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Espancado por jogador após festejar gol, gandula é goleiro e fazia bico para pagar faculdade: 'R$ 50'

20/02/2018 12h43

A cena assustadora rodou o mundo. No último domingo, o atacante Jeferson Reis, do Operário-MS, espancou o gandula Tadeu Kutter Junior após este ter comemorado, pulando, o gol que deu a vitória ao Comercial-MS por 1 a 0, aos 45 minutos do segundo tempo, em clássico válido pela 7ª rodada do Campeonato Sul-Mato-Grossense. Dois dias após o ocorrido, Tadeu ainda tem as marcas das agressões no corpo. Exames apontaram ferimento na cartilagem de seu nariz. Felizmente, não há fraturas no nariz e nem na cabeça, os dois pontos mais atingidos na barbárie de domingo. Curiosamente, Tadeu também é jogador. É o goleiro reserva do time sub-19 do Comercial-MS e nas últimas semanas vinha treinando como quarto goleiro do elenco profissional. Em entrevista ao LANCE!, Tadeu revela um ponto ainda mais tocante de sua atuação como gandula: ele estava ali por dinheiro para pagar sua faculdade.

- Estava fazendo esse bico de gandula para ganhar um dinheiro mesmo, para ajudar a pagar minha faculdade de educação física. Comecei a trabalhar como gandula no ano passado, nos jogos do Comercial como mandante. São R$ 50 por partida. Era o meu terceiro jogo como gandula neste ano, é um trabalho que me ajuda muito a pagar os estudos. Estou no quinto semestre e estudo no período noturno. Assim que acaba o nosso treino, tomo banho e vou direto para a faculdade - destacou Tadeu, que atualmente tem 19 anos.

Tadeu só conseguiu um tempo para dar entrevista nesta terça-feira. A segunda foi de muitos exames. O gandula fez raio x no Centro de Especialidades Médicas de Campo Grande e foi encaminhado para a Santa Casa de Campo Grande, onde passou por nova radiografia. Nada de grave foi constatado, mas ele precisará seguir cuidando do nariz com medicações e soro. Mesmo sem a necessidade de cirurgias, Tadeu também passou por exame de corpo de delito. Os advogados do Comercial abriram boletim de ocorrência contra Jeferson Reis e o massagista Raul Prazeres, que também é suspeito de ter agredido o gandula. O episódio poderá ter desdobramentos nos próximos dias.

O caso foi registrado na delegacia como lesão corporal dolosa, quando existe intensão de ferir. Jeferson e Raul foram ouvidos e liberados. Eles assumiram o compromisso de se apresentarem à polícia quando forem chamados de novo.

- Não estou mais sentido dores. Fui medicado e as dores passaram, estou bem melhor. Agora seguir cuidando e lavar com soro por dentro - comentou Tadeu.

O presidente do Operário, Estevão Petrállas, anunciou na segunda-feira que Jeferson Reis foi afastado por tempo indeterminado do clube. Porém, Estevão afirmou que Tadeu comemorou o gol fazendo gestos obscenos para o banco operariano e reclamou da postura do Comercial em escolher um atleta seu para atuar como gandula. Tadeu diz que sua comemoração não teve maldade.

- Foi um gol aos 45 minutos do segundo tempo. Não tinha como não comemorar, né? Sou comercialino e são-paulino. Inclusive, nenhum dos envolvidos me pediu desculpas até agora. Estou aguardando - falou Tadeu.

Em um primeiro momento, ciente de que o episódio daria grande repercussão, Tadeu temeu por sua imagem - mesmo não tendo revidado às agressões:

- Fui para a Copa São Paulo como segundo goleiro, tenho sonhos no futebol. Senti medo de perder toda a carreira, de ficar queimado. Mas agora não esse sentimento já passou. É erguer a cabeça e voltar a treinar. A vida continua.