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Será que vinga? Entenda o sucesso do futebol de base da Inglaterra

01/11/2017 15h01

Enquanto os torcedores ingleses lamentam o enorme jejum de títulos da sua seleção masculina, as equipes de base do país estão surpreendendo o mundo nas competições juvenis e mostrando um futuro brilhante para a Inglaterra.

O histórico vencedor das seleções de base começou em 2015, após o time sub-20 não conseguiu se classificar para o Mundial. Foi a gota d'água para uma seleção de base que não vencia uma partida sequer no torneio há quase 20 anos. Sob o comando do treinador Paul Simpson, o time passou a contar com jogadores mais experientes para a idade, que já disputavam partidas em seus respectivos clubes a nível profissional.

O principal parceiro das categorias de base da Inglaterra é o Chelsea. A Academia dos Blues é quem mais cede jogadores para o nível internacional, atletas que conquistaram muitos títulos com a base do Chelsea: o time londrino foi campeão da Liga dos Campeões sub-19 em 2015 e 2016, além de levar a Premier League sub-18 em 2017. O Chelsea também acumula seis títulos da Copa da Inglaterra sub-18.

O bom trabalho realizado a nível de clubes passou a influenciar a seleção inglesa. Em maio desse ano, a seleção sub-17 mostrou que daria trabalho na temporada ao chegar à grande decisão da Eurocopa da categoria de forma invicta. Enfrentando a Espanha na final, a Inglaterra só perdeu nos pênaltis, que parecer ser o algoz dos ingleses em todas categorias.

Em junho, a seleção sub-20 conquistou pela primeira vez na história o título mundial da categoria, enfrentando a surpresa Venezuela na decisão. Em julho, foram campeões europeus sub-19 batendo Portugal. A boa temporada da base foi coroada com o título mundial sub-17, no último mês de outubro, após derrota e revanche contra a Espanha na final. Mas a questão que fica na cabeça dos torcedores é: será que a boa e jovem geração inglesa vai vingar?

- O progresso desse time é maravilhoso para a base inglesa. Temos muito talento, e espero que o mundo veja logo o que acontece aqui. Algumas pessoas gostam de criticar nossas categorias de base, preferem contratar jogadores estrangeiros na Inglaterra, mas não veem os jogadores que estão debaixo dos seus narizes. Porque nossos jovens jogadores ingleses não podem alcançar o sucesso também? - questiona Gareth Southgate, treinador interino da seleção da Inglaterra.

A Inglaterra já está acostumada a ter grandes seleções que decepcionam ao não conquistar um título sequer para o país. A última delas foi liderada por David Beckham, Steven Gerrard e Frank Lampard, campeões na Europa e na Inglaterra por seus clubes, mas nunca emplacaram com a seleção.

João Carlos Assumpção, jornalista e colunista do LANCE!, entende a empolgação com o bom futebol dos garotos, mas pede cautela em relação aos títulos.

- A nova geração inglesa é muito boa e é a promessa de um belo futebol, não de novos títulos necessariamente. Ainda é cedo para comparar com a geração de Lampard, Beckham e Gerrard, que vi de perto. A diferença entre gerações é o trabalho que tem sido feito fora das quatro linhas, o investimento na base e na formação de treinadores, assistentes, psicólogos do esporte, analistas de desempenho e outros mais. Um trabalho que lembra muito o da Alemanha pós-Copa de 2002.

Para se diferenciar da outra geração de estrelas, Danny Mills, ex-defensor da Inglaterra, afirma que os garotos campeões precisam evoluir seu jogo e garantir que esse troféu não seja o ápice da carreira, apenas o começo.

- Esses jogadores precisam trabalhar e desenvolver seu futebol, garantindo que esse momento não seja o topo das suas carreiras. Nós temos grandes jogadores que já são vencedores, mas temos que lembrar que são equipes de base: temos que manter o investimento na base para que, no futuro, isso reflita no time principal. A única maneira de conquistar outro título mundial é trabalhar em conjunto com as bases dos clubes em prol de uma seleção inglesa principal bem sucedida.

A Inglaterra conquistou seu único título da Copa do Mundo em 1966, edição sediada nos país da Rainha, e desde então vive uma seca de títulos. A base vencedora pode mudar essa história?

- Essa geração promete. Mas não quer dizer que vá acabar com o jejum de títulos inglês. A geração de Zico, Falcão, Sócrates e cia no Brasil, por exemplo, não acabou com a seca brasileira... - avalia Janca.