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Presidente da Fifa acobertou fraudes financeiras de City e PSG, diz site

Infantino negociou pessoalmente para que City e PSG burlassem o Fair Play Financeiro - Alexander Hassenstein - FIFA/Getty Images
Infantino negociou pessoalmente para que City e PSG burlassem o Fair Play Financeiro Imagem: Alexander Hassenstein - FIFA/Getty Images

02/11/2018 15h20

O site Football Leaks, por meio de 15 veículos de mídia europeus, revelou, nesta sexta-feira (2), uma denúncia contra o presidente da Fifa, Gianni Infantino. De acordo com as publicações, o dirigente, então secretário-geral da Uefa, acobertou os casos das fraudes de Manchester City e PSG no Fair-Play Financeiro imposto pela entidade.

O caso aconteceu em 2015 e os presidentes, ainda de acordo com a publicação, se reuniram para acordar o acobertamento da UEFA no caso. Assim, os clubes foram poupados de serem punidos de competições europeias e até mesmo inscreverem jogadores.

O Fair-Play Financeiro permite investimento externo, mas estabelece um valor máximo de 15 milhões de euros (R$ 63,1 milhões). Só em 2015, o PSG recebeu 100 milhões de euros (R$ 421 milhões) de investidores do Catar. Enquanto isso, o Manchester City recebeu 26 milhões de euros (R$ 109,4 milhões) a mais do que o escrito no contrato.

Os documentos da investigação foram obtidos pelo site Football Leaks, que trabalhou em conjunto com o coletivo European Investigative Collaboration (EIC), cuja apuração envolveu 15 veículos de mídia e cerca de 80 jornalistas de 13 países diferentes.

Desde 2010, o Manchester City é controlado pelo xeque Mansour bin Zayed Al Nahyan, irmão de Mohammed bin Zayed Al Nahyan, príncipe herdeiro e quem efetivamente governa os Abu Dhabi. O PSG, por sua vez, foi comprado em 2011 pela Qatar Sports Investments, comandada pelo Emir do xeque do Qatar Tamim bin Hamad Al Thani.

A partir de investigações preliminares, a Uefa descobriu que os dois times estavam burlando o Fair Play Financeiro a partir de contratos de patrocínio superfaturados. Por exemplo, em contrato, a Autoridade de Turismo do Qatar pagaria ao PSG entre 700 milhões de euros e 1,125 bilhões de euros (entre R$ 2,9 bilhões e R$ 4,7 bilhões) por cinco anos. As apurações da entidade europeia, no entanto, confirmaram que os contratos, que deveriam render cerca de 200 milhões de euros (R$ 842,1 milhões) por ano, na verdade, eram entre 3 milhões de euros e 5 milhões de euros (entre R$ 12,6 milhões e R$ 21 milhões).

Após a exclusão destes contratos valorizados dos balanços dos clubes, as dívidas superaram em muito o máximo permitido pelo Fair Play Financeiro da Uefa, estipulado em até 5 milhões de euros (R$ 21 milhões). Caso confirmado esse deficit, clubes podem ser excluídos da Liga dos Campeões ou da Liga Europa.

Antes de qualquer punição aos dois clubes, o Corpo de Controle Financeiro dos Clubes (CFCB, na sigla em inglês) resolveu negociar pessoalmente com os clubes uma maneira de mantê-los isentos. Neste momento, segundo as investigações, entrou em cena Gianni Infantino, então secretário-geral da Uefa, que assumiria a presidência da Fifa em 2015.

Com o PSG, Infantino permitiu que o clube continuasse recebendo 100 milhões de euros (R$ 421 milhões) de um fundo qatariano, bem acima do limite do seu valor de mercado. Em contrapartida, a equipe pagaria uma multa compensatória e se comprometeria a reduzir o deficit anual.

Já o Manchester City, que tinha deficit de 233 milhões de euros (R$ 981,07 milhões), obteve permissão para receber acordos de patrocínio acima do limite pelo seu valor de mercado. As reuniões e os acordos foram mantidos em segredo pela Uefa e pelos clubes.

Punições e exclusões no leste europeu

Enquanto costurava acordos para manter os dois gigantes em suas competições, a Uefa perseguiu e puniu oito clubes romenos e cinco turcos por deficit muito menores do que os de PSG e Manchester City.

Na Romênia, por exemplo, os deficits dos clubes somavam cerca de 2,6 milhões de euros (R$ 10,95 milhões). O CFCB julgou os casos e aconselhou multas e expulsões dessas equipes dos torneios continentais. O único clube que não recebeu uma punição automática da câmara de Uefa foi o Botosani, cuja dívida era de 20 mil euros (R$ 84,2 mil).

Repostas

Em nota divulgada antes da partida desta sexta-feira (2), contra o Lille, no Parque dos Príncipes, o Paris Saint-Germain afirmou que "sempre atuou em absoluta conformidade com as leis e regulamentos emitidos por instituições esportivas". "O clube sempre cumpriu rigorosamente as leis e regulamentos em vigor e nega veementemente as alegações publicadas hoje", acrescentou.

Sobre as negociações com o CFCB, o clube alegou que "os intercâmbios com os membros do corpo são feitos dentro do quadro previsto pelos estatutos da UEFA. Nesta base, a UEFA decide de forma independente. A gravidade das decisões tomadas sobre o Paris Saint-Germain demonstra isso."

À reportagem da plataforma romena Black Sea, um dos parceiros que publicaram os documentos nesta sexta, Infantino negou sua participação nas negociações.

Ferran Soriano, então CEO do Manchester City, e quem teria participado de uma reunião com Infantino em Londres, em 2014, não respondeu aos contatos feitos pelo site.