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Pérolas Negras celebra título e sonha ser o 'clube mundial dos refugiados'

20/11/2017 08h30

O 20 de novembro é feriado do Dia da Consciência Negra. Lembra a morte do herói brasileiro Zumbi dos Palmares e tem a ideia de fazer discutir os problemas da população negra, de importância histórica praticamente ignorada ao longo dos séculos. É para fazer incluir. E, neste dia, o time de futebol que promove a inclusão e a igualdade de oportunidades celebra o sucesso. O Pérolas Negras, que conta com nove refugiados haitianos, conquistou, neste domingo, o título da Série C, a quarta divisão do estado do Rio de Janeiro, e o consequente acesso à terceira divisão fluminense.

O clube tem sede em Paty do Alferes, no Vale do Café, mas a delegação viajou até Cardoso Moreira, 300 quilômetros ao norte do estado para levantar o troféu. A final foi contra o Campos, e o empate em 0 a 0 resultou em festa. O projeto social começa a se consolidar com êxito no mundo da bola, e quer mais, como explica o gerente de futebol Marcos Baday.

- Representa a coroação de um trabalho de dar oportunidade a jovens refugiados. Por um momento do Haiti, mas já fechamos com um venezuelano para o ano que vem. Nosso objetivo maior é ser o clube mundial dos refugiados nos próximos anos. Dar oportunidade e, paralelamente, garantir competitividade. As pessoas acreditam que um projeto de cunho social não pode ter nível de excelência. Fomos campeões estaduais sub-20 invictos (também da Série C). No profissional, perdemos só um jogo. Estamos mostrando que é possível dar recado à sociedade: aliar a oportunidade a refugiados com um alto nível de desempenho - afirma o dirigente.

O sonho é alto, mas as mazelas de populações tantas vezes esquecidas também são grandes. A extrema pobreza do Haiti, a profunda crise sócio-econômica da Venezuela e as guerras em países do Oriente Médio também geram emigrantes que serão recebidos pela equipe fundada pela organização não governamental Viva Rio.

- Com os haitianos e o venezuelano, mais o sírio, o iraquiano e o palestino refugiados que traremos, a ideia é fazer contratos de dois anos pois eles são a razão, a locomotiva do projeto. Com os brasileiros, por enquanto, contratos pontuais, normalmente semestrais, para as competições - explica Baday.

Mas como atingir tamanho sucesso em campo? Para começar, a realidade do Pérolas é de salários em dia, diferentemente da maioria dos clubes pequenos e até de outros que figuram em divisões nacionais. Continuidade é outra marca do projeto. O técnico Rafael Novaes, por exemplo, está à frente do time há seis anos. Ao pagar pouco, mas em dia, e cumprir com a legislação, o clube se credencia para dar um passo além.

- Já demos entrada na Ferj e na CBF e esperamos ser a sexta equipe do estado - atualmente, somente os quatro grandes e o Nova Iguaçu - a obter o certificado de clube formador. Implica numa série de exigências, mas estamos preparados para sofrer a vistoria e ganhá-lo. Queremos ser um clube que forma atletas de alto nível nos aspectos futebolístico e humano. Fazer isso por muitos anos. Temos trabalho já no Haiti e estamos para fazer na Jordânia - planeja o gerente de futebol.

O sucesso nas quatro linhas vai depender de muitos fatores. Mas o êxito social da instituição já acontece. Para que os refugiados haitianos dos times sub-20 e principal pudessem exercer seus ofícios, uma exceção foi aberta e nenhum deles ocupa vaga de estrangeiros.

Seja do Brasil, do Haiti, da Jordânia ou de tantos lugares que vivem problemas minimizados pela rotina alheia, o projeto chama atenção pelo ideal. Enquanto histórias como do Pérolas Negras surpreenderem, enquanto houver desigualdade, enquanto tanta gente nem souber onde fica a Síria, datas que remetem à consciência, como o 20 de novembro, serão, sim, necessárias.