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Trocas de e-mails divulgados por site evidenciam ligação de Ricardo Albacete com LaMia

28/11/2017 09h54

As investigações em torno da queda do avião que levava a Chapecoense e jornalistas ganharam novos desdobramentos. Após a revelação de quem eram verdadeiros donos da empresa LaMia, e-mails divulgados em reportagem desta terça-feira pelo ESPN apontaram que o empresário Ricardo Albacete e sua filha, Loredana, controlavam toda a operação da companhia aérea em território boliviano (ao contrário do que sempre negaram).

Entre os e-mails, há um e-mail de Miguel Quiroga (morto no acidente que vitimou 71 pessoas, dentre elas a delegação da Chape) com cópias para Ricardo e Loredana, no qual o piloto cobra o pagamento dos funcionários:

"Senhor Ricardo, boa tarde. Te escrevo para saber se vai poder nos depositar os salários de Marco e de minha pessoa. Já que estamos em uma situação crítica economicamente", escreveu o piloto.

O empresário responde com a seguinte mensagem:

"Se entra o dinheiro do Sol de América, o General deve proceder em consequência", disse, em referência ao voo do clube, que também viajou pela LaMia.

O "General" é uma referência a Gustavo Vargas Gamboa, então diretor-geral da LaMia e General aposentado da Força Aérea boliviana. Ele foi preso dias após a tragédia, nas investigações preliminares. Além disto, é pai de Gustavo Villegas, diretor do Registro Aeronáutico Nacional da Direção Geral da Aeronáutica Civil (DGAC) e detido pela acusação de ter facilitado a licença para que a LaMia pudesse operar no país.

Em outra troca de e-mail, datada de 15 de novembro de 2016, Albacete diz:

"Estimados Marco e Miguel, me estranha que vocês nem sequer informem para onde voam, com quem voam, a que custo, etc, etc. Vemos o avião voando de Buenos Aires a Assunção, logo volta a Buenos Aires, logo Assunção, logo VVI, logo a Santa Cruz aeroporto e agora voando ao Norte. Agradecemos, nos informem".

Dias depois, o tom do empresário é mais incisivo ao se dirigir a Quiroga, Marco Antonio Rocha Venegas, à administradora da companhia, Miriam Flores, e Gustavo Gamboa:

"Estimados Marco, Miguel, meu general e licenciada Miriam: sigo esperando a prestação de contas do dinheiro recebido em efetivo nos últimos voos, desde o Medellín, o de Bolívia, o de Argentina, o de Tarija, o de Rurreravava e todos os que você sabem. Isso não pode seguir assim. Usam e abusam dos aviões. Não pagam nem um centavo. Não reconhecem nossos aportes e tomam dinheiro sem prestar contas.

Eu estou às portas de uma operação, mas juro a vocês que se não receber informação solicitada antes deste sábado, pego um avião, viajo a Bolívia e suspendo minha operação.

Não podemos seguir desta maneira. Exigo de vocês contas. Licenciada, você tem a obrigação de envia-las; General, você é o apoderado. Marcos e Micky, vocês têm a responsabilidade e a obrigação de facilitar essa informação. Se não fazem, pois que fiquem para nossa história, quem falhou. Ricardo Albacete", decretou.

Há também na reportagem um e-mail de Quiroga com a confirmação do acordo com a Chapecoense direcionada a Ricardo Albacete. O e-mail tinha cópias para Loredana e Marco Antino.

"Senhor Ricardo, bom dia, lhe escrevo para informar que fechamos um voo com a Chapecoense. Pela soma de US$ 130 mil. Brasil deu autorização tarde, e o que fiz foi tomar a decisão de contratar Boa até Santa Cruz nos custando (borrão) algo de dólares. Estou decolando de CBBA a Santa Cruz neste momento. E dali até Medellín. Mil desculpa por não informá-lo. Não voltará a acontecer", escreveu o piloto.

Ao se despedir, o piloto, que morreu no desastre, confirma que tentará um futuro acordo:

"P.S.: chegando a Medellín se Deus quiser vamos fechar com Nacional para a volta".

Há uma mensagem do dia do acidente, no qual Albacete lamente:

"Deus não quis, Miguel! Ricardo".

VIÚVA DO PILOTO E COMISSÁRIA CONFIRMAM ENVOLVIMENTO DE RICARDO ALBACETE

Viúva de Miguel Quiroga, Daniela Pinto não só confirmou a ligação de Albacete, como também revelou que o piloto já trabalhara antes com o empresário:

"Esses detalhes de quanta parte tinha meu marido, não sei. Ricardo e Loredana Albacete, nunca os vi na minha vida, só conheço por foto. Das poucas vezes que meu marido vinha, ele tinha comunicação com Loredana, era comunicação direta; às vezes com Ricardo, porque Miguel trabalhou para ele em Venezuela e Aruba, era seu empregado. Quando vieram à Bolívia, eu não sei o que aconteceu, não sei mais detalhes, mas sei que meu marido falava com Loredana", disse.

Comissária de bordo que sobreviveu, Ximena Suárez também confirmou que Albacete era o dono da LaMia:

"Foi a pessoa que conheci depois... Quem me contratou foi Miguel, Miguel Quiróga. Um mês depois, ele (Ricardo Albacete) se apresentou ante de nós e dizendo que ele era o dono da companhia", revelou Ximena.

Porém, tanto Ricardo Albacete quanto sua filha negaram ligação com a companhia aérea. Loredana afirmou à ESPN:

- Não posso responder e não poderia nem estar conversando com você, com jornalista. O que está nos documentos é o correto, não sei o que dizem as investigações. Na Bolívia, está toda a história. Isso é uma companhia aérea, não uma casa de bolos: as pessoas que fazem parte da companhia têm que ser nomeadas formalmente. Não pode haver nada que não esteja nos documentos".

Nenhum dos dois prestou depoimentos em qualquer uma das investigações levadas a cabo em Bolívia e Colômbia. A Justiça boliviana, porém, aumentou na última segunda-feira o prazo para apuração do acidente em seis meses.