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Pintado: "Se eu tivesse oportunidade, talvez o São Paulo não estaria assim"

Pintado quando trabalhava no São Paulo; Agora, enfrentará ex-clube nas quartas do Paulista - Marcello Zambrana/AGIF
Pintado quando trabalhava no São Paulo; Agora, enfrentará ex-clube nas quartas do Paulista Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

10/03/2018 07h30

Em 10 de julho, um dia após comandar o São Paulo interinamente em derrota para o Santos, Pintado foi dispensado pelo clube para Dorival Júnior montar sua comissão técnica. Menos de um ano depois, o ex-volante, campeão da Libertadores e mundial pelo time tricolor nos anos 1990, comanda o São Caetano e reencontra o time ainda em crise com a sensação de que poderia ter sido mais útil no clube do Morumbi.

"Se eu tivesse a oportunidade de ajudar o São Paulo, como estou tendo de ajudar o São Caetano, talvez as coisas não estariam nesse ponto", disse Pintado ao LANCE!, já se preparando para enfrentar o time tricolor nas quartas de final do Campeonato Paulista, a partir do próximo fim de semana.

Em conversa por telefone pouco depois da confirmação da demissão de Dorival Júnior, Pintado garantiu não ter mágoa do São Paulo e que se sente feliz no Azulão. Mas deixou claro que os problemas atuais já tinham sido alertados por ele em sua passagem pela comissão técnica, entre 2016 e 2017, e que a situação parece ter até piorado atualmente.

Confira a entrevista completa com Pintado:

O que você pode falar da situação do São Paulo?
Fico triste pelos amigos que tenho no São Paulo, e só tenho amigo dentro do São Paulo. É muito triste ver pessoas sérias e competentes sofrendo tanto enquanto trabalham lá dentro. Mas o São Paulo paga por erros próprios. Tive a oportunidade de estar lá dentro e indicar alguns pontos errados que poderiam chegar no futuro que vemos hoje. Mas não posso fazer mais nada pelo São Paulo. Enquanto estive lá, indiquei, mostrei, tentei fazer alguma coisa e não foi possível resolver. Agora, cabe às pessoas que estão lá tentarem resolver esse problema que é muito maior do que quando eu estava lá.

Tem um gosto especial enfrentar o São Paulo pela forma como você saiu do clube?
Claro que tem. Não tenho mágoa nem problema pessoal nenhum. Não devo nada ao São Paulo nem o São Paulo deve a mim. Sempre serei agradecido pela oportunidade que tive. Mas tem um sabor especial, sim. Não por ter saído ou não, até porque o tempo mostra quem está certo e quem está errado. Se eu tivesse a oportunidade de ajudar o São Paulo, como estou tendo de ajudar o São Caetano, talvez as coisas não estariam nesse ponto. Mas isso já é passado. Para mim, está morto e enterrado. Não tenho nenhuma mágoa, não me dói mais nada. Sou um homem e um profissional muito feliz por trabalhar no São Caetano em um momento muito bom e positivo.

O São Paulo vem trocando de técnicos com frequência. O que você pode falar dessa cultura de demitir técnicos no futebol brasileiro?
Vejo isso de uma maneira muito objetiva e clara. As pessoas que escolhem o treinador precisam tentar, pelo menos, seguir um planejamento com o mínimo de identidade do clube, da maneira como o clube joga, conquistou títulos e construiu uma história, para minimizar as dificuldades da profissão, que são calendário, lesões, adversários de muita qualidade, como temos dez candidatos a título no Brasil. Precisam idealizar esse caminho para, na hora da dificuldade, dar seguimento a isso. Se você não sabe para onde quer ir, a qualquer momento pode querer mudar a rota. Quando você sabe o caminho e tem profissionais competentes ao seu lado, sabe que tem uma subida pesada, mas engata a primeira marcha, vai devagar, mas sobe. Quando você não sabe para onde quer ir, fica muito difícil manter treinador, diretor, jogador.

É melhor enfrentar o São Paulo em crise ou ser azarão encarando um time grande embalado?
Na verdade, pela minha experiência, sei que grande equipe tem pressão e responsabilidade sempre. Claro que temos pés no chão e sabemos que o São Paulo é favorito, maior do que o São Caetano, tem toda força de elenco, poder financeiro e tudo que conhecemos da estrutura do São Paulo. Mas o São Caetano tem profissionais muito capazes de enfrentar qualquer dificuldade e arma que o São Paulo possa ter. Para nós, é motivo só de motivação. Esse momento difícil do São Paulo não nos ajuda em nada, trabalhamos sem pensar que teremos qualquer facilidade.

O que você pode falar sobre o André Jardine, que vai assumir o São Paulo interinamente?
Fui auxiliar do André quando ele assumiu o São Paulo (em 2016) e ele foi o meu quando assumi (em 2017). A gente se conhece relativamente bem. Para mim, é motivo de alegria ele ter essa oportunidade porque merece. Infelizmente, não é no momento e da maneira que ele gostaria, mas é a oportunidade que aparece. O André é preparado e conhece o caminho das pedras dentro do São Paulo, sabe o que vai encontrar pela frente. E eu estou muito motivado porque será um jogo muito difícil. Não será André Jardine contra Pintado, mas São Caetano contra São Paulo. Isso gera atenção especial e todo esforço para que as coisas saiam bem.

Qual é a sua sensação com o São Caetano?
O mais importante é que já estamos classificados, levamos o São Caetano da última colocação à zona de classificação, e já temos no calendário (Série D) o Brasileiro em 2019. É muito mérito dos jogadores, que acreditaram no que coloquei e no que a comissão técnica ofereceu de informação e treinamento, dando toda condição para renderem mais. Confesso que é um resultado muito especial na minha vida profissional e na vida de todos que estão aqui no São Caetano. É um momento muito bacana que o São Caetano está vivendo de novo, saindo da última colocação, em um momento muito difícil do campeonato, e estar classificado a uma rodada do final mostra que tem gente competente aqui dentro, um trabalho bem feito. Mas o meu objetivo é muito maior do que esse. Vim para construir alguma coisa, não quero que seja só uma passagem em que só vim, salvei, aparece uma proposta e vou embora. Não farei isso. Tenho um compromisso e espero ter continuidade para construir alguma coisa aqui dentro.

Como já está classificado, vai poupar jogadores nesta última rodada, contra o Bragantino, em Bragança Paulista?
Queremos chegar o mais longe que pudermos, não tem esse negócio de poupar ou guardar. Mas estamos pensando, sim, no que vem pela frente, no jogo importante contra o São Paulo. De tudo que pensamos no Campeonato Paulista, chegamos muito mais longe do que imaginávamos. A partir de agora, é estar preocupado com o confronto contra o São Paulo. Só que o jogo contra o Bragantino também será importante.