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Precisamos falar sobre o 'Barceloninha' Napoli. E não é de hoje

01/12/2017 07h45

Um ataque cuja média de altura é de 1,70 m; um treinador que rodou por mais de 20 anos em clubes modestos, longe da Serie A. De jogo em jogo e contornado de peculiaridades, o Napoli, sob o comando do excêntrico Maurizio Sarri, vem colecionando simpatizantes mundo afora com seu futebol vistoso e ofensivo, mesmo em meio ao caos do futebol local. E o mais importante: caminha para alijar a soberania da hexacampeã Juventus no Italiano. A Velha Senhora, aliás, é a adversária desta sexta-feira, às 17h45 (de Brasília), pela 15ª rodada. O palco será o Estádio San Paolo.

Atualmente, a equipe azzurra ocupa a liderança da elite, com 38 pontos, quatro a mais que a Juve (3º lugar) e à frente da Inter de Milão, vice-líder, por dois - hoje, os principais postulantes. A tarefa para o time de Sarri levar o Scudetto não é nada simples, mas a pavimentação tem sido sólida, sobretudo pela manutenção da base dos últimos anos. Em 2016/17, por exemplo, terminou em terceiro, com o melhor ataque do torneio (incríveis 94 gols) e destaque para a vice-artilharia do belga Mertens. Já em 2015/16, primeira stagione com Maurizio Sarri, ficou com a segunda posição e viu Higuaín, hoje rival na Juve, ser o maior goleador do nacional.

Até enfrentar e empatar com a Inter de Milão, pela oitava rodada do Italiano, o Napoli acumulava oito vitórias consecutivas, um feito que somente quatro equipes na história da Serie A haviam conseguido nos primeiros jogos da temporada: a Juventus por três oportunidades (1930/31, 1985/86 e 2005/06) e a Roma, em uma oportunidade (2013/14).

Além de Mertens (1,69 m), o italiano Insigne é outro trunfo de baixa estatura (1,63 m) que tem esmerilhado no nacional, principalmente com assistências - já são quatro. Mais atrás, os dois, junto ao espanhol Callejón (1,77 m e revelado pelo Real Madrid), são abastecidos pelo brasileiros Allan e Jorginho (naturalizado italiano) e o eslovaco Hamsik. Revelado pelo Vasco e com passagem por Udinese, Allan, inclusive, ganhou coro de um especialista para vestir a camisa da Seleção Brasileira.

- O Allan, pra mim, é de nível de Seleção Brasileira. Merece uma atenção especial, como mereceria Jorginho (natural de Imbituba-SC) se não fosse pela questão da cidadania italiana. Tratam muito bem a bola - opinou Mauro Beting, em conversa ao LANCE!.

DE FALIDO A 'BARCELONINHA'

Se hoje encanta e está na nata do futebol europeu, há pouco mais de dez anos, o Napoli recomeçava do zero, da falência. Em 2004, o clube do sul da Itália foi rebaixado à Série C, decretado falido em agosto - já estava na segunda divisão italiana - e deixou de existir. Mas com os esforços do produtor cinematográfico Aurelio de Laurentiis, o clube ressurgiu, com o nome de Napoli Soccer. Quase dois anos depois, o ex-time dos craques Maradona e Careca regressou ao seu antigo nome Società Sportiva Calcio Napoli. Entretanto, só voltou à primeira divisão em 2007/2008 após galgar das camadas inferiores. O controverso De Laurentiis é o atual presidente do SSCN.

Inegavelmente, o Napoli alcançou outro patamar após a chegada de Sarri. O técnico deu um tempero especial na pizza local, dita por muitos como a melhor do país. Para os napolitanos a saborearem com mais deleite, resta uma taça para a sala de troféus, intumescida com garatujos de Maradona, Careca, Ferrara e Bruscolotti, por exemplo. E está no caminho.

- O Napoli está no caminho e merece um título de peso. Na temporada passada, foi o não campeão mais legal que eu pude ver. Primeiro que a história do Sarri já chama muito a atenção... O cara sai de um banco, do nada, e vira o que é hoje, superando preconceito e se tornando um dos melhores do mundo. O time dele dá gosto de ver, assim como é o Monaco... só que o Monaco foi campeão francês (2016/17) - comentou Beting.

- O Napoli é muito vistoso, tem as triangulações com naturalidade, o jogo apoiado muito bem aplicado. É um Barceloninha. A invenção do baixinho Mertens como centroavante é muito legal de se ver, ainda mais em futebol tão físico como na Itália. É um time a se ver e a se aplaudir - completou.

INSPIRAÇÃO NO FUTEBOL BRASILEIRO

O estilo de jogo apoiado do Napoli, que nada contra a maré do tradicional estilo físico italiano, é refletido nas atividades do futebol brasileiro. Ex-Flamengo e atualmente no comando técnico do Vasco, Zé Ricardo, por exemplo, sinalizou que se inspira nos "bons princípios" de Sarri, inclusive indicando que o seus atletas assistam ao time azul.

- A equipe napolitana tem um estilo de jogo marcante, com identidade forte, veloz e com muita qualidade no meio, e bons princípios, principalmente por gostar de sair jogando de trás, e isso é de se admirar - falou o técnico cruz-maltino ao L!, completando:

- Sarri mostrou desde o seu início, em campeonatos regionais, se destacou e vem construindo uma carreira muito legal, algo que a gente não vê no Brasil. Ele tem a equipe na mão, e ela é vistosa e muito gostosa de se ver jogar. Serve de inspiração. Eu, regularmente, acompanho o futebol italiano e sempre indico aos meus atletas para acompanharem o Napoli - finalizou.

Outro técnico brasileiro é admirador do Napoli. Antes de retornar ao Palmeiras, Cuca tinha como escopo passar um período viajando e estudando com treinadores estrangeiros. E adivinha? O primeiro nome citado por Cuca como "mentor" foi justamente o de Maurizio Sarri.

- (Rubens) Minelli e (Luiz Felipe) Scolari são, como técnicos, sempre meus pontos de referência. Em 2017, porém, devo fazer uma viagem à Itália para conhecer os técnicos do momento. Admiro muito o Sarri, que fez um grande trabalho primeiro no Empoli e agora no Napoli. Quero observar de perto seu trabalho - disse Cuca à "Gazzetta dello Sport", ao fim de 2016, quando tinha recém-conquistado o Brasileirão.

SARRI SOBRE COMPARAÇÃO COM GUARDIOLA

Se o Napoli vai bem, obrigado, no Calcio, o mesmo não pode ser dito quanto à Liga dos Campeões. O desempenho no torneio tem contrariado as expectativas, e, restando uma rodada para o fim da fase de grupos, não dependi de si para avançar às oitavas.

Pesou o fato de cair na mesma chave do Manchester City, equipe sensação e invicta na temporada, que lidera o Grupo F, com 15 pontos (100% de aproveitamento). Atrás vem o Shakhtar Donetsk, com nove pontos, três a mais que os italianos. Caso queiram carimbar passaporte à próxima fase, os Azzurri precisarão vencer o lanterna e zerado Feyenoord na última rodada, na Holanda, e torcer para o Shakhtar perder para o City, na Ucrânia. Os jogos serão no dia 6.

Antes do primeiro confronto entre Sarri e Pep Guardiola, vencido pelo espanhol, assim como no segundo, os técnicos trocaram elogios. Sarri, a propósito, falou sobre as comparações com o treinador dos Citizens.

- Não posso ser comparado com Guardiola, ele é o melhor treinador do mundo. Tenho idéias, mas não ganhei nada até agora, então não posso ser comparado com ele. Eu gosto da filosofia de Guardiola, eu gosto da o modo como as equipes querem jogar, quer ganhar a bola imediatamente quando perderem a posse. Estamos falando de um técnico que mudou o futebol - falou Sarri, que ouviu as seguintes palavras de Pep.

- O Napoli faz muitas coisas, e faz tudo isso perfeitamente. Eles têm um estilo diferente do que estamos acostumados a enfrentar na Premier League. Como espectador e como técnico, eu gosto de assistir ao Napoli, e quando estou em minha casa, costumo assistir bastante aos seus jogos. Eles sempre me arrancam um 'uau' de admiração na frente da televisão. Mais do que tudo, eu aprendo bastante - disse Pep Guardiola.

TIME BASE DO NAPOLI