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Autor da jogada do milésimo de Romário conta bastidores do feito e diz: 'Ainda sou lembrado'

20/05/2017 08h00

Em maio de 2007, aos 25 anos, Thiago Maciel marcava seu nome em um momento histórico no futebol mundial. Foi dele a jogada que originou o pênalti para o milésimo gol de Romário, anotado na vitória por 3 a 1 contra o Sport, em São Januário, e que completa 10 anos neste sábado. O detalhe nessa história é que no momento o então lateral-direito do Vasco não tinha a dimensão do feito, algo que só foi acontecer depois daquela partida pelo Campeonato Brasileiro.

Ainda buscando se firmar na equipe cruz-maltina naquela época, Thiago teve mais uma chance entre os titulares contra o time pernambucano. A partida era carregada de expectativa, já que todos aguardavam o esperado gol mil do Baixinho, que teimou em não sair em três jogos anteriores. Logo no primeiro minuto do segundo tempo, ele avançou em velocidade pela direita, recebeu passe de Abedi em profundidade e cruzou para área procurando Romário, mas a bola parou no braço do zagueiro Durval. O árbitro marcou o pênalti que foi convertido pelo camisa 11 e ficou eternizado na história do futebol.

- Na hora eu não tive a dimensão do feito. Quando a jogada foi se desenhando, a minha intenção realmente era procurar o Romário dentro da área. Quando aconteceu o pênalti, nessa hora todo mundo parou. Foi quando comecei a processar: 'caramba, ele pode fazer o milésimo, tem que fazer'. Só depois do jogo, quando os familiares e amigos ficam ligando, que cai a ficha e você vê que a coisa foi grandiosa - contou Thiago Maciel ao LANCE!, celebrando o fato de ter feito história e revelando que é lembrado até hoje por isso.

- É aquilo, na vida você tem que vir e escrever alguma coisinha ali no livro. Os anos se passam e graças a Deus sou lembrado por fazer parte desse momento - completou.

Thiago Maciel disse que Romário não prometeu nenhum prêmio especial para quem desse o passe para o gol 1.000. O ex-jogador revelou que o elenco comprou o objetivo do Baixinho e que poder jogar ao lado dele e participar daquele momento valia mais do que qualquer quantia em dinheiro.

- Não, não teve nada nesse sentido de que quem desse o passe para ele ia ganhar um extra. A rapaziada comprou a ideia mesmo. Só o fato de estar jogando com ele, que tinha sido campeão mundial, um dos maiores atacantes da história do futebol, e poder fazer parte daquela festa, acho que recompensa maior em termo de dinheiro não precisaria. Só o fato de estar dentro de campo e convivendo com ele já era um grande prêmio - afirmou.

Tirar dinheiro do bolso, inclusive, não era o forte de Romário. Thiago Maciel lembra aos risos que era difícil conseguir alguma coisa do atacante e que por isso ele tinha fama de mão fechada no grupo.

- Era difícil (o Romário colocar a mão no bolso). Eu já tinha jogado com ele já passagem em 2005. Quando chegava no aeroporto eu falava 'vamos chegar lá no Baixinho para ele pagar um café'. Mas até isso era difícil. Dali não sai nada, não (risos). Nunca tinha visto ele pagar nada. Diante do grupo ele tinha fama de mão fechada (risos) - contou o ex-lateral, revelando que o milésimo gol mudou essa situação.

- A primeira vez que o vi colocar a mão no bolso foi depois do milésimo. Na semana seguinte, ele pagou um churrasco para o grupo todo. Ele agradeceu o pelo feito e acho que foi a maneira que ele encontrou de retribuir todo o carinho e ajuda que tinha recebido. Acho que todo aquele momento fez com que ele abrisse a mão um pouquinho (risos).

Com 34 anos, Thiago largou o futebol há três e hoje trabalha como taxista no Rio de Janeiro. Além disso, está fazendo parte de um projeto do Vasco para ser olheiro do clube pelo Brasil. Dirigindo pelas ruas do Rio, o ex-jogador disse que às vezes conta a história do gol mil para os passageiros, sendo que alguns até o reconhecem.

- Acontece, sim (de eu contar a história). Um dia estava levando um passageiro e quando chegou no destino final ele perguntou se eu era o Thiago Maciel, que jogou no Vasco. Aí ele falou que era vascaíno, lembrava de mim, perguntou se cruzei a bola do gol mil. Começa aquela história. Se der eu conto ali rapidinho durante a viagem.

Bate-bola com Thiago Maciel:

Como era o ambiente no Vasco na semana do gol mil:

Na semana que antecedeu o gol, durante os treinos, a gente ficava brincando sobre quem ia dar o passe para o homem fazer o gol. Aí a gente ficava imaginando como ia ser. O meia pensava em driblar e dar um bom passe, eu que era lateral já projetava ir no fundo e cruzar na medida para ele. Esse era o ambiente. A gente não tinha a noção do tamanho do feito. Só mesmo depois do jogo e com o passar dos anos foi vendo que acabou sendo um momento único para quem estava lá e eu por ter participado da jogada.

A busca do Romário por essa marca trazia algum peso para o grupo?

Não digo que a gente tinha um peso, mas muitas das vezes poderia precipitar uma jogada em que outro jogador poderia estar melhor posicionado e a gente procuraria ele. Mas acho que durante a semana a gente conseguiu tirar essa coisa, que não precisaria forçar em cima dele. Todo mundo sabia que era o momento dele, que era a estrela da companhia e que se tivesse a chance era para proporcionar a chance para o gol dele. Mas o grupo soube separar legal isso.

Como estava o Romário perto de alcançar o milésimo gol?

Ele estava muito à vontade no dia a dia, tinha repórteres de vários lugares, da Holanda, da Espanha. Você conseguia notar que ele estava bem tranquilo perto de alcançar aquela marca.

Como ficou o clima no vestiário após o jogo?

Depois do jogo no vestiário ele estava bem emocionado. Entraram os familiares do Romário e ele fez questão de chamar todo mundo do grupo para fazer uma foto e agradecer também. Logo depois ele parou de jogar. Ele estava vivendo aquilo como o gran finale da carreira dele. Acho que isso o deixou mais emocionado ainda. Ele agradeceu todo mundo, porque mudou o dia a dia de todo mundo. Os holofotes estavam todos em cima dele e do Vasco e o objetivo foi alcançado.