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Sem medo! Fogão só depende de si para 'homenagear' João Saldanha

23/11/2017 16h28

A reta final do Brasileirão pode aproximar o Botafogo de um nome bem marcante de sua história. A equipe comandada por Jair Ventura tem boas chances de sagrar-se vencedora do Troféu João Saldanha (que o LANCE! concede, de maneira simbólica, ao clube com melhor campanha do segundo turno da competição).

Mesmo na terceira colocação, com 27 pontos, a o Glorioso só precisa vencer os confrontos diretos contra quem está na frente. Na próxima segunda-feira, a equipe encara o Palmeiras (com 28 pontos), no Allianz Parque, enquanto, em 3 de dezembro, recebe o Cruzeiro (que tem 29 pontos) no Nilton Santos.

A chance de faturar o troféu com o nome do jornalista e de seu ex-técnico surge em um ano histórico: em 2017, são comemorados 100 anos de nascimento do "João Sem Medo". Alguns deles, dedicados ao Botafogo, seu clube de coração.

Desde que começou sua trajetória profissional, João Saldanha nunca escondeu sua admiração pelo Botafogo. É o caso do trecho da coluna "Meus amigos, botafoguenses", no "Jornal do Brasil":

"Sou torcedor do Botafogo por algumas razões. A primeira foi, sem dúvida, pelo grande número de gaúchos que jogaram na época: Benedito, Martim Silveira, Benevenuto, Otacílio, Luiz de Carvalho. E porque a própria diretoria estava coalhada de gaúchos, até diziam que o Botafogo ser o "clube de gaúchos.

Já disse que a camisa preta e branca foi um grande fator de me fazer torcedor do Botafogo. Como se sabe, isso influencia os garotos"*.

Além de enaltecer o Alvinegro, Saldanha chegou a jogar no clube, mas se consagrou mesmo quando foi contratado como treinador. Logo em 1957, "bancou" a contratação de Didi e, comandando craques do quilate de Nilton Santos, Quarentinha e Zagallo, sagrou-se campeão de maneira irretocável: aplicou um sonoro 6 a 2 no Fluminense, com cinco gols marcados por Paulinho Valentim no Maracanã.

Foram dois anos como técnico em General Severiano, até trocar o comando da equipe pelo jornalismo. E, de microfone em punho, "cornetar" o Alvinegro em alguns momentos, e render uma situação inusitada com Manga.

Durante a decisão do Campeonato Carioca de 1967, João Saldanha fez a acusação de que o goleiro botafoguense Manga estava "vendido" para favorecer o Bangu na decisão. Nem mesmo o título do Botafogo foi suficiente para sossegá-lo: o "João Sem Medo" surgiu em meio à festa alvinegra e disparou tiros contra o camisa 1, o obrigando a pular de uma altura de três metros na comemoração da sede do Mourisco.

- Não sei se corromperam (o Manga) ou não em dinheiro, mas com ameaça de morte foi de uma forma visível. Ele estava aterrorizado. Se estou lá (no Botafogo), não deixo ele jogar - contou João Saldanha alguns anos depois, em uma entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura.

Décadas depois, João Saldanha comemorou em crônica no "Jornal do Brasil" o fim do jejum de 21 anos do Botafogo valorizando a relevância de sua história gloriosa:

"Um grande clube, com história para dar e vender, necessita viver acima de tudo. Que volte General Severiano ou que se faça um novo Caio Martins, bem gramado e para mais gente. Se o Botafogo não vender, nem treinador, nem time, pode ser sempre o clube da torcida que mais cresce no país"*.

O jornalista morreu em 1990, aos 73 anos, quando estava na Itália para cobrir a Copa do Mundo pela TV Manchete. Deixou como lembrança como técnico uma bela passagem pela Seleção Brasileira (que conduziu com 100% de aproveitamento nas Eliminatórias ao Mundial) e muita saudade de suas palavras.

Passados 24 anos, o Botafogo está a dois jogos de unir sua história novamente a João Saldanha. Em tempos de um Alvinegro que conta com o Estádio Nilton Santos, e da busca da equipe de Jair Ventura por se superar no futebol, o estilo do "João Sem Medo" continua cada vez mais atual.

*Trechos extraídos do livro "As 100 melhores crônicas comentadas de João Saldanha" (Ed. LivrosdeFutebol)