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Lenda russa influenciou Taffarel e pode inspirar Alisson a bater recorde

27/06/2018 05h20

Nesta quarta-feira, às 15h (de Brasília), a Seleção Brasileira decide seu futuro na Copa do Mundo contra a Sérvia no belíssimo Estádio do Spartak, em Moscou. O empate garante a vaga na fase de mata-mata do torneio. Significa dizer que, daqui para a frente, a sorte do Brasil pode estar nas mãos de Alisson. Se ele não sofrer gol, a Seleção avança e pode abrir caminho para o hexa. Uma conquista que colocaria o goleiro em um patamar nunca antes atingido por arqueiros brasileiros.

Alisson luta para ser o quinto goleiro a ser campeão do mundo com a Seleção como titular. Mas se isso acontecer, será o mais jovem a atingir a consagração. Nos cinco títulos passados, os goleiros tinham pelo menos três anos a mais do que o titular de Tite, hoje com 25 anos. Gylmar dos Santos Neves venceu em 1958 com 28 anos, repetiu a dose em 62 com 32. Félix foi tri em 70 com 33, enquanto Taffarel e Marcos em 94 e 2002, respectivamente, tinham 28 anos.

Haja inspiração para tamanha missão, mas Alisson tem de onde tirar. Em particular nessa passagem por Moscou e pelo Estádio do Spartak. Aqui, um goleiro russo acumulou feitos, virou lenda e foi a maior influência para Taffarel, que hoje é o mestre de Alisson na preparação. Rinat Dasayev é o nome dele, em quem o goleiro do treta se inspirou no começo da carreira.

- Eu gostava do Dasayev, daquele jeito frio dele. Quando comecei a jogar, diziam: "Pô, você não salta na bola, é muito frio". Não é que eu tinha me espelhado no cara? Foi uma coisa natural - reconheceu Taffarel, em entrevista recente em Moscou.

Não é por menos. Na década de 1980, o ex-goleiro da extinta União Soviética foi um dos melhores, talvez o melhor em atividade. Com grande frieza e elasticidade, manteve vivo o legado de Lev Yashin, o "Aranha-Negra", goleiro soviético que revolucionou a posição na década de 50 e é apontado como o melhor de todos os tempos. Entre os feitos de Dasayev, que disputou as Copas de 82, 86 e 90, estão o de melhor goleiro do mundo em 1988, em eleição da IFFHS, muito reconhecida na época. Já em 1982, após grande atuação na Copa da Espanha, foi o goleiro melhor posicionado na lista da Bola de Ouro: sexto lugar no geral. Naquele Mundial, estreou contra o Brasil e teve atuação memorável, embora não tenha evitado a derrota de seu país por 2 a 1. Mas vendeu caro, sendo vazado apenas no fim por Sócrates e Éder. A atuação não surpreendeu os brasileiros porque, dois anos antes, já tinha mostrado seu cartão de visitas ao ser protagonista na vitória de 2 a 1 sobre a Seleção. Foi no aniversário de 30 anos do Maracanã e marcou o primeiro revés de Telê Santana no comando do Brasil.

Em seu país, foi ainda mais soberano e por isso é reconhecido nas ruas em toda parte. Eleito melhor goleiro nove vezes em dez anos. Polêmico e de forte personalidade, Dasayev construiu carreira no Spartak, dono do estádio da partida desta quarta. Uma verdadeira lenda no clube, sobre o qual exerce influência até hoje. Pelo Spartak, passou 185 jogos sem sofrer gols, uma marca absurda. Foi quem mais vezes atuou como capitão. Praticamente inigualável.

A grandeza da lenda russa é de conhecimento de Alisson, mas talvez nem ele saiba a existência de casos que os aproxima. Além de ser a inspiração do seu mestre, Dasayev chegou a ser alvo do Internacional, o clube que formou o goleiro da Seleção. No fim da década de 1980 para início de 90, o clube gaúcho tentou a contratação do russo justamente para substituir Taffarel, que tinha partido para o futebol italiano. A negociação acabou não dando certo. Outro ponto é que na infância Dasayev tinha estatura considerada baixa para um goleiro, mas aos 14 anos deu uma estirada de 14 centímetros em meses e deslanchou. O mesmo aconteceu com Alisson na base do Inter, como mostrou a série "Homens de Gelo" do LANCE!, sobre o grupo do Brasil na Copa.

Contra a Sérvia, é bem provável que Dasayev esteja no estádio em Moscou vendo Alisson, Neymar e Cia. em ação. Ele é um dos embaixadores da Rússia na Copa do Mundo. Desde o anúncio da sede, se envolve nos eventos da Fifa sobre o evento. Seria possível cravar se ele não fosse uma figura de tão difícil acesso. Meses antes da Copa, a reportagem enviou mensagem para o ex-goleiro com um pedido de entrevista. Foram muitos recados pelo WhatsApp. todos ignorados. A aversão de Dasayev por entrevistas é famosa. Assim como seus feitos, que agora inspiram o jovem goleiro brasileiro em busca da consagração na casa de Dasayev.