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Luiz Gomes: 'Um novo rumo na TV'

04/03/2018 08h45

No ano passado, em Curitiba, um clássico Atle-Tiba deixou de acontecer quando a Federação Paranaense proibiu a entrada no Couto Pereira dos profissionais que fariam a transmissão da partida via internet, no site dos dois clubes. Insatisfeitos com os valores pagos pela Globo, Coxa e Furacão deixaram a rivalidade para dentro de campo - o que deveria ser uma regra de conduta no futebol brasileiro - e se propuseram a fazer o que seria uma experiência inédita por aqui. O imbróglio foi resolvido, o jogo realizado em outra data, transmitido como os cubes queriam, em seus sites, e com ótimos resultados de audiência.

A própria CBF, num momento de transição das negociações com a Globo, lançou mão do mesmo recurso, algum tempo depois, transmitindo pela internet amistosos da seleção brasileira. Cada vez mais, pelo mundo, inciativas do gênero vão ganhando espaço. Não chega a ser uma briga declarada de clubes e entidades esportivas contra os grandes conglomerados de mídia do planeta - mesmo porque boa parte das receitas do esporte ainda veem da negociação dos direitos de televisão. Mas é uma forma de preencher lacunas e alinhar o interesse de torcedores, patrocinadores e dos próprios promotores dos eventos.

O vôlei brasileiro, esta semana, passou por uma situação interessante. E encontrou uma boa saída. No domingo passado, a Rede TV, que transmite em TV aberta os jogos da Superliga, simplesmente cortou a transmissão de Sesi x Corinthians, no momento em que ia começar o tie brake. Exatamente isso, quem assistia ficou sem ver o momento mais importante de uma partida de vôlei. No lugar, entrou um programa de saúde, daqueles de horário pago. Foi a terceira vez que atitudes como essa aconteceram. O locutor da emissora, sem nenhum constrangimento, ainda recomendou a quem quisesse continuar a assistir, que visse o jogo pela internet. Cara de pau sem limite que deixou muita gente sem ver a vitória do Sesi no set decisivo por 15 a 11.

Ser detentora dos direitos de transmissão dá a uma emissora de TV alguns justos privilégios. Escolher horários dos jogos, influenciar na tabela são alguns dos benefícios que adquirem. É assim em qualquer lugar do mundo, em qualquer modalidade, até mesmo nos eventos mis tops do esporte mundial, como Copa do Mundo ou Olimpíadas, onde a grade de eventos é construída de olho no fuso horário e na audiência nos principais mercados consumidores, notadamente, EUA, Europa e China. Mas, a tudo isso, correspondem alguns deveres. O principal deles, respeitar os clubes, os jogadores e, principalmente, os torcedores/espectadores. Uma lição que a RedeTV, definitivamente, não parece entender.

Embora sem fazer uma relação direta entre os fatos, evitando entrar em conflito com a emissora, como mostrou o Blog Saque, de Daniel Bortoletto (http://blogs.lance.com.br/volei/), que acompanhou todo o desenrolar da crise, a CBV agiu rápido. Na quinta-feira, anunciou a assinatura de um contrato para criar na web o Canal Vôlei Brasil onde será transmitida toda a temporada 2018/2019 (sim, o vôlei segue o calendário europeu, ao contrário do futebol) das ligas masculina e feminina. A primeira experiência com a nova parceria se deu no dia seguinte, com a exibição via internet da vitória de 3 a 1 do Dentil/Praia Clube sobre o Hinode/Barueri na Superliga Cimed Feminina. O resultado, tecnicamente, foi animador, com uma transmissão de boa qualidade, com variedade de câmeras, locutores e comentaristas experientes e um sinal consistente - o maior risco do uso deste tipo de plataforma. Os números de audiência ainda não foram divulgados.

É um campo ilimitado, como o próprio ambiente digital. Ao seguirem o exemplo da CBV, criando canais exclusivos e proprietários de transmissão web, as federações, mesmo nos esportes de menor interesse do público, podem criar um poderoso canal de relacionamento com os fãs, garantir uma maior entrega aos patrocinadores, ampliando a exibição das marcas, e ainda agregar ações de e-commerce, promover campanhas de filiação e outras disponibilidades oferecidas pelas ferramentas.

Como já acontece no mundo da música, dos filmes e das séries, só para citar alguns exemplos, a transmissão de eventos esportivos começa a entrar em uma nova era. Que inclui a participação cada vez mais intensa de plataformas universais como facebook e youtube. O futuro é incerto. Mas a certeza é de que nada mais será como foi até aqui.