'Auto-delação premiada'
A decisão do Flamengo de extinguir o plano de sócio-torcedor corporativo, que garantia descontos e privilégios na compra de ingressos pelas torcidas organizadas, por até R$ 10 por mês, apenas corrige um erro anterior da atual gestão: jamais esse tipo de acordo, que fere o princípio de um tratamento igualitário a milhões de flamenguistas espalhados pelo país, deveria ter sido fechado entre o clube e essas organizações - algumas delas aliás, por vezes punidas por promoverem atos de vandalismo nos estádios e se envolverem em crimes ainda mais graves como assassinatos de rivais.
É patética a alegação de que o rompimento se deu por conta do descumprimento dos Termos de Conduta das torcidas com o Ministério Público e do desrespeito a cláusulas do contrato do tal plano corporativo. Os incidentes do Maracanã, de fato, ultrapassaram todos os limites da civilidade. Mas atitudes que desrespeitam os instrumentos legais e contratuais sempre foram prática corriqueira dessas organizadas e jamais provocaram qualquer reação do clube.
O que o Flamengo busca, agora, é tão somente atenuar as punições que pode e deve sofrer por conta dos incidentes, seja na esfera judicial, seja no âmbito da Conmebol. O que o presidente Bandeira de Mello fez, ao procurar o MP, foi tão somente um reconhecimento de culpa, quase uma auto-delação premiada, tão em voga no país da Lava-Jato. Mas isso é pouco, muito pouco para reduzir a responsabilidade do Rubro-Negro. E corrigir o desrespeito da atual gestão com os verdadeiros torcedores - os que não invadem estádios - discriminados por quem deveria protege-los.
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