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Kazim resume força do Corinthians: "É como você tomar uma droga"

Daniel Vorley/AGIF
Imagem: Daniel Vorley/AGIF

31/12/2017 05h40

Nenhum outro jogador do Corinthians se impressiona tanto com a força contagiante da Fiel torcida do que o atacante Kazim. Acostumado à frieza europeia, o inglês naturalizado turco tem dificuldade em expressar seu sentimento com relação ao fervor da arquibancada. O mesmo acontece quando fala do clube e toda sua imponência de heptacampeão brasileiro. Para o gringo, vestir a camisa do Timão o faz um super-herói. É como uma substância poderosa. Na análise dele, uma droga.

"Eu sinto a força do Corinthians, me sinto muito maior quando estou jogando. Você fica dois metros e meio mais alto. 200 kg mais forte, pode brigar com tudo. É como você tomar uma droga, dá muita força para você", definiu o centroavante turco, em entrevista exclusiva ao LANCE!.

Criado na gélida Londres, capital da Inglaterra famosa pelos hooligans, Kazim diz que a única coisa parecida que encontrou na carreira de futebolista foi na Turquia, quando defendia o Galatasaray. Mesmo assim, não há parâmetros para a Fiel. Ele fala com seu português com sotaque de um gringo, mas já tão avançado que se arrisca até nas gírias. O "mano", consagrado na periferia de São Paulo, é seu termo mais corriqueiro.

"A torcida, mano. Não posso explicar, eles são um fenômeno, incrível. Eu falo para todos os jovens, que quando saírem daqui, vão se arrepender. Tudo bem, você vai ganhar mais dinheiro, ok, é sua vida. Mas aqui é outra coisa, uma religião. Foi assim quando saí de Galatasaray: "Porra, porque fiz isso". E me arrependi também. São parecidos", afirmou o centroavante.

"Aqui, você fica cinco, seis pontos na frente, a torcida quer mais. Lá, cinco, seis pontos, está bom. Eu respeito isso, porque eles querem mais, mais. Se você joga com raça, eles ficam tranquilos. Se ganhar, ficam tranquilos. São essas duas coisas. Se você joga com raça, você joga pra caralho. Sinto isso, mano", completa.

Em sua primeira temporada no Corinthians, Kazim disputou 30 jogos e marcou três gols. O desempenho é abaixo da expectativa para um centroavante, apesar de ser atenuado pela fase incrível do titular Jô, mas nem por isso ele deixou de ser importante. Faltando cinco rodadas para o fim do Campeonato Brasileiro, o turco fez o gol da vitória por 1 a 0 sobre o Avaí na Arena, deixando o Timão ainda mais perto da conquista. Status que, para o turco, é a melhor resposta aos críticos. Agora sem Jô, e com a diretoria ainda tentando fechar com o colinbiano Tréllez, Kazim é o principal centroavante do elenco.

"Depois do título, meu pai falou: "Ninguém pode falar nada contigo, você é campeão". Fazendo história aqui, primeiro europeu a ganhar título no Corinthians, fazer gol no Corinthians. É pensar nesses momentos bons", lembra.

O gosto pelo Corinthians é tanto que o jogador decidiu gravá-lo na pelo. Logo após a conquista do hepta, Kazim tatuou a taça do Brasileiro com os dizeres "Quarta força", menção ao título dado por parte da imprensa ao Timão no início da temporada. O gringo é só alegria, mas ainda sente falta da família e dos amigos, que vivem em Londres. Os companheiros acompanham tudo à distância e até gostariam de vê-lo de perto. No entanto, isso não é possível. Kazim não entra em detalhes, mas revela que seus parceiros não podem visitar o Brasil.

"Meus amigos colocam os gols, de jogo no Instagram, no Twitter. Eles ficam felizes. Porque eles se sentem mal também. E eles sempre torcem por onde estou. São fanático. Querem vim aqui agora, mas eles têm problemas, não podem sair do país", conta.

A reportagem pergunta a razão. E Kazim diz:

"Ahhh, é problema deles, (risos). Tentam sair, mas aí a polícia pega eles. Então falamos só pelo WhatsApp".

O jogador passou parte das férias no Brasil e a outra em Londres, assim matou um pouco da saudade. Agora, ele se prepara para se reapresentar para seu último ano de contrato com o Timão. A ideia é permanecer por muito tempo no clube. Como o próprio explica, o espírito de povão, típico da nação corintiana, está no sangue e é assim que ele se sente melhor.

"Em Londres, tudo bem, é muito diferente daqui, aqui eles sofrem muito. Não pode ter comparação. Mas para mim, lá é muito difícil, minha família. Agora, graças a Deus tenho sorte porque jogo futebol. Não só dinheiro, mas morar no Brasil, conhecer você. Tenho sorte. Peguei meu primeiro passaporte com 18 anos, peguei meu primeiro avião. Mano, eu vou contar um segredo: eu fiquei mais tempo sem dinheiro do que com dinheiro na minha vida. Eu peguei dinheiro nos últimos dez anos. Fiquei mais 18, 19 anos sem dinheiro. Não pode esquecer disso".

O gringo é da favela!