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'Vítima' de Ubaldo Aquino, ex-volante relembra jogo de 2001: 'Um absurdo'

25/04/2018 07h00

Depois de 17 anos, o Palmeiras volta a jogar em La Bombonera, nesta quarta-feira, às 21h45, quando visita o Boca Juniors (ARG), pela quarta rodada da fase de grupos da Libertadores. A última ida ao estádio ficou marcada para o palmeirense por conta do árbitro Ubaldo Aquino.

Na partida de ida da semifinal de 2001, o juiz paraguaio teve uma atuação contestadíssima, com direito a marcação de um pênalti que não existiu para o Boca, e a ignorar outro, este em favor do Palmeiras, após um choque entre o goleiro Córdoba e o volante Fernando.

Hoje aos 51 anos e longe do futebol, o ex-meio-campista ainda tem dificuldades para entender o que aconteceu. Mesmo tendo sido tocado pelo goleiro, o palmeirense foi advertido com o cartão amarelo, supostamente por cavar a falta, e ainda acabou expulso naquele 2 a 2. O Verdão foi eliminado nos pênaltis após outro 2 a 2 no Palestra Itália, mas Ubaldo Aquino é o personagem mais marcante para quem viveu aqueles duelos.

- Para mim foi a pior partida de se sentir. Realmente tinha alguma coisa diferente, mas dentro do jogo, no momento, como estávamos muito focados, por toda a pressão que se faz no adversário você não tem muita noção da grandeza (dos erros). Só depois você vai vendo. Foi um absurdo - critica Fernando, ao LANCE!.

Nesta entrevista, o ex-jogador relembra os acontecimentos daquela noite, quais os perigos da Bombonera e o que o Verdão precisa fazer para disparar na liderança do Grupo 8 e encaminhar a vaga às oitavas de final.

LANCE!: Na final da Libertadores de 2000 contra o Boca você era reserva, mas em 2001 esteve em campo. O que lembra daqueles confrontos?

Fernando: O Palmeiras estava muito forte. Chegou (na Libertadores) em três anos seguidos; em 1999 foi campeão, em 2000 vice, e em 2001 perdemos na semifinal. Diria que em 2001 teve uma jogada muito polêmica na Bombonera com o goleiro do Boca, que se o árbitro tivesse dado o pênalti a gente praticamente teria vencido o jogo e em São Paulo seria muito difícil o Boca nos derrotar. Não por o Boca não ter um bom time, mas porque estávamos em um momento muito bom e a gente não ia deixar passar esta oportunidade de em casa fazer o resultado.

Esta partida de 2001 é muito marcada pela atuação do árbitro Ubaldo Aquino. Qual sua avaliação do juiz naquela noite?

Eu falo que dentro do próprio jogo até por estar concentrado, nem percebemos os pequenos erros. Mas depois você vai vendo com tranquilidade os lances pela TV e foi uma coisa muito insana aquela partida. O pênalti do Boca não existiu e naquela jogada minha decisiva, ele me dá até o amarelo (risos). Uma jogada que você vê dez vezes na TV e é um pênalti muito claro, não tem dúvida. Aquilo marcou para mim, até negativamente, porque acabou que em outra jogada discuti com o atacante argentino (Barijho) e nós dois fomos expulsos, por um empurrar o outro. Fiquei muito triste de não poder ter a oportunidade de jogar o jogo de volta.

Quando você sofre o choque com o goleiro do Boca, Óscar Córdoba, fica no chão mais um tempo. O que pensou?

Eu não entendi, porque eu fui tocado e no momento por dentro até comemorei, pensando: 'nossa, é pênalti!'. Fiquei um pouco no chão e para a minha surpresa, quando virei, o árbitro estava vindo já colocando a mão no bolso. Aí eu fiquei perplexo, pensando no que ele iria fazer. Quando tirou o cartão eu não entendi nada. Para mim só bateu uma tristeza danada.

Você chegou a jogar em outra partida com o Ubaldo Aquino ou encontrou com ele depois disso?

Não, nunca mais. Quando assistia aos jogos pela TV e via que ele estava apitando, eu olhava com muito asco, mas só isso. Ainda bem que não encontrei. Foi uma coisa muito visível, muito descarada.

Quando você percebeu que ele havia prejudicado o Palmeiras?

Depois da partida fomos ao hotel, assistimos aos melhores momentos na TV. Aí você vê que foi um absurdo, deu até revolta. Ficaram todos revoltados.

Qual sua opinião para aqueles erros: uma atuação ruim do juiz ou vê alguma maldade?

Eu acho difícil falar deste assunto. Acredito muito na honestidade dos árbitros, ainda mais sendo uma competição internacional. Mas também anos depois, vieram investigações sobre o Boca ser beneficiado (nota da redação: escutas telefônicas mostraram que o então presidente da AFA, Julio Grondona, indicou o árbitro Carlos Amarilla para apitar Boca x Corinthians, na Libertadores de 2013. Sua atuação também foi muito criticada pelos brasileiros). É difícil acreditar nisso (em má fé), só que fica a sensação de que o Palmeiras poderia ter feito o que fosse lá, mas para sair com o resultado diferente seria difícil.

Para o time que entrará em campo nesta quarta, o que esperar da Bombonera?

É muita pressão, desde que você chega no estádio. A verdade é que a pressão existe desde o hotel, quando soltam fogos, depois no caminho do próprio estádio o adversário é muito hostilizado, na chegada, também. Lá foge um pouco da normalidade (risos). Até pelo local do estádio, que tem uma arquitetura diferente e que favorece uma pressão. São coisas que tornam a Bombonera diferente. E eles usam este artifício, para pressionar para árbitro e adversário. Mas isto nunca vai se mudar.

Viu o Palmeiras e Boca do Allianz?

Eu vi, mas achei um jogo pegado demais, não foi um jogo bom de assistir. Eu falo como amante do futebol, como telespectador, muito truncado, muitas faltas. Eu acho que até não foi um jogo das tradições de Palmeiras e Boca Juniors. Já tiveram jogos dentro deste contexto, desta rivalidade. O Boca entrou nitidamente para empatar a partida, jogou para empatar, e o Palmeiras muito pilhado, com um time mais técnico, superior, mas não fez um bom jogo.

Qual sua previsão para o jogo desta noite?

Eu tenho certeza que os argentinos têm ainda este lado de catimbar, sabem que às vezes nós, brasileiros, entramos muito pilhados então eles sabem tirar proveito disto. Em função disso eles jogam com muita catimba, na provocação, nos seus domínios e no Brasil. Tem de manter a tranquilidade, o Palmeiras tem jogadores experientes, um time mais técnico que o Boca, se entrar só pensando em jogar futebol, ganha com facilidade. Se quiser algo acima da competição que existe entre brasileiros e argentinos iguala o jogo.