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Eles sabem o que é: histórias de quem jogou final Palmeiras x Corinthians

07/04/2018 06h20

Palmeiras e Corinthians definem neste domingo a sexta final de Campeonato Paulista entre eles na história. Um encontro cujas circunstâncias elevam a rivalidade à enésima potência. Jogo capaz de consagrar personagens, eternizar ídolos. Ou formar vilões. Muitos foram os que construíram essa história de um dos maiores clássicos do país e guardam lembranças preciosas.

Dos dois lados, os relatos se assemelham no que diz respeito à preparação para o duelo, às emoções, glórias. Mas também há tristeza e decepção, como a do ex-atacante Elivélton, autor do gol do título corintiano em 1995. Eternizado pelo chutaço de fora da área de pé esquerdo, contou em entrevista ao LANCE! sobre a mágoa que ficou do Timão

A reportagem ouviu personagens que já estiveram envolvidos em uma final entre os rivais. Do lado palmeirense, Leivinha e César Sampaio lembraram com saudade das conquistas de 1974 e 93. Do corintiano, Marcelinho Carioca, o Pé-de-Anjo, ganhou dois títulos paulistas sobre o rival (1995 e 99). Há também quem tenha vivido os dois lados, como o ex-volante Amaral e o próprio Elivélton, que deixou o Corinthians direto para o Palmeiras em 1996.

O tabu corintiano e a zoeira palmeirense

Um dos grandes símbolos da Academia, Leivinha relembrou da decisão de 1974, da qual foi protagonista. Ele deu o passe para o gol de Ronaldo, que decretou a vitória por 1 a 0 e aumentou para 21 anos o tabu do Corinthians sem títulos. Depois do jogo, a torcida palmeirense não perdoou e entoou cânticos de provocação ao jejum de conquistas do rival: "zum, zum, zum, é 21". Foi o sabor da taça e de jogar contra todos, segundo Leivinha.

- Naquela ocasião o Corinthians não chegava nunca em final, então é evidente que toda a imprensa, a maior parte da imprensa estava toda a favor do Corinthians, pelo próprio bem do futebol paulista seria importante o Corinthians campeão. O Palmeiras estava acostumado a ganhar. O clima era tanto que os próprios torcedores palmeirenses foram em pouca quantidade ao Morumbi. Mas acho que com isso o Corinthians, os jogadores corintianos estavam muito nervosos. Embora a gente tivesse um time melhor na época, nem sempre este fator pesa numa final. Acontece que eles estavam muito nervosos. Rivelino, por exemplo, é um craque, fora de série, mas o Dudu anulou ele. Eles estavam muito tensos - afirmou o ex-camisa 8 palmeirense.

Será que haverá nervosismo neste domingo, como foi no sábado passado? E quem vai tirar melhor proveito disso?

Uh, Marcelinho! Uh, Marcelinho!

Um dos maiores personagens da história do clássico, Marcelinho Carioca sabe o que é fazer o torcedor do Corinthians feliz em final contra o Palmeiras. Em contrapartida aos confrontos da Libertadores na década de 90, em que ficou marcado por ter um pênalti defendido por Marcos, no Estadual, o Pé-de-Anjo deitou e rolou. Venceu em 1995 e 99, fazendo gol em todas as finais. É a glória de um ídolo que sabe como esses jogos marcam.

- Eu adorava jogar contra o Palmeiras. Por isso que eu queria fazer os gols e fiz da final. Meu primeiro gol no clássico foi quando o Velloso (ex-goleiro) não pediu barreira e fiz de longe. E depois nos dois jogos da final. Você se torna ídolo, referência por causa desses jogos. Em 1994, perdemos o Brasileiro para o Palmeiras, a cobrança veio forte. E depois demos o troco no Paulista. É aí que o jogador vai sentir o que é jogar no Corinthians, o que é a segunda pele. Ela predomina no Dérbi.

Em 95, Marcelinho marcou nos dois jogos da final e repetiu o feito em 99, anos em que o Corinthians sagrou-se campeão. Meia de armação, o eterno camisa 7 da Fiel é lembrado até hoje como um dos maiores ídolos da história corintiana, muito pelo que fez contra rivais. Quem pode ser herói neste domingo no Allianz Parque? No jogo de ida, foi Borja quem marcou.

A tensão na preparação

Os ex-jogadores do Dérbi foram unânimes ao dizer que a preparação para um Palmeiras e Corinthians é totalmente diferente dos outros jogos. A semana é mais tensa, atletas ficam apreensivos. O ex-volante César Sampaio, campeão paulista em 1993 e vice em 99, dá o tom de como é vivenciar uma semana de final entre os rivais.

- Para os torcedores, a maior rivalidade está entre Palmeiras x Corinthians. Mas para os jogadores vai muito da época. O pré-jogo (do Dérbi) é muito tenso, analisa-se muito a parte estratégica, pontos fortes e fracos, a preparação de equipe. Particularmente, até de forma inconsciente, muda o emocional. Vi até uma entrevista do Felipe Melo, de que ele vai ver o jogo sozinho, porque fica muito nervoso. É um jogo que realmente mexe com o emocional na preparação. No pós-jogo, quando ganha, tem entre aspas a confirmação, é o ídolo, na padaria todos querem tirar foto. O pós-jogo de quem vence é rodeado de uma promoção. E quem perde tem de ficar em casa, não pode se expor, não pode comer fora. A vida social precisa dar uma segurada, porque infelizmente a violência e intolerância é grande, pode ter desgaste - conta Sampaio.

Quem terá de dar autógrafos na padaria e quem ficará em casa depois da partida deste domingo? Saberemos por volta das 18h, caso a decisão não vá para os pênaltis.

Toma lá, dá cá!

Há quem tenha vivido os dois lados da moeda no clássico. Entre muitos jogadores que vestiram as camisas de Palmeiras e Corinthians, o ex-volante Amaral conseguiu disputar finais pelos dois. Mas só venceu do lado alvinegro, em 99, após ser vice em 95 pelo Verdão. Apesar disso, Amaral pende mais para o lado verde da força. Ele explica e diz por que acha que o time de Roger Machado será campeão no domingo.

- Eu me identifico mais com o Palmeiras, comecei no Palmeiras, cheguei à Seleção pelo Palmeiras, joguei na Europa e até no próprio Corinthians. Mas tenho carinho muito grande pelo Corinthians, só que vou torcer pelo Palmeiras. Acho que o Palmeiras não deixa escapar esse título, porque tem a vantagem. O Palmeiras tem muitos jogadores de qualidade, muitos bons e acho que não vai para os pênaltis, não - declarou o ex-volante.

Curioso é que Amaral era corintiano na infância, inclusive ele já admitiu isso em outras entrevistas. Mas a paixão do clássico mexe mesmo com o coração. No domingo, do lado palmeirense haverá Antônio Carlos, Bruno Henrique e Willian Bigode que já vestiram a camisa do Corinthians estarão em campo. Já no Timão, o zagueiro Henrique e o volante Gabriel são os ex-palmeirenses com mais chances de jogar.

A mágoa de Elivélton

Mas nem tudo são flores e glória no clássico em finais. Há quem tenha entrado na história por fazer um gol que garantiu o título, mas não tenha recebido o reconhecimento que julgava merecido. Esse é o caso do ex-atacante Elivélton. Ele foi o autor do gol que garantiu o caneco ao Corinthians em 1995, em uma partida marcante disputada em Ribeirão Preto. O tento na prorrogação está na memória de todo corintiano, mas o coração do autor não guarda só o momento de alegria.

- Praticamente, eu cheguei lá a preço de banana. E eu fiz uma boa temporada, fui campeão paulista, da Copa do Brasil e na hora de renovar, eles (dirigentes corintianos) fizeram pouco caso. E até hoje eles nunca ligaram para falar obrigado para mim. Teve inauguração do estádio em Itaquera e nunca lembraram da gente. A minha parte fiz bem feita, da parte deles ficaram devendo. Infelizmente a mentalidade do futebol é essa - afirmou o ex-jogador, que também brilhou no São Paulo.

O esquecimento citado por Elivélton ainda mexe com ele. Tanto que ele nem tem dúvidas para quem vai torcer no domingo.

- Quando eu sai do Corinthians, eu fui direto para o Palmeiras. Tive uma passagem extraordinária. Estive no time dos 100 gols em 96, tive passagem vencedora no Palmeiras, passagem especial, me valorizaram. Fui recebido de forma carinhosa, maravilhosa. Torço para que tenha um bom espetáculo, que não tenha violência. Vai dar Palmeiras! Porque o Palmeiras está mais focado, tem o elenco mais acertado, embora o Corinthians tenha raça. Mas o Palmeiras tem a vantagem, vai ficar 1 a 0 para o Palmeiras.

Apesar da mágoa, o lance que o eternizou pelo Corinthians está gravado na memória. Não só dele como de todo corintiano que viveu a época. Resta saber qual lance ficará marcado na final deste domingo.

- Eu lembro como se fosse hoje, por mais que quem tinha de dar valor, não deu valor. Sempre passa esse gol na mídia, na internet sempre postam. Lembro que o Célio Silva subiu para bater uma falta, tinha duas opções: ou ele isolava ou mandava para fora do estádio. Ele erra o chute, a bola vai no Viola, domina meio errado, a bola sobra para o Tupãzinho, eu venho gritando, ele rola a bola, foi mel com açúcar. Aí foi só pegar de primeira e fazer o gol. E o mais bonito foi depois a torcida, o carinho que ela tem comigo, de ter a vibração deles. E poder ter visto a alegria deles depois. Explosão de alegria, aquele dia ficou marcado. A gente nunca esquece, por mais que queiram esquecer.

Domingo será a vez de mais um episódio inesquecível. Isso é Dérbi.