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Goleiro relata falta de água e comida em clube do Campeonato Goiano

Divulgação/Facebook
Imagem: Divulgação/Facebook

10/04/2017 07h30

"A gente enfrentou muitos problemas. A gente não tinha água. Às vezes não tinha nem o que comer depois do jogo". Foi com lágrimas e palavras fortes que o goleiro Tom, do Rio Verde (GO), expôs a dura realidade enfrentada por ele e seus companheiros de clube, que estão desde fevereiro com salários atrasados. Porém, esta não é uma história apenas de tristeza, mas também de superação. Tom fez o desabafo para rádios goianas após sua equipe vencer o Goianésia há dois domingos, fora de casa, com gol no último minuto e menos dois jogadores. O placar evitou a queda do time, que teve sua salvação no Campeonato Goiano confirmada neste domingo, após combinação de resultados que rebaixou o Goianésia. A entrevista de Tom viralizou na internet, mas nem isso adiantou para o jogador receber seu salário.

Revelado pela Portuguesa (SP) e ex-goleiro da Lusa no profissional, Tom, de 25 anos, topou conversar com o LANCE! sobre os problemas vividos no Rio Verde. Liberado pelo clube para buscar um novo destino, ele não conseguiu deixar a cidade de Rio Verde rumo à Itaquaquecetuba (SP), onde mora sua família (esposa, filha e mãe na mesma casa), por não ter dinheiro para a passagem. Tom, primeiramente, detalhou a situação da falta de água e de comida.

"Ficamos sem condição de trabalho, levamos tudo na vontade. Logo na segunda rodada, contra o Goiás (derrota do Rio Verde por 2 a 0, em Goiânia), não tinha água para beber na concentração. O clube era responsável por pagar a água, mas não conseguiu manter essa situação. A gente teve que sair "tarde da noite" do hotel e comprar água "do nosso bolso" em um posto de gasolina, porque a boca dos meninos estava secando. No primeiro mês alguns receberam salário e outros, não. Depois começou a faltar comida. A gente até tinha um patrocínio de uma empresa de alimentos, que fornecia comida ao clube, mas essa comida saía do padrão para atletas. Era carne de porco, calabresa e salsicha todos os dias. Não tinha condições dessa forma. Aí eles suspenderam essa comida, mas também não substituíram", disse o goleiro.

A ENTREVISTA DE TOM QUE REPERCUTIU NA INTERNET

Tom e mais seis jogadores estão à espera dos salários pendentes para voltar para suas cidades. Eles estão hospedados na casa da sogra de um preparador de goleiros - o hotel que era pago pelo Rio Verde para estes atletas durante o campeonato foi cortado na segunda-feira da semana passada. Torcedores do Rio Verde, sensibilizados com a situação, decidiram organizar um jogo beneficente com renda para os atletas, na última quinta-feira. No entanto, apenas 205 pagantes compareceram ao estádio e a renda de R$ 4.100 não foi suficiente para mudar muito a situação do grupo.

"Estamos cobrando os salários. O pessoal do clube disse que está aguardando um dinheiro, um adiantamento da federação. Nossa família está nos esperando e estamos com muita saudade. Quem tinha condição melhor já foi. A gente só ficou porque precisa", comentou Tom, contando também que o clube tinha prometido levar sua família para Rio Verde, porém não cumpriu com isso:

"Minha filha vai completar um ano e o combinado era trazer minha família para Rio Verde, pela minha filha ser tão pequena. Eu queria ter visto ela andar... Ela andou e eu não pude ver de perto. Dói muito na vida de um pai perder um momento tão importante. Eles me enrolaram... "Semana que vem a gente acerta para sua família vir". Foram enrolando, enrolando, e nunca aconteceu", disse.

O JOGO QUE SALVOU O TIME DE TOM DO REBAIXAMENTO

Diante das dificuldades financeiras, Tom tem sido ajudado por sua mãe, que aos 55 anos trabalha como faxineira: "Ela já está com uma idade avançada para o serviço que faz, mas é ela que me ajuda. Meu sonho é poder melhorar e dar um conforto para ela. Viemos de Aracaju para São Paulo (SP) quando eu tinha dez anos e a gente morava em condições precárias, praticamente dentro de um córrego, em uma favela. Com o futebol, consegui comprar um teto melhor. Só que os atrasos nos salários me preocupam, pois essa compra está parcelada e posso perder se não pagar".

Depois do desabafo em campo, Tom tem recebido ajuda de diversos torcedores do Rio Verde, que param o goleiro pelas ruas e dão dinheiro. Ele admite que fica envergonhado, mas conta que aceitou as gentilezas:

"Alguns torcedores colocaram R$ 50, R$ 100 no meu bolso. É legal esse reconhecimento, mas fico tímido. Esse dinheiro me ajudou muito. Meu celular tinha caído na água e queimado. Com o dinheiro que consegui na rua, fui em uma lojinha, comprei um celular de "segunda mão" e resolvi esse problema. O celular me possibilita matar a saudade da família e receber propostas de clubes para o segundo semestre", falou Tom, confiante em dias melhores.

"Eu me destaquei no campeonato, mostrei meu trabalho, hoje me sinto preparado para estar em um grande clube. Vem coisa boa logo", finalizou.

A reportagem do LANCE! tentou contato com um diretor do Rio Verde para falar sobre os temas abordados pelo goleiro Tom, porém não obteve resposta.