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Luiz Gomes: 'O dia do jogo no Brasil e o que acontece na Europa'

28/01/2018 08h45

O Allianz Parque, uma informação importante para quem não é de São Paulo, fica entre dois dos mais importantes shopping centers da Zona Oeste da cidade. Um rápido passeio por estes lugares quando o Palmeiras joga, dá a dimensão precisa de um potencial que é desperdiçado pelos clubes brasileiros, do quanto eles deixam de faturar oferecendo ao torcedor nos dias de jogos algo mais do que assistir à 90 minutos de bola rolando.

 

Restaurantes, dos mais sofisticados aos fast foods das praças de alimentação, um stand de tiro de airsoft, o boliche - e não estamos nem falando das lojas comerciais -, apenas das opções de entretenimento, são invadidos nos dois shoppings por uma legião de gente vestida de verde e branco, invariavelmente algumas horas antes e um tempo depois de cada partida. Um público que, se tivesse o que fazer, onde comer e se divertir dentro do estádio certamente deixaria algo mais além do dinheiro do ingresso para engordar os cofres dos gestores das arenas por todo o Brasil.

O chamado dia do jogo é uma fonte de renda importante no orçamento dos grandes clubes na Europa. E o mesmo se repete nas principais ligas dos esportes americanos. Em uma coluna publicada neste LANCE!, quando da divulgação do balanço de 2016 dos clubes brasileiros - os números do ano passado, evidentemente, não estão consolidados -, o consultor Amir Somoggi mostrou que o mercado global de exploração de arenas esportivas movimenta mais de R$ 160 bilhões a cada temporada. Mas o mercado brasileiro, neste bolo, representa uma fatia irrisória, de 0,46% do total, com um faturamento de apenas R$ 735 milhões.

 

Tomando por base o ranking da consultoria Delloite, que anualmente faz uma radiografia da saúde financeira dos principais clubes do planeta, o Manchester United é o que mais fatura com estádio na Europa, gerando mais de R$ 480 milhões por ano. Na sequência, aparece o Arsenal com R$ 468 milhões, o Real Madrid com R$ 425 milhões e o Barcelona com R$ 415 milhões. Ou seja, apenas os dois primeiros clubes do ranking europeu movimentam juntos mais dinheiro com a exploração de seus estádios do que todos os clubes brasileiros somados. E isso após o advento da Copa, quando novas e modernas arenas se espalharam pelas principais capitais.

 

É óbvio que há fatores que vão muito além do futebol para explicar essa situação. As diferenças econômicas, a força das moedas e o poder aquisitivo da população são alguns dos que podem sem dúvidas serem relacionados. Mas o tamanho do abismo entre os dois lados do Oceano Atlântico passa, principalmente, por uma questão de cultura do negócio.

 

Há pouco mais de uma década, o Arsenal descobriu que com a modernização do campo de jogo e a aplicação de um conceito de multiuso e multisserviços na relação com os torcedores poderia multiplicar suas receitas com o Emirates Stadium mudando a rotina dos dias de jogos. Foi o que deu início a uma onda transformadora que se espalhou pelas arenas inglesas e logo tomou conta do futebol europeu. Os direitos de TV, lá como aqui, continuam a ser a principal fonte de arrecadação. Mas em alguns clubes as receitas dos dias de jogo já chegam à casa dos 20% do faturamento total.

 

A venda de ingressos, obviamente, é o ponto alto dessa arrecadação. Aliás, vale lembrar aqui, para ser justo, que o Palmeiras é o clube que mais fatura com estádio no Brasil desde a inauguração do Allianz Parque, graças sobretudo a um bem-sucedido programa de sócio-torcedor. Mas o sujeito que hoje passeia pelos shoppings da vizinhança antes e depois dos jogos poderia chegar mais cedo ao estádio se tivesse o que fazer. Atrações no estilo das fun fests organizadas pela Fifa durante as copas ou a Uefa nas suas competições, com jogos e ações de entretenimento que tem inclusive o benefício do ativação da marca pelos patrocinadores, a criação de uma estruturas sólida de lazer e uma oferta de alimentação variada e de qualidade poderiam, sem dúvida, fazer ainda mais diferença. Nos novos e velhos estádios pelo país.