazem esse papel, principalmente no que diz respeito aos estrangeiros.

- Se no começo você não jogar bem aqui, o futebol muda muito rápido, eles têm os quatro estrangeiros, a qualquer momento eles podem trocar, você fica com aquele negócio na cabeça "será que eu vou ser trocado?", "será que eu estou indo bem?", "será que vão me mandar embora?", então você fica com receio disso. Depois de certo tempo, quando você começa a jogar bem, começa a fazer gols, a sua confiança vem, com ela vem também o futebol, mostra que você não veio à toa, isso ajuda bastante - afirmou.

Contente com o que tem mostrado dentro de campo, principalmente pela boa média de gols e a chance real de classificação para a Liga dos Campeões da Ásia, Fábio Lima precisa aprimorar suas aptidões físicas e técnicas em horários separados de treinamento, já que na cultura do futebol local as atividades diárias não incluem esses quesitos tão comuns no dia a dia dos clubes brasileiros.

- Falta um pouco de profissionalismo na parte física, eles deixam um pouco a desejar. Aqui eles não tem muito essa malícia de aprimorar quesitos técnicos e físicos. Para eles, o horário do treino é o horário do treino, terminou, vão embora. Eu gosto de chegar um pouco antes, faço um trabalho de finalização com os meninos, nós estrangeiros gostamos de fazer isso, a gente traz a filosofia de trabalho do Brasil, porque se você ficar no ritmo dos jogadores daqui, você perde muito. A gente tenta fazer alguma coisa por fora, ás vezes quando não tem treino você vai para a academia, vai até a praia, isso pra ficar um pouco acima deles na parte física, fora isso não muda muita coisa não, talvez porque os treinadores são sul-americanos, são europeus, então a filosofia de trabalho é muito parecida - analisou.

Embora saiba que o futebol nos Emirados não é tão valorizado quanto o de outros centros, Fábio Lima conserva o sonho de um dia poder vestir a camisa da Seleção Brasileira. Por ser jovem, ele prioriza, por enquanto, atingir os objetivos que dizem respeito ao seu clube.

- Eu ainda tenho o objetivo de chegar na Seleção Brasileira, acho que eu tenho potencial. Não dão muita importância para o futebol daqui, mas eu sou artilheiro com um gol por jogo, se fosse no Brasil com certeza eu estaria na Seleção, mas eu pretendo continuar bem e quando eu voltar ao Brasil, na China, ou outro país que eles dão mais valor, eu pretendo fazer um bom campeonato para chegar ao meu objetivo, nada é impossível. Vou tentar manter meu futebol, tentando melhorar, tentando ser artilheiro, tentando ser campeão com o time, porque eu quero deixar a minha marca como um estrangeiro que veio para cá e deixou algum título - finalizou.

PASSAGEM PELA BASE DO SÃO PAULO

Em julho de 2012, o São Paulo acertou o empréstimo de Fábio Lima junto ao Atlético-GO. Na negociação, ficou acordado que ao final do contrato o Tricolor teria direito a comprar 50% dos direitos econômicos do atleta. O que não aconteceu.

Na Copa São Paulo de Futebol Junior de 2013 atuou com a camisa são-paulina e marcou três gols na primeira fase, mas acabou perdendo lugar no time, que foi eliminado pelo Goiás nas quartas de final da competição.

Por opção da comissão técnica, o jogador não foi aproveitado na equipe principal e voltou para o Atlético-GO.

- No São Paulo eu joguei bem, na base fui titular, na Copinha que eu joguei com eles também fui muito bem, mas não sei o que aconteceu que o treinador da época, o Sérgio Baresi, mesmo eu sendo artilheiro da competição, me tirou do time e colocou um outro jogador, em seguida acabamos eliminados. o São Paulo tinha opção de compra, mas o Milton Cruz falou que eu não estava preparado para jogar no profissional do clube e aconteceu que eu não fiquei - relembrou o jogador.

PASSAGEM PELO VASCO

Ainda em 2013, após a frustração no São Paulo, Fábio Lima ganhou outra oportunidade em um clube tradicional do cenário nacional. Em março daquele ele voltou a ser emprestado pelo Atlético-GO e novamente deu sinais de que poderia ter futuro no time, mas por não ter um valor fixado de compra em seu contrato, acabou não sendo escalado com frequência para evitar o aumento de preço com a valorização dentro de campo. Foram três jogos com o profissional e muitos com os juniores.

- Fui muito bem lá, acho que eu tinha tudo para dar certo, era um lugar que eu gostava muito, nos jogos que eu entrei eu fui muito bem, todo mundo gostava de mim, só que havia um problema no contrato que me atrapalhou um pouco, porque eu jogava bem, mas eles não me colocavam para eu não valorizar, aí teve esse desgaste. Eles me colocavam para jogar, eu voltava a jogar bem, mas no jogo seguinte me tiravam porque a diretoria falava que não poderia me valorizar, e eles queriam me comprar, aí eu fiquei meio afastado, treinava com os jogadores, mas não podia jogar. Nisso eu acabei pedindo para voltar ao Atlético-GO.

BATE-BOLA FÁBIO LIMA, MEIA-ATACANTE DO AL WASL (EAU)

Como é viver nos Emirados Árabes?

A qualidade de vida aqui em Dubai é muito boa, tem muita segurança, tudo funciona, hospitais, essas coisas, a estrutura é muito boa, quase não tem trânsito... Todo mundo que vem para cá gosta, é turístico, calor quase o ano inteiro.

Você e o seu companheiro de clube, o Caio (ex-Botafogo), são muito amigos, o que vocês fazem por aí?

Eu e o Caio temos uma amizade desde que chegamos aqui, somos os únicos jogadores que continuaram da época do Jorginho. Fora de campo a gente sai muito para jantar com as esposas, viajamos muito, nossas esposas são amigas, então isso facilita, a gente conversa muito, porque somos os jogadores com mais responsabilidade no clube, estamos aqui há três anos, renovamos no ano retrasado e nos compraram. Nos damos bem dentro e fora de campo, e isso ajuda a trazer resultados.

Como você lida com essa importância dentro do clube?

É muito bom você ter essa responsabilidade de saber que você faz bem o seu trabalho, os fãs reconhecem, a diretoria, em alguns momentos, também reconhece, então é muito bom, eles têm um carinho muito grande por mim e pelo Caio, por conta de a gente já ter um bom tempo aqui, temos histórico de artilheiro nos campeonatos que a gente disputa, a gente ainda não conseguiu títulos, mas já chegamos em semifinais, o clube tem se mantido lá em cima na tabela, brigando para ser campeão, por uma vaga da Liga dos campeões da Ásia, antes de a gente chegar o clube só brigava para não cair, então a gente tem essa responsabilidade, o pessoal gosta da gente dentro e fora de campo, sempre nos trataram bem e a gente espera continuar assim por muito tempo, porque também temos um carinho por eles.