Bechler: Por que o apoio de Ronaldinho a Bolsonaro fere os valores do Barça
O apoio de Ronaldinho Gaúcho ao candidato do PSL à presidência, Jair Bolsonaro, não caiu bem em Barcelona e nem no Barça. Na véspera da eleição no primeiro turno, o ex-camisa 10 do clube azulgrená, ídolo da torcida e embaixador da entidade, postou uma foto com a camisa 17 da Seleção Brasileira em apoio a Bolsonaro. Nos dias seguintes, a imprensa local e o Barcelona investigaram quem é Bolsonaro e encontraram declarações machistas, homofóbicas e de apoio à tortura por parte do candidato. O discurso de Bolsonaro chocou o clube que, historicamente, defende uma bandeira e valores completamente contrários aos pregados pelo representante da extrema-direita brasileira.
Nesta terça-feira, o porta-voz do Barcelona, Josep Vives, manifestou a posição oficial do clube, dizendo que "por enquanto" Ronaldinho segue como embaixador do Barça e que o clube pode mudar sua posição futuramente.
- Nossos valores democráticos não coincidem com as palavras que escutamos sobre este candidato. De todas as formas, respeitamos a liberdade de expressão, inclusive as palavras de Ronaldinho.
Em seus 119 anos de história, o Barça foi um símbolo de resistência democrática dentro da Espanha. Em 1936, seu então presidente Josep Suñol i Garriga foi fuzilado pelas tropas do futuro ditador Francisco Franco. No período da ditadura, o Barça precisou mudar o seu nome (de Futbol Club Barcelona para Club de Futbol Barcelona) e o Camp Nou era um dos poucos lugares públicos onde o catalão era permitido.
No primeiro clássico contra o Real Madrid após a morte do general, houve uma "chuva de bandeiras catalãs" no Camp Nou, enfatizando a vocação democrática e antiviolência e opressão do clube e de seus torcedores.
Ainda hoje o clube carrega e se orgulha do lema "Mais que um clube", exatamente por pretender defender valores que extrapolem o jogo dentro de campo. O Barcelona não se manifesta abertamente sobre o processo de independência na Catalunha, mas sempre defende o diálogo e a democracia como solução para as divergências.
É normal ver no Camp Nou torcedores com o laço amarelo, um protesto contra os catalães independentistas presos no ano passado pela polícia espanhola. Em todos os jogos, no minuto 17, grita-se "Independência" e depois "Liberdade aos presos políticos".
Exatamente por todo esse discurso (ainda que nem sempre colocado em prática, uma vez que o clube aceitou ser patrocinado pela Qatar Airways, uma companhia controlada pela família real do Qatar, que estabelece uma ditadura no país), o apoio de Ronaldinho se mostra incompatível para um embaixador.
O Barcelona entende que o discurso de Bolsonaro, que já disse "Eu sou favorável à tortura" ou "O erro da ditadura foi torturar e não matar" é ofensivo à história vivida pelo próprio clube.
Além disso, o Barça sempre foi uma instituição com uma participação muito importante dos sócios. Grandes mudanças passam até hoje por votação e o clube propaga a ideia de democracia, algo não defendido por Jair Bolsonaro em frases como "O voto não vai mudar nada nesse país. O país só vai mudar o dia que partirmos para uma guerra e fazendo um trabalho que o regime militar não fez, matando uns 30 mil".
No ano passado, durante a votação pelo referendo da independência catalã, o clube jogou de portões fechados contra o Las Palmas para protestar pela violência da polícia contra os eleitores que tentavam participar da votação. Após a partida o zagueiro Gerard Piqué chorou frente as câmeras dizendo que se tratavam de "pessoas boas e pacíficas e que apenas queriam votar".
A imprensa em Barcelona também se escandalizou com o apoio de Ronaldinho ao candidato com um discurso tão controverso. O jornal Sport falou que as amizades de Roonie são "perigosas" e a respeitada jornalista Gemma Herrero escreveu uma carta intitulada "Hemos roto" (Terminamos) para o ex-craque brasileiro.
O Barcelona irá "observar com atenção", como diz o Diário ABC, o apoio de Ronaldinho a Bolsonaro e as relações podem ser rompidas a qualquer momento.
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