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'Homem de fé' e com o Cruzeiro no coração, Dedé supera lesões e diz: 'Não me considero longe da Seleção'

13/04/2017 07h00

Cruzeiro e Santos jogaram a partida de volta da semifinal da Copa do Brasil de 2014 em novembro daquele ano. No primeiro minuto de jogo, o Peixe abriu o placar. No mesmo lance, a Raposa perdia Dedé, com fortes dores no joelho direito. O duelo terminou empatado por 3 a 3, placar que classificou o time mineiro para a final da competição, mas que marcou também o início de um drama de um de seus principais jogadores.

Daquele trágico dia até março deste ano, o zagueiro passou por três cirurgias, dois retornos frustrados e apenas cinco jogos oficiais. Mas, homem de fé que é, viu o fim desse período de mais de dois anos de percalços ao entrar em campo contra o Joinville, pela Primeira Liga.

Depois de 20 dias, mais uma conquista: marcou um dos gols da vitória do Cruzeiro por 2 a 0 sobre o Democrata, pela primeira fase do Campeonato Mineiro.

Apesar do retorno bem sucedido, o zagueiro não quer queimar etapas, mas estará no banco de reservas contra o São Paulo, nesta quinta-feira, às 21h45, pela quarta fase da Copa do Brasil.

Em entrevista ao LANCE!, Dedé contou sobre planos a curto prazo e se coloca como potencial candidato a um lugar na Seleção Brasileira assim que tiver readquirido todos os aspectos de seu futebol. Ele também relatou passagens dos períodos mais difíceis e a felicidade que tem sentido nas últimas semanas, após o pior ter passado.

Confira a conversa completa com o otimista e recuperado zagueiro cruzeirense:

Como têm sido essas últimas semanas para você?

Tem sido maravilhoso, depois de tanto que eu lutei, que eu trabalhei, voltando a treinar bem, está sendo maravilhoso.

E como foi a comemoração com os seus companheiros?

A galera me ajudou bastante nesta corrida pela recuperação. Eles estão bem satisfeitos, ficaram emocionados com o jogo que nós tivemos, um momento maravilhoso e a alegria de me ver jogando novamente.

Consegue mensurar o quanto você sonhou com essa volta?

O tempo todo eu sonhei com isso, eu nunca tive medo de não voltar, eu tive o sonho de voltar da forma que eu voltei no último jogo, mas é um sonho, e sonho não tem mais nem menos, é sonho. Estou bem feliz.

É possível dizer que a sua tristeza acabou?

Eu sou um cara bem alto astral, com uma autoestima bem elevada, graças a Deus. Eu passei um momento difícil sim, mas nunca deixei me abater, nunca baixei a guarda, mas agora é uma emoção muito grande, é algo acima da alegria que eu estou sentindo. Cada fase que eu melhorava eu ficava mais feliz. Hoje eu estou no auge da minha idade, da minha maturidade, estou muito bem, está bem legal este momento.

Você tem algum receio de jogar futebol?

Com certeza não tenho receio, graças a Deus estou bem, trabalhei bastante para esse momento, estou bem.

Qual foi o pior momento que você passou nesse período?

Foi receber a notícia de que eu iria operar novamente. Estava me recuperando de uma fratura e no primeiro treino eu já senti, a fratura voltou a abrir. Então, no momento que eu iria retornar ao campo eu tive que voltar a fazer uma cirurgia, mas a gente vê pelo lado bom da situação de poder ter o caminho certo. Deus prepara a gente para vários desafios e também por me mostrar que ali eu tinha conquistado o meu retorno, esses fatores foram fundamentais na minha recuperação.

E o seu maior medo nesse período?

Eu não tive medo, sabia que eu queria voltar a fazer o que eu mais gostava, poder ajudar meus companheiros. Eu sempre soube que poderia ajudá-los assim que eu estivesse bem.

Matou a saudade da concentração?

Com certeza. A convivência dentro do futebol e o próprio futebol é muito gostoso, ainda mais que eu fiquei muito tempo em casa, a gente sente saudade de estar junto, da concentração. Mas daqui a pouco isso acaba, porque concentração não é legal, e vai ser uma atrás da outra (risos). Mas eu estou contente demais, estou vivendo um momento maravilhoso da minha carreira.

No que você se agarrou para seguir em frente nessa fase tão complicada?

Fora de campo, minha esposa, assim que eu recebi a notícia que eu teria que operar de novo a patela, ela veio com outra notícia, a de que estava grávida. Assim, logo que nasceu meu filho, tive tempo de estar perto, de cuidar dele. Isso me deu uma motivação, chegar em casa, tratar dele. Foi muito bom pra mim.

Como era seu relacionamento com os outros jogadores do clube durante o período de recuperação?

A gente ficava no departamento médico, às vezes eles passavam lá, faziam algum tipo de tratamento, alguns cuidados. A gente tem contato, mas não é igual ao contato de estar em campo todos os dias, estar concentrado, a gente não tem essa oportunidade quando não está jogando.

Qual era o seu sentimento ao ver seus companheiros treinando e você no DM?

É ruim. É ruim não poder fazer o que você mais gosta, sabendo que poderia ajudar, mas a galera batia um papo legal, dava muita força, dizia que me esperava para voltar...

Ter sido a contratação mais cara da história do clube te incomodou em algum momento?

Isso não foi peso algum, foi uma contratação importante para o Cruzeiro. Eu sempre fui muito tranquilo com isso, me considero um jogador do mesmo peso que um jogador da base, tanto é que eu fico mais com eles do que com a rapaziada com mais história no futebol, para mim não muda nada, eu tento fazer o meu papel da melhor forma possível, graças a Deus eu sempre tive o carinho não só da rapaziada, mas também dos outros profissionais que trabalham no clube.

Houve muita especulação envolvendo o seu nome em outros times, apontando sua saída do Cruzeiro. Isso te incomodou em algum momento?

Nunca me incomodou, pelo contrário, me deixou feliz por saber que outros clubes ficaram interessados mesmo eu estando machucado. A gente se sente honrado por saber que outras pessoas gostam do nosso futebol, agradeço muito o interesse, mas meu caminho sempre foi aqui no Cruzeiro, é bom, é gostoso para o jogador saber que tem pessoas que querem contar contigo, mas eu só pensava no Cruzeiro.

O que representa o Cruzeiro na sua vida hoje?

O Cruzeiro é muito importante pra mim, desde a recuperação até os dois títulos brasileiros que eu ganhei. Tenho prazer de estar aqui, cresci, me desenvolvi, é um clube em que sempre estive adaptado, da mesma forma que meu nome está na parede do Cruzeiro, ele também está no meu coração.

O Cruzeiro vem forte para conquistar tudo o que disputar neste ano?

Estamos bem embalados neste início de temporada, mas temos que colocar na nossa cabeça que uma hora a gente pode perder (a equipe ainda esta invicta em 2017), ter a concentração de não se abater com qualquer tipo de derrota. Acho que nosso time vem forte para esta temporada toda, todos estão vendo não só a qualidade do time, mas a dedicação, a entrega, então a galera está trabalhando essa parte da cabeça. Estamos passando por um momento bom, mas temos de estar concentrados para quando não conseguirmos essas vitórias. Temos de entender que a gente pode perder, desde que o mérito seja da equipe adversária, não por causa de um vacilo nosso.

Como você vê a concorrência na zaga do Cruzeiro?

Nós temos um grupo muito forte. Considero o Manoel um dos melhores zagueiros do país, o Léo também está muito bem, jogando um grande futebol, o Luis Caicedo, que é jogador de seleção, tem uma briga boa aí, mas eu estou muito tranquilo, pés no chão, um passo de cada vez nessa minha fase. já estou recuperado da lesão, mas ainda preciso recuperar meu estilo de jogo, tempo de bola, então fazer tudo bem devagar, mesmo com essa cautela eu me coloco nessa briga aí, até porque estimula o jogador que está jogando a jogar mais, se doar mais, ter uma sombra ali faz diferença.

Como você está se preparando para as decisões que o Cruzeiro terá pela frente nas próximas semanas?

Estou bem, acho difícil eu ser titular nessa fase, mas temos um elenco bem recheado, cada setor do campo, estamos preparados.

Quais são seus planos neste momento?

Meu objetivo é estar sempre à disposição do treinador. Eu ainda estou trabalhando para melhorar, quero sempre melhorar na minha vida, não só no futebol, estou pouco a pouco vendo essa melhora. Como tem muitos jogos, o Cruzeiro tem a opção de trabalhar com o time reserva também, como fez contra o Democrata, vai ser um ano bem legal. O Mano sempre frisa que ele não tem um time titular, ele tem o time que vai começar a jogar, pode mudar, todos os jogadores ali vão ter oportunidades, como já estão tendo. Eu, voltando de recuperação, já joguei duas partidas, bom demais. Principalmente nessa sequência, é difícil o jogador aguentar todos os jogos com a mesma entrega, desgasta muito, tenho certeza que o Mano vai rodar bastante o elenco, foi bom esse jogo contra o Democrata que alguns jogadores ficaram oito dias sem jogar, deu para treinar com o professor, deu para descansar também para fazer uma boa preparação para a partida contra o São Paulo, então vai ser assim sempre.

Você parece muito confiante! já pensa em planos mais para frente?

Eu penso sempre em estar melhor, fazendo sempre o que for melhor. não me considero um cara tão longe da Seleção, porque tudo é possível para quem é batalhador, sempre fui um cara de muita fé, mas é passo a passo como eu disse, trabalhando para melhorar, ver quando eu for relacionado para um jogo grande, pra determinar como vai ser a pegada, se eu vou estar bem, estou trabalhando para ter esse momento certo, fazer o meu treino e depois a gente vê, quando estiver próximo, ou muito mais próximo de voltar para a Seleção.

Você se disse um homem de fé, se não foi isso talvez nós não estaríamos conversando agora sobre sua volta...

Com certeza, não só eu, como 99% das pessoas que estão ligadas a mim, minha família, meus amigos, meu empresário, todos muito importantes na minha vida, sempre estão orando por mim, querendo o meu melhor, porque se a intenção for boa, só vem coisas boas, estou ciente de que só tenho pessoas maravilhosas na minha vida.