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Pai de Deyverson conta como o filho desistiu do pagode para ser goleador

18/07/2017 07h40

Deyverson provavelmente nunca sentiria a emoção de ser apresentado pelo Palmeiras se não fosse por seu pai, Carlos Roberto da Silva, o Mamaô. Não só pelo esforço financeiro e pelo incentivo em cada aventura no futebol, mas também por fazê-lo abandonar a ideia de ser pagodeiro profissional.

- O Deyverson, com três anos, já estava chutando bola no campo. Mas ele tinha crise de identidade, não sabia se era pagodeiro, jogador, bailarino... Ele dança, o forte dele é dançar (risos). Meu bairro é muito festivo, tem muito pagode, muita dança. Quem vai em Santa Margarida e bebe a água de lá não quer mais sair. A Associação promove muitos shows lá, e o Deyverson queria ir para o lado do pagode romântico, tipo o Belo. Mas ele não canta nada! - brincou o pai do atacante.

Deyverson soltou a voz em sua apresentação e cantou um trecho de "Pra Ver o Sol Brilhar", música do cantor Belo, que é torcedor do Verdão. Não fez feio, mas ele mostrou minutos depois, em um treino com os reservas, que seu forte é mesmo o futebol.

- Eu dei uma trava no Deyverson, ele já estava se tornando maior de idade e tinha que definir a vida dele. Ele falou: "Pai, vou voltar a jogar futebol". Eu falei: "Se você voltar, vou te apoiar. Mas não é para ficar nesse negócio de sair dos clubes, falar que quer ser cantor, dançarino. Tem que decidir sua vida". E foi nessa dura que ele melhorou e foi para o Grêmio Mangaratibense - lembra Carlos.

Deyverson começou a jogar futebol na Associação Esportiva Social e Cultural Mamaô, escolinha de seu pai em Santa Margarida, Rio de Janeiro. Fez diversas peneiras para tentar uma vaga em um clube profissional, mas ouviu tantos "nãos" que resolveu procurar outras ocupações. Antes de ser pagodeiro, ele tentou ser vendedor de salgados. Segundo seu pai, não deu muito certo...

- Para vender salgado ele era ruim também (risos). Comia mais do que vendia... Quando ele ia receber, já tinha quitado tudo. Comia seis salgados e já pagava o dia dele - brinca.

No Grêmio Mangaratibense, onde ficou três anos, Deyverson passou a ter convicção de que seria jogador de futebol. Tanto que encarou uma viagem a Portugal para fazer teste no Benfica B, sem a certeza de que assinaria contrato. Acabou dando certo.

- Para segurar a emoção é difícil, porque ele foi para o Benfica fazer teste, né? Ficar lá já era uma realização. Depois ele foi para o Belenenses e sofreu para caramba, ficou sete meses treinando atrás do gol, o treinador não gostava dele de jeito nenhum. Aí entrou o Lito (Vidigal, técnico) e colocou ele no time, ele conseguiu fazer nove gols e livrar do rebaixamento. Dali ele foi para o Colônia, ficou seis meses, só que passou um mês contundido. Depois voltou para o Belenenses e o Levante comprou ele. Foram rebaixados, mas ele foi o destaque do time e o Alavés pegou por empréstimo com opção de compra. Fez também um bom campeonato - resume o Mamaô, sem esquecer as dificuldades do início de carreira.

- Lá no Mangaratibense os caras comiam cebola com farinha ou nem comiam, tomavam café sem açúcar... Meu Deus do céu, era um sufoco danado. Mas eles eram muito unidos, aquela equipe era uma família e superava isso tudinho com garra e determinação. Foi o Grêmio que abriu as portas da carreira dele. Futebol é assim, quando a gente menos espera Deus faz as surpresas. É Deus quem faz as pessoas passarem pelos perrengues para depois seguirem o caminho Dele.

O novo atacante do Palmeiras é o caçula da família. Anderson, seu irmão mais velho, hoje é o goleiro titular do Angra dos Reis, time da Terceira Divisão do Rio de Janeiro. Ainda há um irmão do meio, Leandro, e Daniel, um amigo de longa data que é tratado como familiar pelo centroavante e que estava na Academia nesta segunda-feira.